Realinhamento Na Guerra Morna
Há casos de opções de política externa que deitam a perder o prestígio de um governante junto dos seus apoiantes. Um episódio célebre foi o de Mussolini, prestigiadíssimo no seu País, quer junto dos que acreditavam no ideário do programa governativo do unitário Partido Nacional-Fascista, quer nos que, simplesmente, dele gostavam por ter feito com que «os comboios cumprissem os horários». Mas no dia em que o Duce foi arengar a uma multidão predisposta ao aplauso, para dar a nova da entrada na guerra contra os EUA, os próprios apoiantes iminentes acolheram-no com um silêncio glacial. Todos os afectos dos italianos eram dirigidos para o lado de lá do Atlântico, onde muitos tinham família.
Nos últimos dias verificámos a natural ultrapassagem de uma aliança contra-natura, provocada pela retórica pretensamente não-alinhada de um estadista traiçoeiro como Nehru, que, de facto, funcionou como aliado da URSS, durante a Guerra Fria, contra a aposta norte-americana no Paquistão. A situação, nos dias de hoje, não tinha mais razão de ser. Não só o País em que o Presidente Bush é mais popular é a União Indiana, como, nos próprios Estados Unidos, se generaliza, num público, contudo, pouco atento à cena internacional, a ideia de que a aliança paquistanesa não é segura, pois, fora do pouco aceite governo, é nessa Nação que se encontram dos piores viveiros fundamentalistas anti-ocidentais. Para além das preferências dos povos há o imperativo geoestratégico. A única potência capaz de manter em respeito a China que os sobrinhos de Sam começam a temer é, justamente a arqui-rival Índia. Assim se justifica o estatuto de claro favor e conveniência comercial, agora estabelecido, com a larga definição de fronteiras entre o nuclear de uso civil e militar. Daí que já tenham surgido reacções de nervosismo de Pequim, invocando a "Lei Internacional", em cuja observância o respectivo governo é escrupulosíssimo, como atesta o Caso Tibete, para mais longe não irmos. E em Islamabad já deve haver governantes a fazer as malas, figura de estilo para significar a abertura de contas no estrangeiro...
3 Comments:
At 4:06 PM, Flávio Santos said…
Excelente análise. Ao contrário de outras partes do mundo, os EUA conseguem com a Índia e o Paquistão fazer uma política equilibrada (e inteligente), num cenário precaríssimo. E até foram eles que resolveram a bem há uns anos a questão dos ensaios nucleares alternados entre os dois vizinhos desavindos.
At 5:09 PM, Ricardo António Alves said…
Também concordo com a tua análise. Situação tão preocupante como apaixonante de observar...
At 7:19 PM, Paulo Cunha Porto said…
E, Meu Caro FG Santos, se é verdade que se trata de uma vitória importante para Washington e Delhi, gostaria de estar bem enganado quanto ao futuro próximo da governação paquistanesa. É que esses só podem virar-se para a China, que não me parece estar muito interessada em intervir lá, para manter governos no poder. Ora, todos sabemos quem é que esfrega as mãos, dentro do Mundo Islâmico, com as dificuldades do Presidente do Paquistão...
Meu Caro RAA:
Se, ao menos, fosse zona menos povoada...
Se, ao menos, fossem nações desnuclearizadas...
Se, ao menos, fosse em Marte...
Ai, meu Amigo, temo que venham aí tempos difíceis...
Abraços aos Dois.
Post a Comment
<< Home