O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, March 03, 2006

Leitura Matinal -284

Qualquer homem tem a tentação de agigantar a imagem que faz de si
com a identificação dirigida à totalidade do Ciclo Universal de que é parte. Os poetas são homens, tão comuns como os outros, embora, por vezes, disfarçando-o por detrás do talento, ou do que por ele passe. Por isso não é de pasmar que haja alguma tendência para a megalomania de arriscar a comparação do poema
que cria com o mais impositivo elemento da Criação, o Astro-Rei.
É que o Sol desempenha também um papel fulcral na obra criadora, o que faz qualquer escrevinhador de versos desejar, para si, uma imodesta colagem à função do Divino Criador, como, para a sua obra, a rotulação de fecundidade que influa decisivamente nas restantes vidas. Assim como o ventre materno é um mediador, também a folha em que

a escrita venha a explanar-se será o elemento humano intermédio que o eleva ao Mais Alto estatuto. E não nos deixemos enganar, a adoração pretendida para a obra é apenas eufenismo da que deseja para si. Porque quem faz tem, nas mais das vezes o desejo da gratificação. É o drama dos vates. Quereriam, no mínimo, o pagamento que é a veneração. Normalmente não conseguem mais do que uma gorjeta, que é a apreciação de um crítico.
Do recentemente falecido António Gancho:

Poésie

Esta manhã em que o Sol observa a Terra
o poema nasce feliz e é devidamente adorado
Nasce o Sol e nasce o poema
e com esta simultaneidade
quer o poeta significar que a sua arte é luz.
Esta manhã o poema nasce no ventre do papel
e nasce o Sol no horizonte do papel


Por simultaneidades, postado com «Os Cavalos do Sol»,
de Gaspard Marsy, «Poema», de Barbara Kerstetter e
«A Poesia da Luz», que está na Biblioteca do Congresso
Norte-Americano.

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