Homenzinhos
A tentativa de os estudantes universitários e liceais franceses que ocuparam as respectivas instalações escolares se compararem aos de Maio de 1968 não pegou. E isto porque as suas forças são também as suas fraquezas. Ao insurgirem-se contra a implementação do Contrat Première Embauche, que submeteria os menores de 26 anos a um período experimental de dois, estão a desenvolver uma luta que tem por base interesses exclusivos e não a contestação global de uma sociedade. Se é certo que podem grangear o apoio das respectivas famílias, preocupadas com a procura de uma saída profissional para os rebentos, perdem em força mobilizadora, pois não pretendem uma revisão generalista do modo de vida dos maiores. A primeira causa dos "revolucionários" da viragem da década de 1960 para 1970 era a liberalização do acesso dos rapazes às residências das estudantes, o que jogava com a concretização da sexualidade, uma luta compreensível por todos, mesmo pelos que elegem como conveniente o levantamento de obstáculos à dita. Os de hoje querem apenas manter as facilidades de início de carreira, o que, no mundo individualista que vigora, é tido por interesse corporativo, cuja defesa cabe, exclusivamente, aos concernidos. Mas, para além da imagem de generosidade da luta e de naturalismo da causa, apresentam outra falha estrutural: são vistos como os defensores de um privilégio, enquanto que os seus Papás eram propagandeados como lutadores reivindicativos. A diferença de imagem é pouco menos que fatal. E, ao não compreenderem a distinção, mostram nada do que está em jogo serem capazes de perceber.
6 Comments:
At 7:04 PM, Anonymous said…
Miúdos mimados...Parecem os nossos, a lutar (ingloriamente) pela abolição das propinas...
At 7:09 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro TSantos: e o ponto aqui é que se invocam como a actualização de causas bem diversas. Brincar com as palavras devia ser penalizado.
Abraço.
At 10:00 PM, Zé Maria said…
Meu caro Paulo:
Creio bem que, apesar de continuar a pensar que a juventude é sempre um motor necessário para fazer andar os ventos da história, quer pela sua irrequietude, espontaneidade, generosidade, etc., estou de acordo consigo quanto a este caso. De facto, não poderemos fazer comparações. É que quando o que está em causa mais parecem ser alguns privilégios, deixa de existir a generosa visão de um mundo diferente.
Mas já agora, não queria de deixar igualmente de referir que também seria importante reflectir sobre algumas leis que hoje se querem impôr nas nossas sociedades. Lá voltaremos de certeza mais tarde.
Um grande abraço
At 11:25 PM, Paulo Cunha Porto said…
Lá iremos, certamente. Note-se, Caro Zé Maria que não considero a legislação que agora é pomo da discórdia, como a bondade legislada. Apenas quis chamar a atenção para o que muito bem diz, que é a inaceitabilidade de comparar o incomparável.
Grande abraço.
At 11:30 PM, vs said…
"...deixa de existir a generosa visão de um mundo diferente."
É isso mesmo meu caro Zé Maria: uma visão.
Uma miragem!
O mundo é o que é e, à conta de utopias diversas (e respectivos 'Homens Novos'), já correram rios de sangue e provocaram-se calamidades e crueldades sem igual.
Afinal, foi essa a realidade constante do sec.XX, o mais violento e cruel da História humana.
Quando o Homem se deixar de Utopias e se 'reconciliar' com a sua própria Natureza....estou certo que as coisas começarão a correr melhor.
Aqueles meninos e meninas que andam em França a provocar desacatos e mais os arruaceiros de Milão não devem ser tidos em grande consideração nem se lhes deve dar demasiado 'tempo de antena'.
Afinal de contas, estes 'revolucionários' são daqueles que, ao chegar aos 30, o papá (que até é cheio da 'nota') lhes corta a mesada e puff....acabou-se a revolução.
Fazem a barba com uma tesoura da poda, desfazem as rastas, ficam de molhp 72 horas (pelo menos) numa banheira.....et voilá!
É vê-los depois, transmutados, ao volante de uma bela voiture (acompanhados por uma panóplia de telemoveis), todos janotas e 'engomados', a caminho do 'tacho'.
ps-Os que andam aos pinotes nas ruas de França nem são os que vão 'sofrer' mesmo com a nova Lei.
Esses, os verdadeiros visados, não têm tempo para esses 'Luxos' burgueses, pois têm de trabalhar e ainda acabavam.....despedidos.
At 11:34 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Nelson: um galho seco mais para o fogo: já estão a pensar no tacho.
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