Sempre Vivo!
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Depois de uma recordação triste, lembrança mais alegre. Henry James faria anos hoje. Com Eliot e Pound, um dos grandes americanos renegados que se europeizaram, sem o equilíbrio do primeiro, ou o afrontamento das opções do Autor dos «CANTOS». James optou por ser mais british do que os cavalheiros ingleses, seu estimável ideal. Contam-se anedotas míticas dele, como Chesterton, na «AUTOBIOGRAFIA», sobre o que lhe terá ido na alma quando, ao tomar chá, sempre exaustivamente by the book, viu irromper pelo salão Belloc, então deputado, acompanhado de uma amigo diplomata, ambos esfomeados por dois dias de regresso de viagem a França em que o dinheiro para os gastos fora mais curto do que o previsto. Seria tudo, diz G.K., menos a ideia que ele faria de um membro do parlamento, ou de um alto funcionário do Foreign Office. Mas foi muito mais do que isso. As suas short stories são a perfeição estilística postas ao serviço das abstenções significantes. Falo de «OS MANUSCRITOS DE JEFFREY ASPERN», de «A FIGURA NO TAPETE» e do que amo sobre todos, «A FERA NA SELVA». A cada um deles corresponde uma incompletude de sentimentos ou de confiança recondutível a uma contenção. Mas também gosto dos seus romances. O «RETRATO DE UMA SENHORA», que deu origem a filme competentemente interpretado por Kidman, porém com a pecha da mutilação do personagem do mau da fita, muito mais complexo no livro. Como gosto da «PRINCESS CASAMASSIMA», ou de «THE AMBASSADORS», este último parecendo querer justificar a fama de os protagonistas romanescos jamesianos passarem horas e horas de dúvidas, antes de decidirem se acendem ou não um cigarro. Mas não fazia ele outra coisa do que ser coerente com o que foi na vida: um formalista extremo, confiante em que a adstrição à norma seria o melhor meio de evitar mágoas ou remorsos. Entendimento duro, por certo; mas há quem tenha muito menos razão.
Depois de uma recordação triste, lembrança mais alegre. Henry James faria anos hoje. Com Eliot e Pound, um dos grandes americanos renegados que se europeizaram, sem o equilíbrio do primeiro, ou o afrontamento das opções do Autor dos «CANTOS». James optou por ser mais british do que os cavalheiros ingleses, seu estimável ideal. Contam-se anedotas míticas dele, como Chesterton, na «AUTOBIOGRAFIA», sobre o que lhe terá ido na alma quando, ao tomar chá, sempre exaustivamente by the book, viu irromper pelo salão Belloc, então deputado, acompanhado de uma amigo diplomata, ambos esfomeados por dois dias de regresso de viagem a França em que o dinheiro para os gastos fora mais curto do que o previsto. Seria tudo, diz G.K., menos a ideia que ele faria de um membro do parlamento, ou de um alto funcionário do Foreign Office. Mas foi muito mais do que isso. As suas short stories são a perfeição estilística postas ao serviço das abstenções significantes. Falo de «OS MANUSCRITOS DE JEFFREY ASPERN», de «A FIGURA NO TAPETE» e do que amo sobre todos, «A FERA NA SELVA». A cada um deles corresponde uma incompletude de sentimentos ou de confiança recondutível a uma contenção. Mas também gosto dos seus romances. O «RETRATO DE UMA SENHORA», que deu origem a filme competentemente interpretado por Kidman, porém com a pecha da mutilação do personagem do mau da fita, muito mais complexo no livro. Como gosto da «PRINCESS CASAMASSIMA», ou de «THE AMBASSADORS», este último parecendo querer justificar a fama de os protagonistas romanescos jamesianos passarem horas e horas de dúvidas, antes de decidirem se acendem ou não um cigarro. Mas não fazia ele outra coisa do que ser coerente com o que foi na vida: um formalista extremo, confiante em que a adstrição à norma seria o melhor meio de evitar mágoas ou remorsos. Entendimento duro, por certo; mas há quem tenha muito menos razão.
6 Comments:
At 7:32 PM, Anonymous said…
Ha fallecido el gran profesor don Alonso Zamora Vicente, otro hombre sabio y humilde, al estilo del Almirante Gago Coutinho
At 8:33 PM, Paulo Cunha Porto said…
Não tenho referências, Caríssimo, mas vinda de Si a informação, estou certo de que se tratava de um Homem bom e meritório. Apresento-Lhe pois as minhas condolências.
Ab.
At 12:04 AM, Jansenista said…
Curioso, ainda hoje aparecia no Ashram uma gravura do Mont Saint Michel, sobre o qual Henry James escreveu páginas absolutamente mágicas...
At 9:04 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Jansenista:
nunca li os escritos de James sobre a mítica abadia da península. Gostaria de fazê-lo, até para confrontar com as vistas expostas a pretexto dela por um outro grande americano desalinhado: Henry Adams...
Ab.
At 7:11 PM, Jansenista said…
Aquela hora confundi os 2...
At 8:12 PM, Paulo Cunha Porto said…
Ah! Então dou-Lhe inteira razão, Caro Jansenista, esse escrito mítico em que Chartres também está na berra é um prodígio de erudição, sagacidade e potenciação de uma pela outra. Absolutamente imperdível!
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