Leitura Matinal -276
Cada ser humano é devorado pelo Tempo de forma tão dura mas não
necessariamente tão condensadamente triturante como a mastigação de Cronos. É antes um deslizar a que não nos podemos opor; e o nosso desgosto face a essa impotência é que determina as imagens torturantes que atribuímos a tão contínuo involuir. A mais eficaz forma que conhecemos de parar esse fluxo irremediável é o Amor, quer como rememoração dos grandes momentos,
quer como monopolista da nossa atenção, em que sada acto corresponde, fisicamente, ao deleite e, no campo espiritual, à correlata suspensão da torrente que, em volta, parece continuar a tudo arrastar, deixando-nos - e ao Amado - no isolamento salvífico da mais bela das ilusões, convertendo em muralha inquebrantável a absorção total.
Cada Beijo, exprimamos o Todo pela parte, é, pois, não só o momento oportuno, igualmente a libertação do que queremos ver como espontaneidade, única forma segura de matarmos o Tempo, fora dos corriqueiros entretenimentos com que procuramos... matar o tempo. Porque temos a certeza, certa ou errada que um impensado Futuro demonstrará, de ser esse mergulho no instante o melhor de nós, raro activo que temos a contrapor a outros instintos menos bons, cujo reconhecimento é o que, verdadeiramente, tememos na aproximação do Fim.
De Carlos Alfredo Couto Amaral:
AMOR NO TEMPO
......Volta com o sorriso
......ao canto da memória.
O mundo renasce de madrugada,
abrindo a porta ao Cairos,
o oportuno,
em combate a Cronos,
o tempo que devora
os filhos do presente.
Na ilha do tempo:
sentei-me ao teu lado,
sorrimos e entendemos
a simbólica do olhar.
Criou-se a oportunidade,
soltando o ladrão
do sentimento,
derretendo o licor
dos lábios
num beijo.
Com «Os Filhos de Cronos», de Victor Haegea,
«O Beijo», de Frank Santer e «Kairos», de Wayne
Forte.
necessariamente tão condensadamente triturante como a mastigação de Cronos. É antes um deslizar a que não nos podemos opor; e o nosso desgosto face a essa impotência é que determina as imagens torturantes que atribuímos a tão contínuo involuir. A mais eficaz forma que conhecemos de parar esse fluxo irremediável é o Amor, quer como rememoração dos grandes momentos,
quer como monopolista da nossa atenção, em que sada acto corresponde, fisicamente, ao deleite e, no campo espiritual, à correlata suspensão da torrente que, em volta, parece continuar a tudo arrastar, deixando-nos - e ao Amado - no isolamento salvífico da mais bela das ilusões, convertendo em muralha inquebrantável a absorção total.
Cada Beijo, exprimamos o Todo pela parte, é, pois, não só o momento oportuno, igualmente a libertação do que queremos ver como espontaneidade, única forma segura de matarmos o Tempo, fora dos corriqueiros entretenimentos com que procuramos... matar o tempo. Porque temos a certeza, certa ou errada que um impensado Futuro demonstrará, de ser esse mergulho no instante o melhor de nós, raro activo que temos a contrapor a outros instintos menos bons, cujo reconhecimento é o que, verdadeiramente, tememos na aproximação do Fim.
De Carlos Alfredo Couto Amaral:
AMOR NO TEMPO
......Volta com o sorriso
......ao canto da memória.
O mundo renasce de madrugada,
abrindo a porta ao Cairos,
o oportuno,
em combate a Cronos,
o tempo que devora
os filhos do presente.
Na ilha do tempo:
sentei-me ao teu lado,
sorrimos e entendemos
a simbólica do olhar.
Criou-se a oportunidade,
soltando o ladrão
do sentimento,
derretendo o licor
dos lábios
num beijo.
Com «Os Filhos de Cronos», de Victor Haegea,
«O Beijo», de Frank Santer e «Kairos», de Wayne
Forte.
7 Comments:
At 1:41 PM, Anonymous said…
"Derretendo o licor"...só se for um porto, maduro e doce;)
hummmm
At 7:20 PM, Paulo Cunha Porto said…
A modéstia, em que, reconhecidamente, abundo, impede-me de comentar a primeira observação.
Babel:
Também uma maneira de tentar o drible ao Fim, é certo.
At 8:27 PM, Maria Carvalhosa said…
Só o Amor tem a capacidade de nos fazer crer que o tempo pode parar. Para nossa infelicidade, até Ele tem um Fim. Auto-citando-(me), - passe a redundância - e porque a modéstia não mora aqui: "que o tempo, carrasco implacável, saiba ser,simultaneamente, guardião das memórias de um amor feliz!"
Bjs.
At 8:42 PM, Anonymous said…
Modesto, maduro e doce?
At 9:13 AM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Maria: era precisamente essa ambivalência que quis salientar. Bem como a conexão à memória. Beijinho.
At 9:19 PM, Viajante said…
O Tempo, o lembrado e o esquecido.
Ou os fundamentos esquecidos do lembrado.
Paragem da voracidade do tempo, na imobilidade do Amor? hum...e da Arte?
E beijar não mata o tempo, suspende-o.
:))
beijo.
At 3:40 PM, Paulo Cunha Porto said…
Mas a suspensão não será a única forma de, momentaneamente, pensarmos que o Tempo é incapaz de nos matar?
A Arte e o Amor, sim, até porque este também requer arte.
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