O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Thursday, January 12, 2006

Leitura Matinal -236

Se não convirá esbater, clinicamente, a fronteira entre a loucura e a sanidade, já no campo das apreciações feitas no dia a dia esse muro é mais que diáfano, por muito que as solidaridades grupais se esforcem por acentuá-lo, nos casos que escapam à sua
tirania. Como nos nossos dias a pele socialsofre de hipersensibilidade, ao constatar um riso individual que tome a forma de vida generalizada por alvo, as alianças forçadas e ocasionais dos que assim são troçados procuram fortalecer-se com a rotulação daquele que se atreveu a troçar, por vezes apenas pela insistência em se não deixar despersonalizar, como «louco».

O que, se a repugnância que originou a hostilidade é realmente séria, pouco deve importar ao diagnosticado, na medida em que, a seus olhos, a lucidez não mora pela vida ordenada e desinfectada ao ponto de já não conseguir criar anticorpos contra as pequenas ameaças nocivas que a ensombram. Como os múltiplos pavores partilhados, que a televisão e a moda determinam, ou o supremo de entre eles, o de conviver sem constrangimentos com os que, sobretudo se interiormente, não sigam a norma.
A altura propícia à solidão desejada nasce, por conseguinte, da paradoxal marginalização que não o desejaria ser, pois vê o afastamento individual como uma derrota, face à expectativa que era impor o padrão. O mais do que acompanhado solitário, por seu turno, vê a existencialidade desejável como o que ela é, o seu caminho de ir para diante, por estrada diferente, orientação intermédia entre os cordatos tons da pasmaceira dominante, ou as desesperadas, porque sofridas, contestações de Existências várias, em filosófico sentido. E não pode deixar de constatar que o seu caminho, na companhia do que lhe é fiel, é o ponto de verdadeiro equilíbrio, quando comparado com a sandice aterrorizada e aterradora de um e outro desses extremos.
De Emanuel de Sousa:

Chamaram-me louco e louco sabia-me entre risos e razões. mas
não me importava. a vida era enlatada de forma asséptica e fora
educada pelo medo dos outros e das doenças incuráveis.

chamaram-me louco, um pouco mais do que era. e não me julgava
nesse sentir. tinha apenas um cão. um riso incurável e o
desejo de existir.

chamaram-me. era noite. a lua asfaltou de branco o mar. e fui
com o cão...................................a abanar a cauda.


Sugeriu-me a leitura, para além da lata da vida e a da morte,
«A Indiferença», de Daniel Joux, «Cão Ladrando à Lua», de Miró
e «Existência», de David Ehlen.

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