O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, January 11, 2006

Leitura Matinal -235

A nossa necessidade interior de viajar, estimulada pela aspiração de encontrar novos sentidos na fatalidade do que há de universal no Homem,
condena-nos à tremenda luta com as dificuldades supremas, que não advêm da vitória sobre os obstáculos do percurso, nem sequer das blindagens espirituais às revelações que, por sua parte, também insistem em se não desvelar. Assentam, sim, no combate pela verbalização das descobertas,
desprovidos que nos encontramos do léxico e do critério capazes de dar plena conta dos nossos achados, a um mundo de provisório regresso, em que tardamos em encontrar interlocutores que nos queiram ouvir. Com efeito, se escaldados pela incomunicabilidade antecedente, procuramos o emprego de expressões mais duras, que possam chamar a atenção para as nossas reformulações do que fomos encontrando,
esbarramos frequentemente na hostilidade dos potenciais auditores, como que insistindo em proteger-se contra as palavras fortes, tanto quanto reprovadores do nosso método, dado que umas e o outro aparecem como desestabilizadores da tranquilidade superficial dos artifícios simplórios em que boiam. Condenação a uma nova partida, com o recomeço do eterno e infindável ciclo, sem que nos seja apontado aonde levará. Mas a suprema resistência de que A Alma Ilustre gosta está em não desistir.
De Amadeu Baptista:

Muito em breve irei pertencer a outra dimensão da terra.
Eu espero todos os continentes e rodos os glaciares,
aguardo inequivocamente todos os céus onde hei-de encontrar
a impaciência do homem na solidâo do mundo.
De novo anseio palavras elementares para descrever a viagem.
Todas as palavras que alguma vez usei são escassas
após o regresso para nova partida.
Procuro agora palavras cortantes como uma lâmina, inquietas
como uma ave, secretas como o olhar
de quem me julga e condena.


Com o auxílio imagético da «Solidão da Consciência», de
Chingkean Chen, o amuleto que afasta as palavras duras
e «Impaciência», de Igor Pose.

5 Comments:

  • At 10:53 AM, Blogger Jansenista said…

    Andamos um pouco ousados com esse "Impaciência", não?
    Respeitosamente, O Censor de Port-Royal

     
  • At 11:01 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Submeto-me e coloco o texto sob o carimbo que indica o corte de tão excelso Censor.
    Mas é que... Port-Royal talvez fosse uma ilha. E tinha decerto a consciência de o ser, ou tentar ser...
    Ab.

     
  • At 12:46 PM, Blogger João Villalobos said…

    Penso que o jansenista falava da imagem e não do texto. Eu, de facto, apenas consigo ver ali um sexo feminino aguardando pacientemente. Mas nestas coisas, é sempre preferível a explicação do autor a uma interpretações perversa e doentia como a minha :)

     
  • At 3:31 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Vou chorar um bocadinho. O Grande Jansenista já confirmou. E tenho que desabafar: então era só isso?
    Pensava eu que ideia desenvolvida por mim tivesse suscitado a cauta reserva. Ora, sossegai-vos, é ver, em vez da dita interpretação, sei lá, o Demónio da impaciência de asas abertas, com apoio no cromatismo dominante...

     
  • At 5:34 PM, Blogger Jansenista said…

    Nunca me atreveria a arremeter contra um texto tão bem referenciado (lembra-me as minhas lentas e intermitentes leituras de Peter Green, em especial o colossal Alexander to Actium). Quanto à insularidade, nem real nem ficcionada, depois que um antepassado nosso andou a fazer tristes figuras servindo o Tirano de Siracusa evitamos "insular-nos", e desviámos as defesas para uma concentração empenhada no solo do continente.

     

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