O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, January 11, 2006

As Igualdades Fenecidas

A combinação do que o JSM disse, num post, sobre a razão da sucesão da Monarquia às Repúblicas que lhe sucederam, com as declarações de Manuel Alegre, segundo as quais, para ele, os Portugueses eram todos iguais, trouxe-me à memória o pensamento da igualdade no Mundo Helénico. E a sua influência nas formas de governo.
E assim comecei por relembrar que as mudanças radicais, inicialmente, se limitavam a uma simples substituição das aristocracias tradicionalmente dominadoras das polei por outras oligarquias, suportes dos tiranos, as quais por determinação destes, através do casamento forçado a que as Mulheres dos depostos eram sujeitas, herdavam as posses e os graus de participação no poder daqueles, tais quais.
Até que, durante o Período Helenístico, época de crise por falta da Excelência, surgiram utopias várias, propondo graus de igualização diversos, mas que, ou assentavam em libertações pontuais de certos escravos, permanecendo a instituição, ou se limitavam a redistribuições de terras ou de poderes que mantivessem as classes sociais. Exemplos são Hipodamo de Mileto mais a da Ilha da Pancaia, que até nós chegou graças a Diodoro Sículo, quanto à primeira; e Faleas da Calcedónia, no que à segunda respeita.
Duas experiências concretas tiveram lugar na Antiguidade, com redistribuições funcionando contra os grandes proprietários rurais. A de Tibério Graco em Roma e a dos Reis de Esparta, com a igualdade e simplicidade impostas à classe guerreira e governamental dos homoioi. Mas aqui as razões ficaram a dever-se à fraqueza militar em que o regime de grandes terratenências ameaçava colocar a comunidade.
Verdadeira concepção da igualdade entre os homens como um bem somente podemos encontrar na jamboliana utopia avant la lettre que nos foi transmitida pelo supra-citado Diodoro, que acreditava, verdadeiramente, ser o Sol é igual para todos, ao ponto de baptizar o seu local mítico como as ilhas do Sol, próximas da Idade de Ouro de Hesíodo, nas quais os homens tudo tinham em comum, bens materiais, Mulheres e filhos, assim como... beleza e longevidade - até aos 150 anos!
Depressa se viu, porém, o quão falaciosa era a teoria. E passou-se então ao único igualitarismo que procede: o da submissão de todos ao Poder de um Rei, que para todos governa. Não já ao de uma classe que o fizesse para si, ou ao de todos, que o mesmo é dizer ninguém. Por isso, nessa época, a reacção contra a decadência encarnou na Instituição Real, não tendo sido poucos os Monarcas que adoptaram o Sol como símbolo, até Alexandre, que, tendo começado por ser disso o expoente máximo, acabou tansformando-se na mais radical subversão da Realeza Nacional. Seria bom que em tempos de declínio similar olhássemos para as lições do Passado.

5 Comments:

  • At 2:04 PM, Blogger Jansenista said…

    Que pessimismo antropológico! Aqui no Ashram somos todos irmãos naquilo em que interessa sê-lo; ou seja, não cometemos a "falácia naturalística" de fazermos das nossas diferenças motivos de valoração discriminatória (ou como dizia o nosso patriarca Hume, não vamos do ser para o dever-ser).
    E sim, o comantárioinfra não era ao belíssimo texto, mas à imagem...

     
  • At 3:04 PM, Blogger JSM said…

    Caro Paulo Cunha Porto
    Na carruagem da História, conduzido por mão sabedora, passei por entre gregos e romanos, visitei as suas instituições políticas, comparei tudo e concluí consigo que 'a roda já tinha sido inventada'!
    Os homens continuam muito parecidos com o que eram. Só que não querem acreditar nisso.
    Obrigado pela referência e parabéns pela lição de História.

     
  • At 3:41 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Jansenista:
    O mau é que os homens públicos das maiorias dos dois últimos séculos tenham levantado a bandeira da igualdade que lhes foi conveniente, para, a partir da ficção, edificarem as piores tiranias.
    Ao outro tema já respondi no local.

    Caro JSM:
    pobre mão,esta, que encontrou. Pouco saber, substituído por alguma indignação com as fraudes que a brilhante produção do Interregno sabe, como ninguém, levantar.

    Abraços a Ambos.

     
  • At 5:25 PM, Anonymous Anonymous said…

    É zeus que apaga os sóis.
    Realismo e rebeldia são difícilmente compatíveis.

     
  • At 7:14 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Nem mais, Caro Pedro. Com a agravante de a utopia igualizadora até ao exagero, já de si, não ser particularmente estimável

     

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