O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, December 20, 2006

Critério de Quem & Cães

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Pode um poema ser peça de doutrina política? Claro que sim, pois o bom governo como ideal é, ele próprio uma espécie de poesia. Não daquela de carácter vago que muita gente lhe tem por essência, como dizia Shaw, «em virtude da própria vaguidão da ideia que fazem do género poético». Mas dessoutra concreta e definida, mais do que o sonho doutro Poeta, capaz de por hábil administração minorar a infelicidade que insiste em fazer companhia à Espécie.
Bons e maus governantes há-os em todos os regimes, já se sabe. Mas a superioridade da livre nomeação Régia, após audição, está em não cometer às cumplicidades dos cartões de grupelhos as nomeações que depois se dão em fingida escolha ao Povo, quais fogo e frigideira por que optar. Assim como só na Cabeça Coroada é possível encontrar o acto de arrepio redentor que promova a inflexão no sentido da escolha dos mais capazes, partindo da constatação de que aqueles que aceitam tentar carreiras dentro de partidos encontrarão fatalmente quem lhes seja superior.
A pena tradicionalista de Curvo Semedo deu-nos a

PARÁBOLA

Um rei que não escolhia
Os homens para o seu lado,
Que sem critério elegia
Os seus ministros de Estado,
Foi passar ao campo um dia
Por aflito e cansado
Das muitas queixas que ouvia
Ao seu povo desgraçado.
Eis vê numa serrania
Dois zagais, um que tangia
O seu rabel afinado,
Respirando alma alegria;
Outro ansioso e magoado,
Que os seus desastres carpia.
O rei, de os ver agitado,
Perguntou ao desgraçado
A causa porque gemia.
Senhor - diz o malfadado -
Ando em perpétua vigia
Do meu rebanho minguado,
E, apesar do meu cuidado,
O voraz lobo à porfia
Mo tem ferido e roubado;
E aquele que, descansado,
Vive em suave apatia,
Conserva todo o seu gado
Sem que o lobo esfomeado
Sequer lhe leve uma cria.
Depois de o ter escutado
O rei perguntou que fado
Um tal desastre fazia;
Mas o outro pastor honrado
Respondeu com ufania:
O meu rebanho anafado
É por destros cães guardado,
Que lhe fazem companhia.
Mas este pastor, coitado,
Que assaz se cansa e vigia,
Tem maus cães, cães sem cuidado,
Que ao rebanho desgarrado
Roubar deixam, sem porfia.
Disse; e o rei extasiado
Das expressões que lhe ouvia,
Tirou como resultado
Desta curta alegoria
Que da escolha procedia
Dos bons ou maus cães o estado
Dos dois rebanhos que via.
Voltou à corte avisado
E logo no mesmo dia
Aos maus, que tinha exaltado,
Pôs fora da monarquia,
E escolheu para seu lado
Homens bons, de ânimo honrado,
Cujo mérito fulgia,
E tirou em resultado
Ser feliz o seu reinado.

De Jean-Etienne Liotard, «Retrato de um Grão-Vizir»
e de
Jörg Ratgeb, «Os Carmelitas e o Rei S. Luís, em 1248».

3 Comments:

  • At 1:34 PM, Anonymous Anonymous said…

    Belo texto caro amigo! Pena que a grande maioria não veja as virtudes da monarquia...
    Viva o Rei!

     
  • At 4:12 PM, Anonymous Anonymous said…

    O pior é quando os Reis não percebem que escolheram mal e ficam uma vida a mal governar.
    Sem ofensas.
    beijinho

     
  • At 8:28 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Viva! Caríssimo Capitão-Mor, lutar pelo triunfo da Verdade Monárquica é, em paralelo com o prazer de cavaquear com os Amigos, o que me move.

    Nada de ofensas, Querida Marta. Raros casos serão. Mas vale a pena correr o risco, sabendo-se que na República partidocrátca há a certeza da asneira governativa inscrita na sua própria natureza.

    Ora, Caro espadachim, com um Santarém nos Estrangeiros, um Saraiva em Londres...
    O pior foi nos comandos militares.
    Beijinho e abraços.

     

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