Teorização Retroactiva
À atenção do JSM e dos Demais Confrades e Frequentadores que gostam destes temas, lembraria hoje a explicitação que Manuel Anselmo foi edificando, sobre o conceito de Mono-arquia e a sua relação com a Monarquia. Definiu-a na terceira série dos «MERIDIANOS CRÍTICOS» como "um regime, sem chegar a instituição, em que realce merece a execução por um só de medidas atinentes ao bem comum e advogada pelas necessidades gerais", que se oporia à irresponsabilidade absoluta da Tirania e funcionaria hipoteticamente como alicerce da Monarquia Hereditária, essa sim institucionalizável, a partir do momento em que as condições de paz social o permitissem. Não se trata, penso, propriamente, do conceito comissarial da Ditadura, na medida em que não se está perante mecanismo previsto num sistema diverso, nem tem prazo estabelecido de vigência. Tenta o Autor fazer passar a mensagem de que as posições de Marcello Caetano e Dinis da Fonseca, num congresso da União Nacional, dadas pela maioria monárquica dos delegados como «republicanas» e até motivadas pelo interesse pessoal, no primeiro caso, não o seriam, necessariamente, embora fossem passíveis de um risco «caudilhista» que em si obrigasse a identificarem-se os fins do Estado, contra o que se extrairia do pensamento de Salazar, o qual deixaria margem para a Restauração, passado que fosse o período das grandes urgências que acossavam o País: a da pacificação político-social, a protecção das crises externas, a edificação de infraestruturas necessárias, a organização anti-concorrencial no corporativismo e o aumento paulatino dos rendimentos, sem rupturas. Esta concepção opor-se-ia ao definitivo «republicanizar da Revolução Nacional» que encontrava em potência nas exposições dos nomes citados. Cite-se:
«A Monarquia não é um regime. Desde Évora-Monte que, em Portugal, se vem mantendo um desvio histórico, ofensivo da legitimidade tradicional. Regressar ao caminho perdido é um dever de quem sente a história, não como uma série desconexa de episódios, mas como uma direcção imposta por verdades permanentes. Mesmo um Suarez ensinou que o povo, como depositário do Poder que vem de Deus, só tem legitimidade, uma vez, para escolher, para todo o sempre, a forma de Governo; se optou pela Monarquia hereditária, como Portugal o fez com D. Afonso Henriques, não volta mais a poder alterar o que estabelecido ficou pela própria história. Sendo assim, não regressar à Monarquia (que o povo português electivamente fundou) é que constitui, para todos os que crêem em Deus e são discípulos dos teólogos, pecado grave.».
Acrescente-se essoutro poder electivo presente nas Cortes convocadas em caso de vacatura do Trono, que em nada contende com o explanado, e teremos completo o quadro. Pelo que, puxando a brasa à minha sardinha, observando a eleição de D. Afonso Henriques como o Maior Português, nas preferências dos Seus compatriotas de hoje, me permito alimentar a chama da Esperança.
7 Comments:
At 4:16 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
Nós não existiríamos se não fosse a rebeldia de D.Afonso Henriques.
Abençoado!
Beijinho
At 7:52 PM, Paulo Cunha Porto said…
Sem dúvida, Querida MFBA, por isso, ligando essa gratidão ao texto de Anselmo, espero que o reconhecimento leve à natural decorrência política.
Beijinho.
At 8:33 PM, Anonymous said…
Onde é que o Dr. Anselmo foi buscar essa leitura de Francisco Suarez gostava eu de saber...
At 9:26 PM, Paulo Cunha Porto said…
Pois, Caríssimo Je Maintiendrai, é a inconveniência do ensaio, a que faltam as notas de rodapé...
Abraço.
At 1:21 AM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Respondo à chamada mas desde já aviso o que é patente para quem me reconhece na blogosfera - leio pouco, estudo pouco, penso às vezes, e não conheço a obra do autor citado. Existem no entanto questões que me fazem vibrar e aí entra em funcionamento um motor de busca interior que até a mim me surpreende!
Sobre o seu postal, digo: Se percebi, hoje não existem aqueles obstáculos invocados no estado novo, para adiar o regresso à normalidade histórica e constitucional. Mas hoje também não existe nenhuma vanguarda esclarecida como a que saíu da 'revolução nacional', perdoe-se a terminologia, para suscitar e levar por diante esse indispensável objectivo patriótico!
Que fazer? Que concluir?
"Quem casa não pensa e quem pensa não casa", diz o ditado. O Fundador agiu, deixou os prós e os contras para depois. Teve a percepção do mono-arca, interpretou o sentir dos que o rodeavam e fez pátria!
Precisamente o que não fez quando se devia ter feito, ou seja, já.
Eu bem sei que depois de Évora-Monte a àgua das fontes nunca mais foi a mesma...
E por isso mesmo, precisamos mais do que esperança.
Não sei se me fiz entender.
Um abraço
At 1:47 AM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Reli o comentário e achei-o um tanto obscuro. Falta um 'se' para explicar que durante a ditadura, podemos chamar-lhe 'regência republicana', mas dizia eu que houve um momento em que teria sido possível 'fazer pátria' também. Marcar uma fronteira clara, ainda que com o sacrifício do exílio. Essa reserva monárquica poderia ter sido uma referência importante na formação de um pensamento monárquico contemporâneo, evitando os efeitos desastrosos de setenta anos de propaganda republicana.
Mas o tempo não volta para trás.
UM abraço.
At 10:57 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro JSM:
Essa do «leio pouco» é a melhor piada dos últimos tempos. Mas de todo o Seu brilhante comentário repartido, retiro justamente a conclusão a que queria chegar: não havendo já as premências que impediam, ou desaconselhavam, a imediata Restauração, para fazer frente à platitude medíocre que lentamente nos consome urge sermos, de imediato, consequentes e fiéis à Memória Régia que no Conquistador começou.
Penso que O terei entendido muito bem.
Abraço.
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