Os Tempos e os Lados

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Leitura de mais um volume de diários de Julien Green:
«Odeio a política. Ela é a causa de que perigue aquilo de que gosto, ela ameaça a liberdade individual, ela ameaça a felicidade, ela perturba-me, no meu trabalho. Creio de todo o coração na Literatura e na obra de arte. Esta fé é absolutamente estranha às preocupações da política. No mundo actual qual é o meu lugar? Não faço ideia.».
Ponto de partida para uma reflexão sobre como diferem os sentidos temporais da política, consoante de Esquerda e Direita se trata: Na Direita predomina, após a chegada ao poder, a tentativa de edificar integrando os elementos que entre si lutaram na tentativa da sua conquista, fazendo por esquecer as clivagens do combate. É "Política" no sentido governativo, próximo do original da regência da polis. Já à Esquerda vence a nostalgia da luta, que se tenta prolongar nos postos institucionais conquistados, através do levantamento das célebres questões fracturantes. É, julgo o sentido absurdamente intrusivo que suscita a demarcação de Green, a ele alérgico pela necessidade de concentração no construir artístico. A tentativa, mesmo da mesa de despacho, de prolongar o nós ou eles, que também pode ir buscar a sua legitimação a tempos imemoriais, precisamente ao momento em que, pela primeira vez, concepções antagónicas de como administrar a Comunidade foram trazidas a debate e fizeram tocar a rebate. Mas o que é curioso nesta dicotomia espácio-temporal é a tentativa de perpetuar o seu Passado faccioso de luta em quem rejeita o Passado comum da Herança e a acentuação da actividade concernente ao Futuro em quem se reclama da continuidade. Talvez por tudo isso Alain tenha arremessado o célebre dito segundo o qual quando alguém hesita entre classificar-se como de Esquerda ou de Direita, ou recusa esse alinhamento, fica com a certeza de que essa Pessoa se inclui na segunda categoria.