O Peso do Nome
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Teve o Confrade do Combustões a generosidade de classificar este sujeito roncante que Vos maça diariamente como «pessoa boníssima». Fiquei cheio daquele contentamento maldoso que se sente quando se consegue enganar Alguém. Estou muito longe de o ser. Mas para o que importava à questão, que era delinear os contornos da Misantropia, devo dizer que, no meu caso, também julgo de excluir filantropo contrito. Nem houve actos em que traduzisse um qualquer amor à Humanidade, nem me lembro de esperar grande coisa dela, embora sempre com o realismo de a prezar um pouquinho mais do que a mim. Por isso consegui não revoltar-me com a maioria dos tristes espectáculos que o Miguel elenca.
Desde muito criança que senti pena imensa pelo que o Homem é. E só não busquei isolamentos porque isso equivaleria a frequentar apenas um rebento bastante defeituoso de uma espécie já de si pouco promissora. As Leituras e outras morigerações da execrabilidade, vejo-as como distracções, estimáveis na medida em que afastam cada um de si, que é a pior das companhias, não tanto como alterações qualitativas no sentido de uma maior dignidade humana.
Por isso tento ilustrar com este «Misanthropic», de desconhecido Autor: identifico o Sol filtrado e deformado pelos olhos do homo sapiens como o círculo negro que não permite ao indivíduo, na sua totalidade, resplandecer. E não desisto, mesmo correndo o risco de ser atingido pelos recorrentes pedregulhos que desabam pelas ravinas, de continuar a agitar-me e a assombrar os Vossos computadores.
Continuemos, pois, sem fazer um Clube de Misantropos, pois um tal gregarismo seria incompatível com o termo.
Grande abraço e ao Nosso Amigo Jansenista, que deu em confessar optimismos genéricos com uma única boa justificação - a de estar a lançar balanços do Seu labor bloguístico. Não há muitas mais.
6 Comments:
At 1:02 PM, Anonymous said…
Raios & Coriscos
No começo do texto até que parecia que falava p'la catraia...
Quanto á leitura, concordo plenamento consigo: tomo por exemplo o Pride and Prejudice, um banalissímo romance, isto é, até tomar conhecimanto da biografia da Autora. Aí tudo muda; de repente as irmãs noviças e irrequietas em vivo contraste com a seriadade grave e serena perante o dever da Felicidade no casamento o com o Lorde; o papel de observadora involuntária dos esquemas maquiavélicos da mãe; o pai, calmo pralem da compreensão humana, cúmplice em todos os desejos intímos da Heroína; e finalmente o seu lorde, julgado por todos, conhecido por nenhum, com todas as peripécias, combates do desejo e contradições do espirito humano.
Um bom dia Seu
At 1:05 PM, Anonymous said…
Faltava o nome
At 2:59 PM, Anonymous said…
Querido Paulo
Mas a Humanidade somos todos nós e não podemos falar dela sem falar de cada um.
Continuo sempre à espera de uma qualquer redenção provocada pelos melhores, dos quais eu não faço parte de certeza apesar de me esforçar.
Beijinho.
At 3:22 PM, Paulo Cunha Porto said…
Cyrene - Homenagem a Sinésio, porventura?
Nas culminâncias da observação pode, na verdade, estar uma dignificação apenas perceptível a quem esteja a par das caminhadas interiores que levaram à distanciação inerente. Toda a acumulação de experiência própria e alheia que engrandeça a sensibilidade pode bem travar a ingenuidade da acção, que, não sendo necessariamente o caminho melhor, pode permitir explicações menos inquinadas por preferências.
Bom dia, igualmente.
Com certeza, Querida MFBA. E por isso falo de mim quando refiro tal colectivo, sem sequer as atenuantes doutros casos.
Beijinho.
At 4:54 PM, Anonymous said…
cyrene - Homenagem aos exploradores
Está coberto de razão, aliás, esse foi um dos motivos pelo qual cancelei a assinatura do Reader's Digest. Todo aqueles textos "A vida e a obra de Fullano" e "Conheça o que esteve por detrás da obra de Sicrano". Nem para pasta á Napolitana servia..
At 8:59 PM, Paulo Cunha Porto said…
Hihihihihi, Caro Cyrene. As selecções eram realmente um bocado "conhecimentos em conserva".
Abraço.
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