O Tempo Reenviado
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Em igual dia e mês de 1922 falecia Marcel Proust, doente veterano mas agravado nos derradeiros dias e vitimado por fim por uma pneumonia. Vítima das superstições maternas, quase não comia ou tomava ar, deixando o organismo despojado de defesas. Em que medida esta fragilidade física terá motivado o extraordinário golpe de asa da sua obra fundamental é coisa que se pode discutir. Há, segundo a minha experiência, entre os apreciadores de Proust, os que preferem a extensíssima preparação, coberta de languidez, do «TEMPO REENCONTRADO» final e os que que têm um fraco maior pela vitória sobre as hesitações intelectuais desse último volume, como é o meu caso. Mas o que interessa é a união na revisitação
dessa obra tão extraordinária que torna difícil de conceber a oposição e desinteresse a que os expoentes do establishment crítico, durante largo tempo, a votaram. Grande campeão do reconhecimento devido foi Léon Daudet fazendo os impossíveis para que lhe fosse outorgado o Prémio Goncourt, o qual arrancados os votos necessários, encontrou nessa decisão a sua maior coroa de glória.
Mas a espiritualidade de Proust não jogava com o Tempo apenas na memória e na acção na obra. Dreyfusard que fora, depressa se desviou do partido triunfante, quando, a pretexto da injustiça, ele desencadeou ataques a tudo o que lhe era hostil, nomeadamente à Igreja, que aparecia ao Autor da «RECHERCHE...» como a própria enformação da imortalidade. Na sequência da expulsão das congregações escrevia: «Confesso que gosto mais de encontrar num convento os religiosos que restabelecem a música beniditina, do que um liquidador que aniquila tudo». E opondo o célebre artigo Les Églises Assassinées à Lei da Separação. Tanto mais de notar que o Homem que lia diaramente as lições de Maurras e Daudet, se tinha como não-político. Como confessou em 1905: «A política no fundo é-me igual. Para quê perder o nosso tempo em coisas de que somente o demónio da perversidade pode fazer ocupar-nos, já que elas não fazem parte do nosso temperamento real?».
Com a morte a suspensão encontrava o seu contraponto superlativo, já anunciado pela categoria da obra: a Eternidade.
Em igual dia e mês de 1922 falecia Marcel Proust, doente veterano mas agravado nos derradeiros dias e vitimado por fim por uma pneumonia. Vítima das superstições maternas, quase não comia ou tomava ar, deixando o organismo despojado de defesas. Em que medida esta fragilidade física terá motivado o extraordinário golpe de asa da sua obra fundamental é coisa que se pode discutir. Há, segundo a minha experiência, entre os apreciadores de Proust, os que preferem a extensíssima preparação, coberta de languidez, do «TEMPO REENCONTRADO» final e os que que têm um fraco maior pela vitória sobre as hesitações intelectuais desse último volume, como é o meu caso. Mas o que interessa é a união na revisitação
dessa obra tão extraordinária que torna difícil de conceber a oposição e desinteresse a que os expoentes do establishment crítico, durante largo tempo, a votaram. Grande campeão do reconhecimento devido foi Léon Daudet fazendo os impossíveis para que lhe fosse outorgado o Prémio Goncourt, o qual arrancados os votos necessários, encontrou nessa decisão a sua maior coroa de glória.
Mas a espiritualidade de Proust não jogava com o Tempo apenas na memória e na acção na obra. Dreyfusard que fora, depressa se desviou do partido triunfante, quando, a pretexto da injustiça, ele desencadeou ataques a tudo o que lhe era hostil, nomeadamente à Igreja, que aparecia ao Autor da «RECHERCHE...» como a própria enformação da imortalidade. Na sequência da expulsão das congregações escrevia: «Confesso que gosto mais de encontrar num convento os religiosos que restabelecem a música beniditina, do que um liquidador que aniquila tudo». E opondo o célebre artigo Les Églises Assassinées à Lei da Separação. Tanto mais de notar que o Homem que lia diaramente as lições de Maurras e Daudet, se tinha como não-político. Como confessou em 1905: «A política no fundo é-me igual. Para quê perder o nosso tempo em coisas de que somente o demónio da perversidade pode fazer ocupar-nos, já que elas não fazem parte do nosso temperamento real?».
Com a morte a suspensão encontrava o seu contraponto superlativo, já anunciado pela categoria da obra: a Eternidade.
3 Comments:
At 1:22 PM, Jansenista said…
Muito bem! Eu por mim acrescentaria que o seu entusiasmo dreyfusard o fazia imaginar-se judeu e fazer-se passar por judeu, embora não tivesse recebido educação judaica. E as afinidades com Léon Daudet têm uma outra explicação menos confessável...
É uma pena que tão pouca gente leia e absorva a visão do mundo, da vida e da criação artística que se contém na Recherche - com o seu dénouement, como bem refere, no último volume.
At 2:13 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Jansenista:
Muito obrigado pela "review". Concordo inteiramente que seria uma maravilha vermos mais espalhado o tributo devido a tão grande obra. E sabe, eu até acho que Proust, não sendo um
Autor fácil, é daqueles de que é mais fácil gostar. Mas que muita gente desiste de ler ou continuar, por preguiça ou reacção epidérmica às primeiras páginas.
Abraço prousteano.
At 10:26 PM, Paulo Cunha Porto said…
Ah, esqueci-me, há pouco, Meu Caro Jans, suponho que as cumplicidades silenciadas que referiu seriam com Lucien Daudet, o irmão de Léon, não?
Abraço.
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