Vidas Paralelas
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Tem a História da Literatura destas ironias: no mesmo dia do mês, mas não do ano, nasceram os dois poetas e ensaístas mais diferentes que imaginar se possa. Paul Valéry e Ezra Pound vieram ao Mundo a 30 de Outubro. Porquê diferentes? Desde logo, como poetas, a aparição meteórica do francês, logo intercalada com um silêncio de vinte anos, por conexões íntimas que lhe condicionariam o estro, opõe-se à do nativo de Idaho, que passou uma vida a erguer os seus versos maiores, com as incorporações que lhe ditavam os seus estudos universalistas. Já no ensaio, um rejeitava o estatuto de filósofo, alérgico que era ao ócio especulativo, numa fidelidade constante ao lema de «empregar aquilo que se sabe», enquanto o outro não hesitava em integrar ensinamentos das diversas escolas de pensamento na sua produção própria.
Anbos prezavam a sua independência e escreveram sobre política. Mas por incrível que pareça, o "fascista" não era nacionalista, rejeitando o tipo de homem que considerava dominante no seu País, pelo conhecido e radical repúdio da usura, mas, igualmente, por lhe ser desagradável a ausência de sentido crítico do seu povo e a vulnerabilidade perante a imprensa. Enquanto que o integrado na III República chegava a delírios nacionalistóides de atribuir a invenção da fotografia não aos azares de uma descoberta, mas ao carácter nacional gaulês e a sua expansão pelo Mundo à generosidade da França.
Ambos apoiaram soluções estranhas ao demo-liberalismo. Mas onde o Autor do «CEMITÉRIO MARINHO» correspondeu ao convite de Ferro para se pronunciar a favor de Salazar, com insistência genial na tecla que mais deveria agradar ao Governante Luso, a do Ditador obrigado à política pelos factos, contra a vontade, o Fabro dos «CANTOS» oferecia-se como voluntário para conferências radiofónicas de apoio ao mais assumido e impulsivo dos conquistadores do Poder, Mussolini. E onde via na raça e experiência judaica o egoísmo materialista que combatia, Valéry recusava instruções de um Bonnard Ministro da Educação, no sentido de celebrar o encontro Pétain-Hitler de Montoire e fazia o elogio do Judeu Bergson, para incómodo de Vichy. Onde Pound era eterno promotor os Amigos, sendo brigas como a com Sherwood Anderson excepções, partilhando afinidades, o reflexivo Criador de Teste não esquecia afrontas como a de France, fazendo-lhe o elogio académico sem por uma vez nomeá-lo e recusava as insistências amical e patronal dos dois Lebeys para que aderisse à Maçonaria ou a um partido.
Onde vemos facilmente um com as insígnias académicas e as condecorações não conseguimos imaginá-las no outro, substituídas pela trunfa desgrenhada e as tertúlias, ou o isolamento final. Num, a estante aparece facilmente em fundo, por trás do sofá, no outro como pólo de atracção de onde escolhe um dos volumes. Mas ambos foram mestres em lê-los - e mais, em escrevê-los.
Tem a História da Literatura destas ironias: no mesmo dia do mês, mas não do ano, nasceram os dois poetas e ensaístas mais diferentes que imaginar se possa. Paul Valéry e Ezra Pound vieram ao Mundo a 30 de Outubro. Porquê diferentes? Desde logo, como poetas, a aparição meteórica do francês, logo intercalada com um silêncio de vinte anos, por conexões íntimas que lhe condicionariam o estro, opõe-se à do nativo de Idaho, que passou uma vida a erguer os seus versos maiores, com as incorporações que lhe ditavam os seus estudos universalistas. Já no ensaio, um rejeitava o estatuto de filósofo, alérgico que era ao ócio especulativo, numa fidelidade constante ao lema de «empregar aquilo que se sabe», enquanto o outro não hesitava em integrar ensinamentos das diversas escolas de pensamento na sua produção própria.
Anbos prezavam a sua independência e escreveram sobre política. Mas por incrível que pareça, o "fascista" não era nacionalista, rejeitando o tipo de homem que considerava dominante no seu País, pelo conhecido e radical repúdio da usura, mas, igualmente, por lhe ser desagradável a ausência de sentido crítico do seu povo e a vulnerabilidade perante a imprensa. Enquanto que o integrado na III República chegava a delírios nacionalistóides de atribuir a invenção da fotografia não aos azares de uma descoberta, mas ao carácter nacional gaulês e a sua expansão pelo Mundo à generosidade da França.
Ambos apoiaram soluções estranhas ao demo-liberalismo. Mas onde o Autor do «CEMITÉRIO MARINHO» correspondeu ao convite de Ferro para se pronunciar a favor de Salazar, com insistência genial na tecla que mais deveria agradar ao Governante Luso, a do Ditador obrigado à política pelos factos, contra a vontade, o Fabro dos «CANTOS» oferecia-se como voluntário para conferências radiofónicas de apoio ao mais assumido e impulsivo dos conquistadores do Poder, Mussolini. E onde via na raça e experiência judaica o egoísmo materialista que combatia, Valéry recusava instruções de um Bonnard Ministro da Educação, no sentido de celebrar o encontro Pétain-Hitler de Montoire e fazia o elogio do Judeu Bergson, para incómodo de Vichy. Onde Pound era eterno promotor os Amigos, sendo brigas como a com Sherwood Anderson excepções, partilhando afinidades, o reflexivo Criador de Teste não esquecia afrontas como a de France, fazendo-lhe o elogio académico sem por uma vez nomeá-lo e recusava as insistências amical e patronal dos dois Lebeys para que aderisse à Maçonaria ou a um partido.
Onde vemos facilmente um com as insígnias académicas e as condecorações não conseguimos imaginá-las no outro, substituídas pela trunfa desgrenhada e as tertúlias, ou o isolamento final. Num, a estante aparece facilmente em fundo, por trás do sofá, no outro como pólo de atracção de onde escolhe um dos volumes. Mas ambos foram mestres em lê-los - e mais, em escrevê-los.
1 Comments:
At 6:07 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Espadachim:
Apesar de Pound ter andado por Paris, as linhas de coerência eram diversas.
Ab.
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