Assim Acabam as Repúblicas
.
23 de Outubro, dia para meditar sobre a batalha de Filipos. Não tenho qualquer compaixão admirativa pelos vencidos do episódio. Esses pretensos guardiães das virtudes republicanas estribavam a sua acção em qualidades tão imaginárias do regime, como a ética no epígono que hoje conhecemos. Tanto ela como o Império, esse principado que se lhe iria seguir enfermavam da pecha da divinização do Poder. Legalmente instituída com Augusto, mas não por ele inventada no Ocidente, que já a Atenas da decadência o tinha feito a Demétrio. E nessa República que se extinguia com as depurações pletóricas dos vencidos, através do contínuo enfrentamento dos partidos. Sem a legitimidade da Realeza reportada ao mítico fundador da Cidade, Rómulo, foi possível às instituições alargar geograficamente o domínio e garantir o funcionamento da máquina estatal, mas não evitar as orgias sanguinolentas das lutas civis republicanas ou dos desregramentos individuais e perseguições particularistas do Império.
A ideia transmitida por alguns do amor à coisa pública pelos assassinos de César, Bruto, pelo menos, não pega. Não eram lutadores indomados contra o governante que apunhalaram, mas fracos rancorosos que tinham vivido à sombra da sua clemência ou do seu favor. Os auto-proclamados defensores do Ocidente contra o perigo da influência oriental de Cleópatra foram refugiar-se precisamente nesse Leste que rejeitavam, aliando-se a Príncipes locais contra o Segundo Triunvirato Romano. Cássio - que nem coragem teve para se matar e Bruto, aqui na tenda, antes da batalha final, ocuparão no imaginário de todos nós os flancos de Judas na simbologia da traição. E desta não havia Ladrão que fosse bom, como não existia Supliciado que nos salvasse.
O novo regime, Principado ou Império, não trouxe a legitimação. Deixou aos Exércitos, muitas vezes aos Pretorianos, a escolha que dantes assentava na luta dos partidos. Era o primeiro aviso de que sem a Coroa da Tradição não pode haver tranquilidade pública. A nossa era é a do segundo. Duvido que haja terceiro.
23 de Outubro, dia para meditar sobre a batalha de Filipos. Não tenho qualquer compaixão admirativa pelos vencidos do episódio. Esses pretensos guardiães das virtudes republicanas estribavam a sua acção em qualidades tão imaginárias do regime, como a ética no epígono que hoje conhecemos. Tanto ela como o Império, esse principado que se lhe iria seguir enfermavam da pecha da divinização do Poder. Legalmente instituída com Augusto, mas não por ele inventada no Ocidente, que já a Atenas da decadência o tinha feito a Demétrio. E nessa República que se extinguia com as depurações pletóricas dos vencidos, através do contínuo enfrentamento dos partidos. Sem a legitimidade da Realeza reportada ao mítico fundador da Cidade, Rómulo, foi possível às instituições alargar geograficamente o domínio e garantir o funcionamento da máquina estatal, mas não evitar as orgias sanguinolentas das lutas civis republicanas ou dos desregramentos individuais e perseguições particularistas do Império.
A ideia transmitida por alguns do amor à coisa pública pelos assassinos de César, Bruto, pelo menos, não pega. Não eram lutadores indomados contra o governante que apunhalaram, mas fracos rancorosos que tinham vivido à sombra da sua clemência ou do seu favor. Os auto-proclamados defensores do Ocidente contra o perigo da influência oriental de Cleópatra foram refugiar-se precisamente nesse Leste que rejeitavam, aliando-se a Príncipes locais contra o Segundo Triunvirato Romano. Cássio - que nem coragem teve para se matar e Bruto, aqui na tenda, antes da batalha final, ocuparão no imaginário de todos nós os flancos de Judas na simbologia da traição. E desta não havia Ladrão que fosse bom, como não existia Supliciado que nos salvasse.
O novo regime, Principado ou Império, não trouxe a legitimação. Deixou aos Exércitos, muitas vezes aos Pretorianos, a escolha que dantes assentava na luta dos partidos. Era o primeiro aviso de que sem a Coroa da Tradição não pode haver tranquilidade pública. A nossa era é a do segundo. Duvido que haja terceiro.
12 Comments:
At 1:03 PM, Anonymous said…
Isso mesmo.
André Bandeira
At 7:23 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro André Bandeira:
Honra-me muito a concordância. É necessário que as Pessoas procurem, de facto, tirar algumas lições da História e não desbaratar as derradeiras "chances" que têm.
Abraço.
At 12:13 AM, Anonymous said…
Quer então dizer que a decadência de Roma inicia-se no ano 509 a. C.?
At 6:23 AM, Anonymous said…
Será que este André Bandeira é o amigo do Adolfo Luxúria Canibal, ex-sprinter do Benfica, licenciado em Direito, diplomata, ex-líder carismático das listas O e H da Faculdade de Direito nos idos de 80?
Se assim fôr, aquele abraço e as saudades de uns copos bem bebidos nos Carnavais da Faculdade.
Caso contrário, extravia-se apenas um abraço.
At 10:34 AM, Paulo Cunha Porto said…
A decadência de legitimidade política, sem dúvida, meu Caro Miguel. Não no sentido de crepúsculo do poderio. Isto no meu entendimento, claro. Também cheguei a uma concepção do início da decadência portuguesa quando foi determinado o começo da Expansão, apesar do brilho e heroísmo da epopeia lusa. Num sentido um tudo nada diferente, mas com pontos de contacto, leia-se o que uma equipa dirigida pelo Mendo Castro Henriques concluiu, a propósito do conceito de decadência do Integralismo Lusitano.
At 4:34 PM, Anonymous said…
Efectivamente, terá alguns pontos de contacto, e faz o seu sentido (referi-lhe num post anterior que voto D. João II na votação da RTP.)
Mas, se levarmos a sua teoria a sério, receio que a existência de Portugal seja um erro, não de casting, mas histórico, já que Portugal rompeu por TRÊS vezes com a Tradição de modo a permanecer independente; em primeiro lugar com D. Afonso Henriques; em segundo lugar, com D. João I; e em terceiro lugar, com D. João IV.
E se o momento da Fundação e o da Restauração ainda são "desculpáveis", o Interregno não o será; quantos nobres não invocaram a Tradição e os Princípios, jurando lealdade à legítima herdeira D. Beatriz?
At 4:36 PM, Anonymous said…
(Ao dizer "pontos de contacto", não me referia a Mendo Castro Henriques mas à semelhança entre o seu conceito de decadência de legitimidade política nos casos Romano e Português.)
At 4:50 PM, Anonymous said…
Caros Blogadores,
Não conheço o estudo do MCH mas se houver via Internet, agradeço que me indiquem ( não lho peço a ele porque tenho vergonha de não o ter lido).
Para o Luís Graça,
Obrigado pelo Abraço que também dou.Sou o André, sim Senhor. Mas nunca fui sprinter do Benfica ( remei no Fluvial e na Associaçào Naval). O Adolfo( no meu tempo, Morais Macedo) é como se fosse meu primo mas nunca fui dirigente da Lista O. Fiz parte da primeira, porque um amigo, o João Xavier me pediu mas o fundador daquilo foi o Fernando Sobral jornalista e aquilo foi depois totalmente apropriado pelo PCP e por gente muito baixa (por isso, me arrependo, foi das maiores manipulações a que fui sujeito e onde os meus desenhos e até o nome, foram explorados). Fui da Lista H mas eles queriam-me expulsar por causa daquilo de que, isso sim, fui co-fundador, que existe ainda hoje e de que guardo as melhores recordações quando era Estudante, a Tertúlia Académica.
André
At 9:20 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Miguel:
Sim, percebi a que se destinava a alusão. Não vejo qualquer quebra de tradição nesses momentos históricos, porque o direito incorporado, por duvidosas que fossem as suas origens fácticas, interditava a um Soberano estrangeiro e aos seus sucessores o acesso ao Trono de Portugal. Mas a concepção de decadência que perfilho não se prende necessariamente com o sistema jurídico tradicional português, mas com a impressão, mais lata, de que quando um povo e um governo deixam de se sentir felizes nos seus limites naturais principia o declínio, por muito honrosa e grandiosa que seja a gesta subsequente.
Meu Caro André:
Fico feliz por se terem reatado no misantropo velhas amizades. Vou procurar o livro, nesta confusão, para dar o título certinho. Quando encontrar abrirei um pequeno "post" com a informação, para facilitar o acesso.
Abraços a Ambos e ao Luís.
At 4:18 PM, Anonymous said…
Mesmo não concordando consigo (em especial a propósito do brilhante desempenho de João das Regras), penso que o compreendi na íntegra. E talvez concorde consigo no que toca à conclusão: visto que é tendência natural "um povo e um governo deixa[re]m de se sentir felizes nos seus limites naturais", como já Platão o dizia, e apesar dos esforços do seculo XX, nomeadamente de Wilson, para estancar os povos nos seus limites (que não os governos, claro está), caminharemos para um final semelhante... a menos que o vaticínio de Platão se cumpra e possamos regressar aos tempos dos filósofos, a novos Pelágios e Carlos Magnos. Abraço
At 7:28 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Miguel:
Essa é a senda que a todos faz sonhar. Quanto ao Dr. João das regras, grande parte da argumentação dele assentou nessa especialidade nossa da interdição do Rei estrangeiro, não acha?
Abraço.
At 11:55 PM, Anonymous said…
Está a despertar-me a curiosidade de ler mais sobre o assunto. Alguns historiadores, insuspeitos de esquerdismo, afiançam que a vacatura do Trono foi um artifício jurídico auxiliado pelas circunstâncias, e o facto permanece que a Nobreza, com N grande, ficou com D. Beatriz. Mas hei-de consultar outras fontes. Abraço
Post a Comment
<< Home