A Morte da Bologosfera
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A princípio nem pensava falar no carniceiro que entrou numa escola do Canadá e feriu 20 pessoas, matando uma, de origem portuguesa. Dava-o como mais um desequilibrado em que o mundo contemporâneo é fértil e o subcontinente norte-americano, mais do que o resto. Isto, apesar de ser aliciante tocar na influência que a Internet teria tido na mistura de real e virtual numa cabeça que vivia obcecada pela simulação em computador de um tiroteio verdadeiro e da exibição da sua vivência fanatizada dessa reconstituição através de um blog. Porém, hoje não me posso calar, ao ver as reacções que brotam como cogumelos na blogosfera anglo-saxónica, agrupáveis em dois blocos: o dos que dizem que o Sr. Kimveer Gill «viveu até ao fim a vida que quis viver» e os que julgam que «cumpriu o destino que lhe estava reservado». Isto é que me parece particularmente perigoso, pois traz-nos, em vez de um louco isolado, uma mão cheia de opinadores que promovem, quem sabe se por solidariedade bloguística, um assassino, sem uma palavra para as vítimas e investindo contra o livre arbítrio por uma direcção insuspeitada. Este mundo em que escrevemos e nos lemos ameaça perigo demasiado, o do infantilismo que faz da realidade uma peça mais num jogo de crianças e relativiza Bem e Mal até serem atingidos extremos inaceitáveis. Cada vez mais tenho de repensar se quero continuar por aqui.
A princípio nem pensava falar no carniceiro que entrou numa escola do Canadá e feriu 20 pessoas, matando uma, de origem portuguesa. Dava-o como mais um desequilibrado em que o mundo contemporâneo é fértil e o subcontinente norte-americano, mais do que o resto. Isto, apesar de ser aliciante tocar na influência que a Internet teria tido na mistura de real e virtual numa cabeça que vivia obcecada pela simulação em computador de um tiroteio verdadeiro e da exibição da sua vivência fanatizada dessa reconstituição através de um blog. Porém, hoje não me posso calar, ao ver as reacções que brotam como cogumelos na blogosfera anglo-saxónica, agrupáveis em dois blocos: o dos que dizem que o Sr. Kimveer Gill «viveu até ao fim a vida que quis viver» e os que julgam que «cumpriu o destino que lhe estava reservado». Isto é que me parece particularmente perigoso, pois traz-nos, em vez de um louco isolado, uma mão cheia de opinadores que promovem, quem sabe se por solidariedade bloguística, um assassino, sem uma palavra para as vítimas e investindo contra o livre arbítrio por uma direcção insuspeitada. Este mundo em que escrevemos e nos lemos ameaça perigo demasiado, o do infantilismo que faz da realidade uma peça mais num jogo de crianças e relativiza Bem e Mal até serem atingidos extremos inaceitáveis. Cada vez mais tenho de repensar se quero continuar por aqui.
A pintura é «Gunman», de Richard Marchand.
3 Comments:
At 4:09 PM, Anonymous said…
Paulo,
Sim. Continue por aqui.
André Bandeiar
At 4:10 PM, Anonymous said…
O encanto da blogosfera é poder encontrar rapidamente todos os mundos e poder-se passear de uns para os outros à velocidade de um clic.
Depende do que queremos encontrar e do humor com que estamos. Também há desilusões, evidentemente. Só espero que não sejam suficientes para o fazer desistir. Não há nada que mereça isso.
Beijinhos desta sua admiradora.
At 7:13 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Espadachim:
Estou ciente disso, a questão é termos companhias dessas, sendo certo que é injusto para os Outros.
Meu Caro André Bandeira:
Muito obrigado, era mais um desabafo, por ver tanta gente alheada da mais básica encruzilhada ética.
Querida MFBA:
Nada me fará desistir enquanto Tiver a honra dos comentários da Minha Querida Amiga. A solução ideal seria um "Reservado o direito de admissão" para casos chocantes como este.
Beijinhos e abraços.
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