Pecado Redimido
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Eu tenho um azar dos Diabos. As piores pessoas que comigo contactaram directamente eram muito empenhadas e, pode dizer-se, trabalhadoras. Resisti sempre a identificar a segunda condição como causa da primeira. Mas, talvez pela fraqueza que é a complacência com os defeitos próprios, sempre vi com bons olhos os preguiçosos, desde que a sua indolência não prejudicasse terceiros. Todos? Nem por isso. É que, ao contrário do que se pensa vulgarmente, o destino dos ócios é muito mais hierarquizador do que o dos labores. Nestes quer-se uma actividade a horas certas ou um resultado, seja qual for o estatuto profissional. Naqueles é o que a criatividade e o gosto permitirem, nos mundos imensos da reflexão, da fruição artística, dos convívios escolhidos, contrapostos à brutalidade dos aspectos lúdicos de espíritos menos refinados.
Mas convém dar a palavra a um Escritor que faria anos hoje, La Rochefoucauld: «Enganaram-se aqueles que acreditaram que só as paixões violentas, como a ambição e o amor, podem triunfar sobre as outras. A Preguiça não deixa de ser, frequentemente, a ama». E Eugène Marsan, que escreveu o livrinho que Vos mostro, acrescenta: «Ela é clemente, porque o rigor e a opressão dão uma canseira, porque eles têm seguimentos que a fatigam por antecipação. Ela é moderada: a moderação é o seu clima. Ela é constante, por ódio à mudança. (...)Ela é portanto fiel como se respira. A face descarnada, a face sulcada da Inveja faz-lhe horror, se acaso ela não evita, espontaneamente até, concebê-la.».
Sei que deveria continuar a propagandear citações que prolongassem o panegírico. Mas sou demasiado preguiçoso. E, note-se, o pecado mortal era, originariamente, a Acedia, coisa bem diferente e que não mora aqui.
Eu tenho um azar dos Diabos. As piores pessoas que comigo contactaram directamente eram muito empenhadas e, pode dizer-se, trabalhadoras. Resisti sempre a identificar a segunda condição como causa da primeira. Mas, talvez pela fraqueza que é a complacência com os defeitos próprios, sempre vi com bons olhos os preguiçosos, desde que a sua indolência não prejudicasse terceiros. Todos? Nem por isso. É que, ao contrário do que se pensa vulgarmente, o destino dos ócios é muito mais hierarquizador do que o dos labores. Nestes quer-se uma actividade a horas certas ou um resultado, seja qual for o estatuto profissional. Naqueles é o que a criatividade e o gosto permitirem, nos mundos imensos da reflexão, da fruição artística, dos convívios escolhidos, contrapostos à brutalidade dos aspectos lúdicos de espíritos menos refinados.
Mas convém dar a palavra a um Escritor que faria anos hoje, La Rochefoucauld: «Enganaram-se aqueles que acreditaram que só as paixões violentas, como a ambição e o amor, podem triunfar sobre as outras. A Preguiça não deixa de ser, frequentemente, a ama». E Eugène Marsan, que escreveu o livrinho que Vos mostro, acrescenta: «Ela é clemente, porque o rigor e a opressão dão uma canseira, porque eles têm seguimentos que a fatigam por antecipação. Ela é moderada: a moderação é o seu clima. Ela é constante, por ódio à mudança. (...)Ela é portanto fiel como se respira. A face descarnada, a face sulcada da Inveja faz-lhe horror, se acaso ela não evita, espontaneamente até, concebê-la.».
Sei que deveria continuar a propagandear citações que prolongassem o panegírico. Mas sou demasiado preguiçoso. E, note-se, o pecado mortal era, originariamente, a Acedia, coisa bem diferente e que não mora aqui.
2 Comments:
At 2:47 AM, Anonymous said…
Rochafria. Explica muita coisa.
At 8:41 AM, Paulo Cunha Porto said…
Hihihihihihi.
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