Armadilha Diabólica
O Senado Norte-Americano divulgou um relatório do seu Comitê de Inteligência em que se conclui não haver provas de apoio de Saddam Hussein à Al-Qaeda, antes da invasão do Iraque. A fonte não merece confiança, pois é precisamente a mesma que considerou comprovadíssima a existência de Armas de Destruição de Massas no mesmo país. Breve recapitulação do meu posicionamento quanto à intervenção no Iraque: apoio total à deposição pela força do Senhor de Bagdad, pelo que já tinha feito, não pelo que se dizia poder vir a fazer, pois nunca engoli a história da posse de armas que «ele tivesse escrúpulo em usar». E completo cepticismo à forma como foi conduzida a substituição do regime, com colocação no poder, inicialmente, de uns fantoches odiados, esperando que dollars e votos fizesem o resto, coisa que toda a gente via ser um sonho infantil de Washington. Sobre o documento ora divulgado, está cheio de contradições: ao mesmo tempo que nega as ligações amistosas entre Zarkawi e Saddam, reconhece a existência de um importante campo de treino do subsidiário al-qaedesco Ansar Al-Islam na parte curda do território, confundindo a zona de exclusão aérea com a falta de domínio da zona e ignorando que esse movimento também combateu os resistentes curdos. Como não percebendo que as fricções entre os dois chefes traduziam rivalidade de poder, não abdicação de lhes usar os meios e subordinados.
Mas admitamos que tudo correspondesse à verdade: nesse caso, para o historiador do Futuro, a decisão de invadir poderia aparecer como um sagaz isco norte-americano, de forma a atrair para a guerra que se trava na Mesopotâmia o voluntariado guerreiro islâmico que poderia ser canalizado para o terrorismo no próprio Ocidente. Seria a recuperação da iniciativa contra pedras que se não furtam ao combate, em função de um conceito de Jihad. Esta não é uniforme em todo o Islamismo. Para além de alguns a considerarem num figurado sentido de disponibilidade de defesa dos Artigos da Fé, ao longo da História da Religião sempre se opuseram os que a consideravam o Sexto Pilar do Islão e os que a não admitiam, pois não colhe fundamento directo nas Suras do AlCorão, antes no exemplo dado pela vida do Profeta. Assim, muitos dos que se poderiam fazer explodir em locais públicos euro-americanos estariam agora a fazê-lo, alegremente em Bagdad. Mas claro que um calculismo tal, por muito certeiro que se verificasse ser, enformaria sempre um desrespeito grosseiro pelas vidas dos soldados expedicionários que a América enviou.
5 Comments:
At 7:04 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Espadachim:
Não digo que não, não digo que não. Tendo, ao que parece, procurado acolhimento junto dos chefes tribais, são mais de confiança os afegano-paquistaneses do que os árabes, cujo lendário Waj ligado à honra é continuamente desmentido pela cedência ao apelo de bolsas recheadas, como com o guardador dos filhos de Saddam.
At 7:53 PM, Anonymous said…
Inquietante dato: en Google Trend, si buscamos la palabra "jihad", resulta que la ciudad del Mundo donde más se consulta el termino es.....RABAT...! Han llegado a Portugal los rumores de golpe de Estado en Marruecos que van a determinara la supresion del servicio militar obligatorio para evitar la infiltración de elementos jihadistas.....?
At 8:35 PM, Paulo Cunha Porto said…
E isso é tanto mais estranho, Çamorano Amigo, porquanto a visão islâmica tradicionalmente perfilhada em Marrocos costuma ser dada como a mais suave e aberta de todas. Poderá ser uma tentativa de estudar um conceito controvertido mas arredio da filosofia tradicional da região. Esperemos, que é País demasiado próximo.
At 3:49 AM, Anonymous said…
Fe de Erratas: Google Trends.
At 8:22 AM, Paulo Cunha Porto said…
Muito bem, Caríssimo. Ah! E que eu desse por ela, a notícia não teve saída por cá.
Abraço.
Post a Comment
<< Home