Versos Rapados

Encontrei no Dolo Eventual uma referência aos «poemas-Gillette» que não sei até que ponto, conscientemente, remete para uns célebres anuncios de antanho, produzidos pela agência Hora, que cativaram a Nossa Gente, no já longínquo ano de 1952. Há anúncios que já não são Publicidade, porquanto passaram a ser História. Interessante é tentar destrinçar em que medida a auto-paródia entra no receptor, proporcionadamente à evidência com que as estrofes se negam como Poesia. Encontrei-os muma publicação evocativa dos 65 anos de actividade do Grupo McCann em Portugal. Eliminei o texto final de cada anúncio, com o logotipo da marca, porque se limitava a reafirmar, sem tanta piada, o que os versos diziam. Trago-Vos estes e as figuras, uma espécie de ONU misantrópica para promover a Paz no Mundo, nem que seja cortando rente...
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Certo Sheik apaixonado
Que passou a usar Gillette,
Já depois de recusado,
Teve a moça e mais dezasete.
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Lá nos Altos Pirinéus,
Onde a Terra toca os Céus,
Nenhum basco faz toillette
Sem auxílio da Gillette.
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Ainda que os esquimós
Passem a vida nos gelos,
É vê-los nos seus trenós
De cara alegre e sem pêlos.

É que existe em cada lar
Uma máquina Gillette,
E a lâmina que promete
Um perfeito barbear!
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O gaúcho é espertalhão
Indolente mas reflecte:
P´ra poupar um trabalhão
Faz a barba com Gillette.
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Todo o espanhol no mundo
Demonstra o valor da raça,
No ar alegre e profundo
Que atrás de si deixa e traça

A Gillette é p´ra o espanhol
Uma máquina de cantigas,
No seu rosto há vida, há sol,
Que conquista as raparigas.
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Numa cara bem cuidada,
Tem orgulho o bom escocês.
A Gillette é camarada
Que não falha uma só vez.
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Apesar de ser tristonho,
O inglês p´la manhã
Canta à vida, está risonho,
Sente em si a alma sã.

É para ele um prazer
O andar bem barbeado,
E as lâminas Gillette
Dão-lhe o aspecto cuidado.
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Os filhos do Oriente
Esmerados na "toillette"
Pedem aos do Ocidente
Que lhes mandem a Gillette

"São dum corte insuperável"
- Diz o sabido sultão.
Que máquina admirável
E que lâmina, meu irmão!
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Há duas coisas na vida
Que encantam o pele-vermelha:
Uma é nova, apetecida,
A outra é má, velha e relha

A Gillette é a primeira
É máquina de encantar!
A flecha - a derradeira,
Só serve para matar.