O Herói Consensual

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14 de Agosto traz-nos mais um aniversário de Aljubarrota e era a data que a Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira queria erguer a festa nacional, que consagrasse o seu Vulto Inspirador como herói consensual. Interessa fazer uma breve reflexão sonbre a abrangência desta escolha, pois que os Homens Representativos da nossa História preferidos pela I República e pelo Estado Novo eram outros. O regime de 1910 adorava Pombal, pelo anti-jesuitismo e por ter sido expoente do centralismo tão caro aos jacobinos. Mas, menos confessadamente, suspeito que também lhes fosse caro pela maneira como reprimiu os Humildes, na Trafaria, o que não podia deixar de agradar aos Democráticos do Sr. Costa, também conhecido por Racha-Sindicalistas. Já os adeptos de Salazar inclinavam-se para o Infante D. Henrique, em que viam traços do Chefe, renunciando à vida em família para se entregar por inteiro à Coisa Pública; e por ter sido o fautor primeiro do Portugal em Cinco Continentes de que o Presidente do Conselho era o defensor actualizado e qualificado. Uns e outros tendiam a admirar D. João II, mas nunca o poderiam usar como estandarte, por o personagem não se prestar. Aos Republicanos custaria a "canonização laica" de quem tinha cingido a Coroa e, amplamente, exercido as funções desta em prol de Portugal, o que não convinha à propaganda que projectavam. Os Católicos reprovavam ao Tácito Português a amoralização da defesa e exercício do Poder
Sobrava então o Condestável, que não era pouco. A ideia patriótica da defesa da Nação ameaçada impunha-se a todos, fazendo esquecer a uns a reclusão conventual dos últimos tempos, contrabalançada pelo papel de braço armado da burguesia citadina revoltada que lhes era cara, por conferir pergaminhos ao seu próprio substrato social de apoio. E também a concentração de factores de produção que transferiu para a Sua Casa, como recompensa, ou pelo casamento, encarnava o ideal egoísta a que os próceres do radicalismo demo-liberal aspiravam. Aos Outros, traços menos simpáticos, como a contenda com a parentela, não poderiam fazer empalidecer a defesa, de espada na mão, do Homem Providencial que restaurasse as Leis Tradicionais do Reino, para isso se querendo seu Regedor e Defensor, talqualmente se pretendia que o Exército fizesse com essoutro Reabilitador de Portugal que, seis séculos mais tarde, regia e defendia o País.
É este potencial agrupador de tendências que hoje urge ressuscitar se ainda quisermos mobilizar as forças espirituais que possam fazer retornar alguma honra e alguma autonomia ao País. Recolhamo-nos portanto, à sombra da Espada a que nos devemos.