As Rendas e os Trapos
«Nenhum homem sabe que é jovem enquanto o é».
Chesterton
.
Tempos houve em que me atrevia a crismar a Juventude, de que hoje se celebra o Dia Internacional, como «um defeito que, felizmente, passa depressa». Presentemente, é mais dubitativa a minha apreciação. Se reconheço que muita da sua disponibilidade é fruto da ausência de critério, lamento a parte dela que me fugiu. E, por outro lado, tendo outrora sido adepto convicto do intercâmbio intelectual entre idades diversas, reconheço hoje muita razão ao Dr. Johnson, quando dizia que «uma conversa entre um velho e um jovem acaba geralmente com desprezo ou piedade, de qualquer das partes». Estou a envelhecer, o que não é novidade. Mas sinto-o, o que é muito má nova.
A imagem é uma pintura de Nicolas Lancret, «Juventude», da série «As Quatro Idades do Homem». Aconselha-se vivamente o confronto com as outras.
6 Comments:
At 1:34 AM, Anonymous said…
A citação é certíssima. Sei-o, não por me sentir envelhecer, mas por já ter envelhecido. Imagino que Chesterton também já não fosse novo quando chegou àquela conclusão.
...
Hoje deu-me saudades de ouvir a Suzanne Vega de 1985/87 (agora a Internete põe-nos essas velharias todas à mão). Revendo-a tão moça então e vendo-a amadurecida agora assimilei o processo a mim, agravando a nostalgia pela carga de sensações de juventude que a audição daquelas cançonetas me trouxe. Tristemente chego à conclusão que a minha juventude anda dispersa por estes e outros pedaços da vivência daqueles anos. E é penoso aproximar-me dela sem a poder tocar...
Ando agora aqui que não sei se estou deprimido se dormente.
Cumpts.
At 4:04 AM, Anonymous said…
Pode ser andaço, esta nostalgia.
Ou puseram-nos o Mundo tão mau que obrigatoriamente nos remetem para tempos em que ele era melhor.
Por acaso, e só por acaso, nesses tempos éramos novos.
At 4:04 AM, Anonymous said…
O anónimo anterior era eu. Foi sem querer.
É andaço.
At 12:25 PM, Anonymous said…
:)
Não estás nada a envelhecer.
At 2:49 PM, Anonymous said…
Quem foi que disse que "o homem tem a juventude da sua esperança e a velhice do seu desânimo"? Teria sido o general Mac Arthur? Parece-me que sim; se não, as minhas desculpas ao seu autor. O que importa é que a esperança e o desânimo são determinantes para aliviar, ou agravar o carimbo cronológico que nos acompanha: tenho visto velhos com uma invejável juventude e novos precocemente envelhecidos.
Alguém disse que, lá de cima, vê-se o mundo com os olhos de Deus: só se vêem as coisas maiores enquanto as menores desaparecem. Isso tem-me ajudado a ser tolerante quanto ao que tem menos importantância, aliviando a carga diária. Sou já vélho, mas bem conservado.
Um abraço, com desejos de uma prolongada juventude.
At 7:13 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Bic Laranja:
estou quase certo de que não era. A S.V. era excelente, ainda aqui voltarei a pôr poemas dela. Envelheçamos então, tão galhardamente quanto possível, Caro Amigo. Sem entorpecimentos.
Meu Caro Luís:
é a nostalgia que nos atinge e que praticamente todas as gerações anteriores sentiram a maior justificação que conheço do pessimismo.
Caro Anónimo:
Obrigado pelo voto. Mas creio que a valorização da juventude como mito e a desaprovação das suas concretizações é um traço inescapável de estar este Vosso servidor a resvalar.
Abraços.
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