O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Thursday, August 24, 2006

A Honra Incombustível

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A 23 de Agosto de 1944 o Führer do Reich Hitler deu, de novo, depois de o ter feito a 15, ao Comandante da Guarnição de Paris, ordem para destruir a cidade. Uma vez mais não foi obedecido. A 24 tudo estava como dantes. Do lado de lá estava um Homem de uma família tradicional da Silésia, que, tendo, muito embora, em termos de curriculum, sido um general de segunda linha, era um Cavalheiro: Dietrich Von Choltitz. Tinha do Generalato a ideia correctíssima de que serve para tentar ganhar batalhas, não para operar demolições de edifícios que satisfaçam a vingança de políticos arrivistas. Os historiadores dividem-se sobre se ele teria os meios para uma ofensiva contra os exércitos aliados que se aproximavam de Paris. Mas todos concordam que tinha mais do que suficientes para mandar pelos ares a parte histórica da cidade. Alguns estranham que ele não tenha tido idêntica atitude perante o bombardeamento de Roterdão e os meios de municiamento da artilharia empregue contra Sebastopol. Pura má vontade. Um cínico diria que essas duas cidades não são Paris. Mas qualquer homem de bem que se queira isento como observador poderá concluir que a grande diferença estava em uma destruição da Cidade-Luz não ter qualquer relevância operacional. Para além do bombardeamento da cidade holandesa ter sido conduzido pela aviação, como tantos outros, o que é um pouquinho diferente de colocar cargas explosivas só para infligir tanto mal quanto possível, nem que seja entristecendo.
Este antigo Pajem de uma Rainha sabia a diferença entre um Militar e um encarregado de vinganças sujas.

9 Comments:

  • At 10:50 PM, Blogger Manuel Nunes said…

    Há casos notáveis de desobediência. Vem-me à lembrança o do cônsul português em Bordéus, ARISTIDES DE SOUDA MENDES; e o do governador do Estado Português da Índia, GENERAL VASSALO E SILVA.
    Talvez fosse interessante puxarmos um pouco pela memória e tentarmos construir uma lista alargada.

     
  • At 7:54 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Visconde:
    Embora com valor muito menor, no que toca a resultados militares. Mas isso é a regra, claro está.

    Meu Caro D.E.:
    Não vejo como comparáveis esses casos. Sobre Vassalo já escrevi aqui um "post": a sua atitude é o contrário da de Von Choltitz que abordei: um achava que a função de um militar era lutar e morrer, não destruir monumentos. O outro achava o contrário. É claro que, dois dias depois, o Comandante da Guarnição de Paris também assinou uma acta de rendição, mas os contornos e o significado das duas capitulações era bem diferente. Lembremos que o General Indiano que cercou Goa, ao visitar os destroços do nosso barco que insistiu em resistir, disse: «foi a única coisa digna que encontrámos cá».
    O caso de Aristides Sousa Mendes não é de militares. Apesar as irregularidades face à lei internacional comportarem o risco da neutralidade do País, o puro instinto humanitário seria de enaltecer. No MNE, porém, corre a versão de que os motivos teriam sido de venalidade repugnante, como menciona o Embaixador Carlos Fernandes nas memórias. É um caso que deve ser mais aprofundadamente estudado.
    Abraços a Ambos.

     
  • At 10:44 AM, Anonymous Anonymous said…

    Bom Dia Paulo
    Mas acha que teria valido a pena o sacrrifício de jovens portugueses só para que os generais indianos os achassem heroicos? Porque estratégicamente não teria servido para nada. Não era possível defender Goa.

     
  • At 11:27 AM, Anonymous Anonymous said…

    VIVA A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 24 DE AGOSTO DE 1820!


    Temos novamente a tal cegueira política: como se uma Índia independente, e proclamando abertamente a sua vontade de terminar o domínio colonial, fosse aguardar indefinidamente - e os nossos militares devessem fazer-se matar pela honra, sem a menor hipótese.

    E temos, também, novas teorias da conspiração, aliás à boa maneira da esquerda radical que adora inventá-las.

     
  • At 12:44 PM, Anonymous Anonymous said…

    Caríssimo Misantropo:

    Louvo a menção que faz a Von Choltitz, um Homem de honra, como Von Stauffenberg, Stupnagel, Erwin Rommel e tantos outros. Ou Patton, do lado americano.

    O Caro Amigo continua a demonstrar, como seria de esperar, uma notabilíssima capacidade em relembrar os verdadeiro princípios que deveriam nortear a Humanidade. Tenho esperança que esta ainda conte com muitos Paulos Cunha Porto.

    Um grande abraço.

     
  • At 1:58 PM, Anonymous Anonymous said…

    Aristides Sousa Mendes!!!

    As dividas de jogo, um vicio carissimo, tinham que ser pagas...
    Mas fca sempre bem arranjar uns santinhos amigos do povo eleito.
    Mas, serei que estou errado!?

    Legionário

     
  • At 7:16 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Anónimo das 11.27H:
    Quem falou no que a Índia faria ou deixaria de fazer? Falei apenas do que fez. E sim, em casos de ordem expressa como estes, um Militar deve fazer-se matar. Se acha inútil o sacrifício da soldadagem, ao menos ele e os graduados não podem procurar salvar o couro. É um caso da honra ou da vida, ambas é que não pode ser. A frase do General indiano diz tudo, de resto.
    Quais teorias?
    Qual conspiração?
    Costuma chamar-se teoria da conspiração a uma hipótese alternativa de explicação de eventos reais, que envolva actividades secretas desenvolvidas por poderes que não as assumem, normalmente formuladas por autores não reconhecidos por públicos vastos, criando uma exaustiva e imaginativa coerência interna, ainda que destacada de todos os dados firmes conhecidos. Se se refere ao caso Sousa Mendes, falei de um Alto Funcionário do MNE português, que citava fontes de organismos oficiais britânicos e recomendei estudo aprofundado e imparcial, por não saber onde pára a verdade. Cadê a teoria? Estas apresentam-se cozinhadas condimentadas e prontas a consumir.
    Apesar da total liberdade de comentar e da irresponsabilidade do anonimato, conviria um bocadinho de articulação no que escreve e de atenção aos escritos que aborda.
    O seu arrazoado foi tão fora do contexto como o intróito de Terceira.

    Meu Caro Carlos Portugal:
    A bondade com que me distinguiu calou-me muito fundo. Até dá vontade de emoldurar.

    Meu Caro Legionário:
    Há suspeitas. Devem ser investigadas e publicadas as conclusões, quaisquer que sejam, sem receio de quebrar auras de santidade, ou de as confirmar. A Verdade deve estar acima.

     
  • At 5:40 PM, Anonymous Anonymous said…

    O Paulo tem razão, o meu comentário foi vago. Sejamos mais articulados então: enquanto os relatórios e as fontes não se tornarem públicas, porque esse alto funcionário do MNE é tão anónimo como eu, consideremos que se trata de mais uma das inúmeras calúnias que circulam pela blogosfera portuguesa, com o objectivo de branquear os vícios do regime ditatorial que tivemos (fascista, autoritário, social-corporativista, o que quiserem) e atacar a III República, vil responsável pelas desgraças da Nação.

     
  • At 7:05 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    O Embaixador Carlos Fernandes tem un currículo distinto e a obra está não só publicada em livro, como já recomendada neste blogue. Imaginar-se tão anónimo como ele imagino que seja o sonho dalguns... anónimos.
    Não aprovo calúnias contra quem quer que seja. Mas também não aprovo que, quando surgem elementos responsáveis citando fontes não-negligenciáveis se abdique de tentar apurar a verdade. Dará trabalho, mas é para isso que os Historiadores servem, seja qual for o sentido dos resultados.
    Não vejo o que é que o caso tem a ver com a III República. Tem por protagonista um simpatizante monárquico e ocorreu durante o Estado Novo. A III República já é suficientemente má para que lhe misturemos outras épocas. Não se trata de branquear regime nenhum, mas de ver até que ponto é compreensível a quebra da disciplina de um funcionário que poderia comprometer a posição do País quanto à não-entrada na guerra. Mão é uma questão ideológica, mas disciplinar e de relações internacionais, desculpável ou não por um momento de compaixão humana, cujo desinteresse, falso ou verdadeiro, é o que urge deslindar.

     

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