O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, July 03, 2006

Ultramares

Vasco Pulido Valente, em entrevista, hoje, ao «DN», dizia que Paiva Couceiro, ao contrário de Salazar, era partidário do abandono da Guiné e de Moçambique e de uma presença mais intensificada e intensa em Angola. A atribuição a Salazar da concepção inversa à do Comandante é algo superficial. Também aqui, o Presidente do Concelho tentou garantir a subsistência do essencial, através do desdobramento de Portugal em Províncias Continentais, Adjacentes e Ultramarinas, que era uma concepção intermédia entre o colonialismo puro e duro, de sabor oitocentista, dos Republicanos clássicos e o povoamento desenvolvimentista de Angola, de Couceiro, ou a confederação sonhada de Caetano. O estadista sabia bem que a África Portuguesa fazia o pleno na intransigência dos Monárquicos que a conquistaram ou dos Republicanos que dela fizeram bandeira, do Exército que se justificava com a possibilidade de ter de defendê-la, como dos intelectuais e diplomatas que nela viam uma salvação da queda da grandeza. Mas não desconhecia que, tanto como qualquer fraqueza na intransigência da sua defesa, a população branca podia dar-lhe problemas, seguindo uns o exemplo do Brasil, outros o da Rodésia, a partir do momento em que fosse reconheciodo um estatuto de união diferente do integracionista. E quanto ao abandono por motivos estratégicos, até Kaulza de Arriaga considerou o da Guiné. Esta unanimidade só foi quebrada por uma década de guerra, quando a burguesia crescente em número e prosperidade, começou a hostilizar o recrutamento dos filhinhos para a Frente. O António sabia-a toda. E também não ignorava o que vale um precedente. O Estado da Índia e São João Baptista de Ajudá não contavam, por terem sido devorados por países de que eram enclaves, não foram elevações à independência.

2 Comments:

  • At 5:39 PM, Blogger Marcos Pinho de Escobar said…

    Meu caro Paulo,

    Ninguém melhor do que o Amigo para, em poucas linhas, ir directo ao cerne da questão. Inflexível nos princípios, sabia Salazar ser maleável na táctica. Diferentemente de quase todos que andam para aí, o estadista entendia que o património da Nação não é pertença de uma geração, menos ainda de um governo -- é-o do conjunto das gerações que fizeram e continuarão Portugal.

    Grande texto!

    Um abraço.

     
  • At 7:11 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Euro-Ultramarino:
    Sempre amável, Carissimo Amigo. Salazar nunca perdeu de vista a condição política como «Arte do Possível», pesando sempre com mestria os apoios quer substanciais, quer de formalismo, em que se podia firmar. Como nunca se deixou cegar a ponto de não ver donde lhe poderia surgir perigo ameaçador...
    E claro que a conservação do que tinha achado ao chegar ao poder foi o seu Norte, pois não o vejo entusiasta da aventura africana. Sabia,isso sim, que era o derradeiro esteio contra o encolhimento e a padronização.
    Abraço.

     

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