Ultramares
Vasco Pulido Valente, em entrevista, hoje, ao «DN», dizia que Paiva Couceiro, ao contrário de Salazar, era partidário do abandono da Guiné e de Moçambique e de uma presença mais intensificada e intensa em Angola. A atribuição a Salazar da concepção inversa à do Comandante é algo superficial. Também aqui, o Presidente do Concelho tentou garantir a subsistência do essencial, através do desdobramento de Portugal em Províncias Continentais, Adjacentes e Ultramarinas, que era uma concepção intermédia entre o colonialismo puro e duro, de sabor oitocentista, dos Republicanos clássicos e o povoamento desenvolvimentista de Angola, de Couceiro, ou a confederação sonhada de Caetano. O estadista sabia bem que a África Portuguesa fazia o pleno na intransigência dos Monárquicos que a conquistaram ou dos Republicanos que dela fizeram bandeira, do Exército que se justificava com a possibilidade de ter de defendê-la, como dos intelectuais e diplomatas que nela viam uma salvação da queda da grandeza. Mas não desconhecia que, tanto como qualquer fraqueza na intransigência da sua defesa, a população branca podia dar-lhe problemas, seguindo uns o exemplo do Brasil, outros o da Rodésia, a partir do momento em que fosse reconheciodo um estatuto de união diferente do integracionista. E quanto ao abandono por motivos estratégicos, até Kaulza de Arriaga considerou o da Guiné. Esta unanimidade só foi quebrada por uma década de guerra, quando a burguesia crescente em número e prosperidade, começou a hostilizar o recrutamento dos filhinhos para a Frente. O António sabia-a toda. E também não ignorava o que vale um precedente. O Estado da Índia e São João Baptista de Ajudá não contavam, por terem sido devorados por países de que eram enclaves, não foram elevações à independência.
2 Comments:
At 5:39 PM, Marcos Pinho de Escobar said…
Meu caro Paulo,
Ninguém melhor do que o Amigo para, em poucas linhas, ir directo ao cerne da questão. Inflexível nos princípios, sabia Salazar ser maleável na táctica. Diferentemente de quase todos que andam para aí, o estadista entendia que o património da Nação não é pertença de uma geração, menos ainda de um governo -- é-o do conjunto das gerações que fizeram e continuarão Portugal.
Grande texto!
Um abraço.
At 7:11 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Euro-Ultramarino:
Sempre amável, Carissimo Amigo. Salazar nunca perdeu de vista a condição política como «Arte do Possível», pesando sempre com mestria os apoios quer substanciais, quer de formalismo, em que se podia firmar. Como nunca se deixou cegar a ponto de não ver donde lhe poderia surgir perigo ameaçador...
E claro que a conservação do que tinha achado ao chegar ao poder foi o seu Norte, pois não o vejo entusiasta da aventura africana. Sabia,isso sim, que era o derradeiro esteio contra o encolhimento e a padronização.
Abraço.
Post a Comment
<< Home