O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Sunday, July 02, 2006

O Homem Sem Disfarce

.


A 2 de Julho de 1816 deu-se o mais conciso resumo do que o homem é, se removermos a máscara da civilidade ajustada para a vida social e a da abstenção do crime com o mero receio da pena. Foi o naufrágio da Méduse. Ernst Jünger falava frequentemente da ironia de terem sido vitimados pelo desaparecimento no mar alguns dos que, sobranceiramente, eram dados como inafundáveis navios. No nosso caso tratava-se da mais moderna e bela fragata da Armada Francesa, transportando um governador nomeado e o seu séquito ao Senegal devolvido à França, após outra loucura, a napoleónica. Arrombado por um rochedo, o pânico fez evacuar o vaso, não sem lá deixar 17 marinheiros de que ainda sobreviveriam três, após dois meses de inferno. Havendo poucas chalupas e botes de salvamento, 150 pessoas foram postas numa jangada, rebocada por aquelas embarcações. Mas o egoísmo desumano é grande e, para se não atrasarem na chegada à costa, cortaram as amarras do estrado que transportava os desgraçados, deixando-os à deriva durante semanas, o suficiente para provar que não eram melhores do que os outros, através de motins, lançamentos borda fora e canibalismo, dos quais só parcialmente a loucura da sede desculpa. No fim, foram salvos quinze. Gostaria de saber se, no íntimo, cabendo-lhes responsabilidades, acreditariam que a alma poderia vir a ter tanta sorte como a final do corpo.
Géricault pintou o caso assim e bem atacado foi por isso. Porque lembrar a maldade como estado natural do Homem tem o seu preço.

Posted by Picasa

6 Comments:

  • At 12:03 AM, Anonymous Anonymous said…

    Esse é o estado de maldade do homem. Mas se achas NATURAL que a vida do ser humano se faça em jangadas à deriva...

    (nihilistas de merda)

     
  • At 8:09 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Acho maior naturalidade em flutuar sobre um bocado de madeira do que em conformações à hierarquia, e abstenções do crime induzidas por guardas, chicotes e mastros transformáveis em forcas, que garantem a tranquilidade e eficiência de um navio. Sem estes expoentes de civilização, é o que se vê...

     
  • At 4:26 PM, Anonymous Anonymous said…

    É verdade. Honremos, por isso, esses expoentes de civilização. Ou voltemos para a selva de onde viemos, como animais que naturalmente somos.

    Ou leiam menos Platão.

     
  • At 7:30 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Com a agravante, para nós, de que os outros animais não comeram da Árvore do Conhecimento, sendo portanto inocentes quanto a Bem e Mal.

     
  • At 5:11 PM, Anonymous Anonymous said…

    Exactamente. Não dá para voltar atrás. Por isso, ou nos comemos uns aos outros ou lá vamos erguendo uns expoentes de civilização, a ver se conseguimos sobreviver um pouco mais facilmente...

     
  • At 6:57 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Ora bem, que «comermo-nos» só num sentido figurado e quando haja coincidência de vontades!

     

Post a Comment

<< Home

 
">
BuyCheap
      Viagra Online From An Online pharmacy
Viagra