Identificação das Bases
Não entendo como se possa pensar como consolo, se não como compensação, o ligeiro aumento de aproveitamento escolar em Matemática, face à duplicação das negativas a Português. Por certo que quase tudo o que existe na terra pode ser reduzido a formulações numéricas, nem que seja pelas intermediações da física, da química e da geometria. E até admito, como a experiência demonstra, que é possível ministrar os conhecimentos operativos abstractos a alunos com escassa capacidade de apreensão, linguisticamente falando. Mas a queda do domínio da língua dificulta grandemente duas coisas: o reconhecimento da qualidade poética e carga dramática na Existência e a própria sociabilidade. O que é um adolescente com conhecimentos e capacidades numéricos, mas desprovido de habilitação para uma compreensão aceitável do seu idioma? Pouco mais do que uma máquina. E nem falo da capacidade de expressão, que será sempre desigual, sem males maiores; falo da do reconhecimento do que é dado, de modo a poder ser pensado com grau aceitável de concretização.
Como resolver? Pela volta à triologia sujeito-predicado-complemento directo, sem disfarces, que, podendo ser opressiva, conferia uma regra promotora da coesão, no grupo. Pela exigência de leitura de livros inteiros, em vez de capítulos ou extractos menores, para fazer interiorizar a diferença entre uma obra e retalhos dispersos. E, tanto quanto possível, pelo despertar do interesse para o alargamento da amplitude lexical. Mas esta última via dependerá sempre do que o próprio professor haja conseguido nesse campo.
2 Comments:
At 3:26 PM, Zé Maria said…
Ó meu caro Paulo:
Como lhe é habitual, prefere o essencial em vez do acessório.
Neste caso, no que respeita à disciplina de Português, afinal a nossa matriz cultural, como povo, a nossa referência congregadora, é bem verdade que nos deixámos ir no "quanto mais fácil e menos exigente, melhor".
Essa de trocarmos os livros completos (até para lhes sentirmos o peso, a textura, a respiração, etc.) pelos 'resumos', pelos 'capitulos ou extratos menores', como muito bem diz, só lembraria aos mais boçais dos ignorantes.
Cá por mim, sou capaz de não ter receitas milagrosas, mas creio bem é que não poderemos continuar muito tempo a assobiar para o lado.
Aquele abraço amigo
At 8:32 PM, Paulo Cunha Porto said…
Mas, Caro Espadachim, se isto assim continua, nem essas já, qualquer dia, sabem memorizar, pois que interpretar é pedido demasiado. Nunca me esquecerei de um "barman" de estação ferroviária que, com ares muito sabedores, defendia "bluff" como «uma coisa que falhou».
Meu Caro Zé Maria:
Trata-se de uma coisa que me faz sofrer, digo-o sem que seja uma mera figura de estilo. Se os nossos decisores pensam que é com fragmentos truncados que geram hábitos de leitura, bem podem limpar as mãos à parede!
Abraços a Ambos.
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