O Cabo dos Trabalhos

Cada vez mais se reforça a ideia de que o rapto do cabo israelita Shalit por Hamas & associados tinha, sobretudo, objectivos internos no Mundo Palestiniano: a luta pelo poder, dentro do movimento, entre o leader radical exilado e o Primeiro-Ministro adepto de um compromisso que aceitaria um reconhecimento do Estado Hebraico, como também a tentativa de aproveitar a reacção armada israelita para ganhar vontades palestinianas para a causa da intransigência, se um dia o referendo voltar a estar em cima da mesa. Daí que a linguagem do Hamas se tenha tornado inusitadamente sibilina. Dizem que o jovem militar «está vivo e a ser tratado segundo as regras do Islão», aludindo às normas de hospitalidade, mas só sossegando os que não conhecem outras, relativas ao tratamento dos "infiéis" com que se luta. E, em vez das habituais jeremíadas contra a maldade judaica, optaram por dizer que, por causa da ofensiva em curso, o caso do raptado «está mais complicado do que dantes». Resta saber para quem. Para os Israelitas, está igual quanto ao rapaz e melhor no resto, por irem sendo eliminados uns quantos adeptos dos que ameaçam matá-lo. Mas toda esta odisseia vem provar que o ódio palestiniano ao hebreus é menor do que o alimentado no Ocidente pelos anti-semitas. Por muito antigo e permanente que seja, a aversão é por os terem ao lado e como vencedores numa terra que lhes disputam. Enquanto que o anti-semitismo das franjas europeias que o alimentam visa a própria ideia do judeu e todas as suas concretizações, onde quer que seja.