A Verdade do Mito
110 milhões de anos é conta que está na moda em matéria de achados. Depois de ter sido desencantado o antepassado comum dos patos, encontrou-se agora, fossilizada, uma teia de aranha com tão provecta idade, trazendo como brinde alguns insectos nela enredados desde então. A descoberta leva a antiguidade dos aracnídeos direitinha para a contemporaneidade de alguns dinossauros.
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Mas não pude impedir-me de pensar no mito de Aracne, segundo o qual, a portadora do nome, uma notável tecelã imortalizada por Ovídio, teria entrado em despique com Minerva, a Deusa da Sabedoria, por, no seu desmedido orgulho, se achar capaz de tecer melhor do que a Divindade, recusando-se assim a atribuir-lhe o lugar que era Dela. Numa competição feroz até parece ter vencido, ou pelo menos aguentado, o que irritou a versão romana de Atena, que lhe destruiu o trabalho e a feriu, fisicamente, mas, pior, também no domínio espiritual, levando-a a enforcar-se. Apiedada, a Olímpica Rival tê-la-ia transformado no animal que todos conhecemos, para que eternamente tecesse, com o seu maravilhoso dom. A antiquíssima obra fiada que hoje se encontrou vem provar que a mitologia tinha razão. E se atentarem na gracinha final da notícia, verão que o homem também não anda tão longe dessa essência. Conclusão bem alargável à Espécie, na medida em que a jactância resultante dos prodígios técnicos de que somos capazes nos faça esquecer o Divino.
2 Comments:
At 11:54 AM, Anonymous said…
Pior. Confundem-se...
Cumpts.
At 12:04 PM, Paulo Cunha Porto said…
É bem verdade, Caríssimo Bic Laranja, tal é a adoração dirigida ao que não deveria ocupar os nossos pensamentos...
Abraço.
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