O Contraste Acentuado
Há dias falava, aqui na jaula, com o Nelson Buíça, sobre os méritos e deméritos do Japão contemporâneo, mas acabámos por nos cingir ao aspecto político-económico e a generalidades sobre a beleza da tradição e a repulsa inspirada por alguma remanescente permanência de dureza no carácter. Passo o olhar por «Le Lotus et le Robot», de Arthur Koestler, livro de viagens em que o Autor põe frente a frente o deve e o haver do Japão que encontrou. E na parte negativa salienta o abuso dos tranquilizantes, a obsessão com a saúde ao ponto de, na rua, muita gente andar com máscaras cirúrgicas ajustadas, não por problemas de poluição, mas para contrariar a transmissibilidade dos micróbios; como o hábito de, nos transportes públicos, cada um ir com o seu rádio portátil com alto volume. Não posso deixar de pensar que cada um deseja o que não tem: os ocidentais, fascinados pela intensificação do aproveitamento do instante do Zen e pela permanência pós-morte da pessoa, no Xintoísmo. Os nipónicos apostando na importação do aniquilamento da pessoa expressa nos calmantes e no encobrimento parcelar do rosto, bem como na diluição das e nas várias programações radiofónicas. É o eterno complexo de inferioridade que promove o distante e diminui o próprio, seja pelo turismo espiritual, ou pela subjugação à moda apreendida em revistas estrangeiras, podendo ir à exageração dela, como no caso das protecções, que exacerbam os princípios higiénicos bebidos no Ocidente.
3 Comments:
At 3:54 PM, Anonymous said…
O Dai Nippon actual é uma esponja, por circunstâncias várias, mas sobretudo pela derrota na Guerra. A tecnologia do diabo caiu-lhes em cima e em duplicado...(adaptação!)
Mas não nos iludamos para alem daquela orgia técnico-anarco-futurista-individualista ainda está latente a alma do samurai que eternizou o Japão. Lembro uma passagem de Mishima que dizia mais ou menos assim – Eles (os ocidentais) não querem saber da nossa literatura, eles adoram é as nossas espadas. Eu acrescentaria à literatura, a Sony, a Onda, a Toyota...
As espadas, meu caro, são espadas e os samurais a Alma do Japão e por mais ridículo que pareça aquela juventude, tal como Julius Evola preconizava - que o demónio económico chegaria a terras "ainda virgens" e o mal se transmitiria - aquela juventude, dizia, são netos de gente que não tinha no seu vocabulário a palavra rendição...
Ainda existe esperança - lá e cá.
Legionário
At 7:24 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Espadachim:
É outra importação, não digo quanto ao sexo, mas quanto à baixa natalidade. Onde é que ela também existe, onde é?
Meu Caro Legionário:
Gostaria tremendamente de acreditar nisso. E se o descresse totalmente não escreveria dois terços do que escrevo, publicaria apenas uns fogachos furtados minha faceta 100% contemplativa, digamos assim. Mas não vejo na Juventude de lá, como na de cá, movimentos generalizados e numericamente relevantes de recuperação, como ambos quereríamos.
Forte abraço.
At 6:53 PM, Eurico de Barros said…
O autêntico Japão continua a existir muito para além dessas características apontadas pelo Koestler -e já agora, convém ler livros mais próximos de nós. Recomendo, por exemplo, «The Roads to Sata», de Alan Booth, ou «The Japanese», de Joe Joseph. (De preferência, no original, evitando as traduções).
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