O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Friday, June 09, 2006

Teleologia da Libertação

Tinha eu uns tenros 13 ou 14 aninhos e abeirei-me de uma Professora couraçada de paciência, dizendo que não fazia trabalhos de casa, «por achá-los um método pedagogicamente errado». Fui despedido com um «Que lata!», mas como as coisas funcionaram, todos os olhos foram fechados e até acabei por apanhar uma nota bem simpática.
Contudo, é certo que sempre me irritou a opressora instituição do TPC. Os meus Pais continuadamente me repetiram que há horas para tudo. Só que eu interpretava a subsunção a esse magno princípio de forma a encarar a escola como infractora dele, já que o tempo de estudar seria o passado lá e qualquer prolongamento preenchido pelas matérias curriculares fora do recinto apropriado era por mim tido como um abuso.
Sempre fui rapazinho muito ciente da desigualdade entre as pessoas. Logo não podia abstrair de nem todos terem idênticas capacidades de absorção imediata e de retenção dos ensinamentos, como também compreendia que uma menor aptidão de alguns para as provas pudesse ser compensada pela elaboração de trabalhos. Porém, se se atendia a essa desigualdade, dever-se-ia atender a outra: a da multiplicidade de interesses. Todos os TPC com que eu fosse obrigado a gastar o meu tempo seriam um roubo aos livros, onde já queria estudar outras matérias, que não as ensinadas no Liceu. Desde que a eficácia fosse salvaguardada, devia-se exigir diferentemente aos alunos, em matéria de Trabalho de Casa. O que era a situação de facto. Eu, todavia, queria-a também de direito.
Por isso louvo, com toda a veemência, ao menos esta medida da ministra da Educação: substituir os trabalhos para casa, esses hediondos ladrões da minha infância e adolescência, por trabalhos na escola acompanhados por professores, desde que o sejam na medida da estrita necessidade de cada aluno. Não concordo é que a razão esteja em combater a desiguldade oriunda da formação paterna; deverá, sim, visar reconhecer a que existe e existirá sempre entre os petizes, ajudando os mais necessitados. É preciso que a escola não abdique. Mas também o é que não se estique. Trata-se de uma questão de liberdade.

5 Comments:

  • At 11:08 AM, Anonymous Anonymous said…

    Tem bons argumentos, o meu caro Paulo. Mas há ganhos ocultos: o resultado será (de certeza) mais simplex para os meninos e mais trabalho para os professores. Como se vê nem é mau. Resta saber se os meninos que se tornarem professores gostarão de trabalhar... Cumpts.

     
  • At 11:18 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Hihihihihi! Isso é que é pensar no futuro, Caro Bic Laranja!
    Abraço.

     
  • At 3:09 PM, Anonymous Anonymous said…

    Magnífico raciocínio, pcp. É extremamente agradável respirar, por aqui, estas arejadas ideias.

     
  • At 3:27 PM, Blogger L. Rodrigues said…

    "Não concordo é que a razão esteja em combater a desiguldade oriunda da formação paterna; deverá, sim, visar reconhecer a que existe e existirá sempre entre os petizes"

    E qual será o mal de combater os efeitos das duas? Não percebo esta lógica. Ninguém escolhe a inteligência com que nasce, nem os pais de que nasce.
    A escola, nomeadamente o ensino público, deverá proporcinar tanto quanto possivel os meios para que a criança não seja penalizada por nascer de gente destituida ou inculta.
    E por outro lado, permitir que cada um desenvolva as suas aptidões naturais ao máximo.

     
  • At 7:00 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Caro Anónimo

    Meu Caro L.Rodrigues: o reconhecimento da desigualdade que existe deve, para mim, ser o fundamento para ajudar quem precisa, não estamos em desacordo. Como fundamento é que não posso aceitar qualquer discurso igualitário, que faz apelo à inveja social e à concorrência individual, duas monstruosidades que, julgo, deveriam ser erradicadas, substituindo-as pela humildade perseverante no auto-aperfeiçoamento. Se a curto prazo o alcance útil é idêntico, por ser igual a prestação pública com uma ou outra das bases, a termo mais longo revelar-se-á abissal a diferença de qualidade nos homens que formamos.
    Grande abraço.

     

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