O Desenlace Ambíguo
Aquilo que há muito era previsível aconteceu: foram postas de parte as falinhas mansas que salvaguardavam as aparências e o Presidente Xanana, de Timor, exigiu, preto no branco, a demissão do Primeiro-Ministro Alkatiri. Devo dizer que não há comparação entre a desconfiança que o iminente ex-Chefe de Governo me inspira e a simpatia que nutro pelo ex-Comandante da guerrilha. Quer pelas imagens pessoais respectivas, quer pelo muito mal que, no Passado, a Fretilim fez a Portugueses de cá e de lá, que o eram os habitantes da parte Leste da Ilha. Mas temo que a total xananização do País signifique a derrocada dos últimos obstáculos ao total domínio dele pelos australianos. O futuro do recentíssimo Estado só será viável com a ascensão de gerações não envolvidas nas lutas pretéritas, receio-o bem.
18 Comments:
At 2:09 PM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Só agora estou ao corrente dessa tomada de posição, a possível demissão de Alkatiri. Já viu onde é que estamos metidos? E isto é o mesmo que se passa em Angola, em Moçambique, em todas essas descolonizações comandadas desde o Terreiro do Paço até Moscovo: os nossos aliados acabam por ser os tiranetes comunistóides que lá deixámos, que ajudámos a subir ao poder!!!
Como se o marido enganado tivesse como única aliada, a esposa enganadora!
"Mísera sorte, estranha condição"!
Um abraço.
At 6:37 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro JSM:
Ora aí está o dedo na ferida, tudo por causa da demissão exemplar de 1975. Timor sempre teve alguma razão de queixa, por não fazer parte da prioridade metropolitana. Para amanhã ou depois preparo uma incursão na História dessa relação.
Grande abraço.
At 10:37 AM, zazie said…
Paulo, a história é outra. No ano passado já se sabia que o golpe de Estado estava para acontecer. Eu próprio o escrevi por aí, mas janelinhas.
Não há bons nem maus, nem há democracia nem oposição. Há lutas internas e um país vendido para sustentar o poder. Para pagar a todas aquelas milícias mal integradas nas forças armadas e nas polícias.
E há, acima de tudo, corrupção.
Creio que é pior do que se passa em Àfrica pois neste caso nem têm sentimentos de nacionalidade. Aquilo está tudo dividido em tribalismos e o único factor que ainda consegue alguma coesão é a Igreja.
O problema é que sa Igreja metida em golpes de Estado também não é la coisa muito católica...
Pior que o XAnana é o Ramos Horta. E o Alkatari é uma burla de quem o povo nunca gostou.
Mas estou de acordo que o erro vem de trás. Abandonou-se aquilo às 3 pancadas e agora o neo-colonialismo é dos estrangeiros.
Mas também tinha achado um erro enorme se desta vez o Freitas tivesse mandado para lá o exército. Não mandou e fez bem. Não tinha a quem servir e não se manda exército para um um local em que está a decorrer um golpe de Estado preparado há mais de um ano.
At 10:39 AM, zazie said…
os 150 GNRs foi só para disfarçar e conseguir ficar neutro na mesma. Até acho que foi inteligente.
At 10:44 AM, zazie said…
Fico à espera desse post. Vais encontrar a Igreja à frente desde o tempo das capitanias. Timor é um caso àparte na história colonial.
E cheio de traumas.
Quanto às novas gerações o problema é que não existem. Eles abafaram totalmente a oposição. Não existe democracia em Timor. Como não exisxte verdadeira liberdade de expressão. E a Fretlinin não formou quadros. Nem publica documentos. Aquilo transitou da montana e dos refugiados para uma clique corrupta que tomou o poder. E nem sequer existiram eleições legislativas. O governo nunca foi eleito.
Agora fazem golpes de Estado entre os mesmos, como dantes também se eliminavam mutuamente.
E a venda à Áustrália foi feita pelo Alkatari. Assinou um acordo sem delimitação de águas teritoriais a troco de dólares para aguentar o poder. O resultado dá para entender qual é, não dá?
Não é só o petróleo, é tudo o que está no mar em torno daquela área que vai para a Austrália- as pescas, idem.
At 11:31 AM, o engenheiro said…
Meu caro Paulo
A tua amiga zazie, mistura tudo como os jornalistas portugueses gostam de fazer (até em off).
O Marí é um f.d.p. da pior espécie mas isso não invalida a análise que eu fiz há algum tempo.
E, como seria de esperar, o Freitas pôs-se a jeito, baixando as calças, para a Austrália mostrar quem manda efectivamente em Timor (com o beneplácito convergemente da ONU e dos EUAs).
O nosso lesmóide ministro vai deixando a sua abjeta baba à medida que desliza nos jardins a Oriente...
Se para a tua incursão histórica me permites uma sugestão de autor de referência busca o Luís Filipe Thomaz.
At 12:17 PM, zazie said…
bem, eu tenho fontes directas, não sei quais são as do engenheiro. Pode consultar os arquivos do Baranabé e ver o que eu disse há um ano.
Na altura também me chamaram piropos idênticos ao saeu. O Rui Tavares até me inslutou e chamou boateira porque também teimava que o problema era apenas da Igreja.
Não era, era a preparação do Golpe de Estado que acabou de se efectuar.
E o que sei não passa por jornalistas. Os jornalistas de cá não sabem absolutamente nada do que se passa em Timor.
Já agora, pergunto-lhe: leu em algum lado há um ano que era isto que estava para acontecer?
então leia o que eu escrevi na altura. Esta´online no Barnabé e talvez ainda esteja nas janelinhas do Blásfémias.
Não houve um único jornalista que por cá referisse isso.
Nem um.
Mas como lhe digo, se calhar o engenheiro tem melhor fontes que as minhas e até lê as actas da assembleia...
At 12:18 PM, zazie said…
o Luiz Filipe Thomaz estudou mais o Oriente. Conheço bem os seus estudos e até li a tese e de Timor não é especialista.
At 12:24 PM, zazie said…
leia o Clestino da Silva, por exemplo
As memórias do Padre Domingues Soares.
E para o presente quem sabe melhor o que se passa inernamente é o Apolinário Guterres.
O trabalho do Filipe Thomaz tem mais a ver com a pubnlicação de documentos no Instituto Camões
At 12:26 PM, zazie said…
agora chatear o Freitas a propóstito disto é facciosismo, quanto a mim.
Queria que um ministro mandasse um exército para um país onde estava a decorrer um golpe de Estado?
ou será que ainda não se entendeu que foi isto que aconteceu?
golpe de Estado, simplesmente. Preparado há muito. Não aconteceu o ano passado por acaso. mas era para acontecer.
At 12:42 PM, zazie said…
Só uma nota: o Xanana só é um mito para quem não conhece a realidade timorense. E o Ramos Horta nem isso.
O grande problema este golpe é que foi dado entre os mesmos. Aliás, se houvesse democracia havia alternativa democrática e o isso é que não existe.
At 12:42 PM, zazie said…
deste
At 10:33 PM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Zazie:
Confesso que não conhecia a Tua profecia política no Barnabé. Quanto ao R. H. e ao Alkatiri, não comprava um gelado a qualquer deles O Xanana é-me mais simpático, mas, objectivamente, parece estar a servir a Austrália. A história que eu ia contar é do Séc. XIX, mas penso-a emblemática das infelicidades daquele Povo. Vou ver se a ponho amanhã, porque isto hoje por aqui esteve tremendo. Eu penso que o envio de forças do Exército ou Fuzileiros Navais para lá teria tirado aos "Aussies" o monopólio do controlo formal que paralisa a GNR. Não é crível, apesar de tudo, que desatassem a disparar contra os nossos militares.
Meu Caro Engenheiro:
Não te metas com a Zazie, ou ainda Te transformas num Pacheco Pereira qualquer, sem embargo de Ela se defender muito bem Sozinha, hihihihi.
Beijinhos e abraços.
At 11:45 PM, zazie said…
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At 11:56 PM, zazie said…
(ups! Estava ao telefone e saiu tudo com demasiadas gralhas)
Só algumas correcções:
1- o Filpe Thomaz é de ler e vale a pena pegar também no Gentio de Timor do Pinto Correia e no D Jaime Garcia Goulard.
O Xanana é o idiota útil e está passado. Quem manda é a mulher e se há ligações à Austrália é por esse lado (diz-se que ela até fazia parte dos serviços secretos australianos).
Em termos muito genéricos, o que tem acontecido é luta interna com o Xanana a fazer em cacos a Fretilin. Pelo meio, a grande ameaça é a geração perdida (os filhos da indonésia, sem currículos, sem sentido histórico. Essa geração que em 10 anos vai ser ultrapassada pela mais nova, formada pelo ensino dos portugueses que para lá foram.
São os PDs que vão querer uma Nova Santa Cruz e que só se não puderem é que não o fazem amanhã no Parlamento.
Os nossos GNRs podem ter problemas com esses tipos. Essa geração detesta os portugueses. Não são filhos de ninguém. Nem pertencem aos 7 mil das elites que ainda vivem das nossas reformas da função pública, nem são quadros fundadores nem têm qualquer identidade. Muitos são literalmente filhos de mulheres timorenses e de indonésios do tempo da ocupação.
O Xanana tem o golpe preparado mas a ser feito legalmente. Não é por acaso que até chamou o Bacelar de Vasconcelos, que é o autor da Constituição.
As perspectivas não são boas. Ou se mantém o Mari, de quem o povo não gosta, e o Xanana é substituído legalmente, ou o poder cai e aquilo acaba em protectorado australiano.
Coisa que não há-de agradar à Indonésia pois problemas com eles já os tem de sobra na Nova Guiné.
Para os portugueses que lá estão também a coisa pode ficar bera pois os PDs detestam-nos. Mesmo sem sangue, o que não é nada provável pois os PDs precisam de bode- expiatório e os portugueses serão os primeiros.
Amanhã vai ser o dia determinante. Esperemos que os GNRs não se metam e estejam a ser bem aconselhados por cá.
Estas coisas não funcionam propriamente por simpatias. Também não nutro simpatia pelo Alkatari mas a verdade é que, se o Ramos Horta é o que todos sabemos, o Xanana como idiota útil em ajuste de contas só pode ser neste momento a porta aberta para o caos.
Quanto ao Freitas discordo. Nós não tínhamos alternativa. Mandar para lá o exército no meio de um golpe de Estado, meticulosamente preparado para acontecer antes de aprovação do Orçamento, era loucura total.
Não enviar nada ficava mal. E é verdade que os GNRs sempre foram bem-vistos pela população.
Isto tudo até hoje. A partir daqui penso que pode ser demasiado temerário. Ou ficam sob a direcção do Ramos Pinto e ele aguenta a coisa, sem se meterem em mais nada, ou têm armadilha dos PDs que só mesmo se não puderem de todo é que não fazem banho de sangue.
Beijocas
At 8:19 AM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Zazie:
Cá ficaremos, então, de rádio de pilhas no ouvido, por motivo diferente do futebol.
Beijocas.
PS: A propósito, sabes - ou alguém sabe - que seguimento deu o Ministro Freitas ao incidente com o Senhor D. Duarte?
At 9:45 AM, zazie said…
Paulo,
Disso não sei absolutamente nada. O pouco que sei de Timor é por contactos com pessoas que estão perto da situação.
De cá e do Freitas e do governo estou sempre a zero.
O D. Duarte é verdade que foi das poucas pessoas em Portugal que sempre se interessou por Timor.
Mas Timor mudou muito. Temo que venha o caos.
At 12:06 PM, Paulo Cunha Porto said…
É também o que temo, Querida Zazie. Que será um regresso ao passado, conforme mostra a historieta que publiquei há pouco.
Beijocas.
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