O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Tuesday, June 20, 2006

Contra Tudo e Contra Todos

Se em França o tratamento que recebe pela imprensa é de desfavor, em Portugal raia a pura histeria mentirosa. Não me refiro ao costumeiro recurso de chamar «fascista» a um Homem que, aos 16 anos, integrava a resistência contra a Alemanha de Hitler. Nem de dizer torcionário um oficial de forças de elite, por ter participado em operações de contra-insurreição que visavam os irregulares assassinos dos seus compatriotas. Falo de coisas tão mesquinhas como a tentativa de tornar repugnante o indivíduo, quando, no seu País, o entendimento dominante entre os adversários é a rejeição das ideias, mas o reconhecimento do poder atractivo do que as propaga. Ou do eterno rótulo de «racista» com que o mimoseiam, quando ele até acabou por fazer sair da FN os políticos preocupados com prioridades raciais, Mégret e os seus. Jean-Marie Le Pen celebra hoje o seu aniversário. Várias questões me separam dele, a começar pela política
árabe, que, privilegiando a autonomia da França, compromete, quanto a mim, a causa comum do Ocidente. Ou a imigração, problema que será premente para os franceses, mas que não é a principal preocupação em Portugal, sem embargo de merecer acompanhamento e atenção. De qualquer forma, cresci com o exemplo de um Político que nunca se deixou seduzir pela esponja dos partidos do sistema, apesar de ocasiões não terem faltado. Que sendo o mais jovem deputado da França, eleito pelo movimento pujadista, abdicou das possibilidades de conforto que o assento parlamentar dava, para ir para a guerra arriscar os ossos pelos seus. Que conseguiu, num combate de décadas, transformar meia dúzia de seguidores no primeiro partido operário de França, o que mais dói aos marxistas, a quem destroça ver os seus escravos de outrora libertos das cadeias da persistência da luta de classes. Não estimo a falta de critério com que, impensadamente, apoia palhaços como Jirinowsli, demagogos como Haider, ou quaisquer grupúsculos que, por vezes com as melhores intenções, outras sem elas, se denominam "nacionalistas". Mas prezo o admirador de Salazar e o milionário que soube mudar as suas vistas iniciais, de ultra-liberalismo nos domínios fiscal e assistencial, apoiando o magnífico trabalho de militantes do seu partido em prol dos pobres, como em Marselha. Este combate de um Só, que vale bastante mais do que a força que criou, merece respeito. Sinal dele é o que este pequeno texto pretende dar.

11 Comments:

  • At 11:20 AM, Anonymous Anonymous said…

    Não conhecia, com esta profundidade, o percurso e os traços biográficos deste homem. Obrigado por mo revelar e por mais este escrito ao arrepio da manada.

     
  • At 11:24 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Anónimo:
    é natural, que da imprensa que temos não há a esperar a revelação do que não convém. Sempre às ordens!

     
  • At 11:29 AM, Blogger Flávio Santos said…

    Bom postal. Vou escrever algo no meu tasco sobre o homem.

     
  • At 11:44 AM, Anonymous Anonymous said…

    Error de José María Aznar en 2002, apoyar la candidatura del "escroq"......

     
  • At 11:48 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Caro F. Vou ler com a atenção costumada, que é toda.

    Caro Amigo: pois é, até Governantes Capazes são traídos pelas cumplicidades das organizações internacionalistas em que se inscrevem os respectivos partidos...
    Abraços a Ambos.

     
  • At 1:07 PM, Blogger desculpeqqc said…

    Obrigado pela resenha.
    Se o que me tranquiliza nessa personagem é o seu percurso histórico, mais receoso fico em relação à continuidade do movimento após a sua ausência.

     
  • At 5:23 PM, Blogger Mendo Ramires said…

    Belo texto, que para muitos funcionará como introdução à fascinante Vida e Obra de Jean-Marie Le Pen — espera-se.

     
  • At 7:07 PM, Anonymous Anonymous said…

    Le Pen, admirador de Clemenceau, Le Tiger. Hijas "loiras" atractivas....

     
  • At 7:46 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Sapka:
    nunca vi Le Pen fazer a corte à Ciciolina para as câmaras, aparecer embriagado em eventos públicos, ou baixar as calças no parlamento, como Jirinowski.
    Nunca o vi apropriar-se de um partido liberal para por ele fazer passar-se, camuflado, nem prometer baixas indiscriminadas de impostos, ou apertar anonimamente a mão do anterior "Mayor" de Nova Iorque visando aparecer ao lado na fotografia, como Haider.
    Ouvi Le Pen louvar Salazar, o que considero um ponto positivo em quem quer que o faça, não conhecendo, antes pelo contrário, qualquer declaração nesse sentido do personagem que menciona.
    Misturar nada custa, porque nada vale. Saber distinguir é que exige um bocadinho mais.

    Meu Caro LFM: isso é preocupação candentíssima. Deixei um cheirinho em comentário no «Horizonte», mas dá-me ideia para, um dia destes, fazer um "post" sobre o assunto.
    Abraço.

    Meu Caro Mendo: Obrigadão. Sempre indulgente para com os Amigos...
    Abraço.

    Caro Amigo: no caso da filha que J-M.L.P. quer que lhe suceda, ela tem bom aspecto e não é parva. Mas é abortista!
    Abraço.

     
  • At 3:57 PM, Blogger Marcos Pinho de Escobar said…

    Meu caro Paulo,

    Parabéns pela evocação do Le Pen, exemplo em carne e osso da democracia dos democratas, perseguido político da França mãe de 1789. Apesar de chegar ao segundo lugar nas presidenciais, não é recebido pelo chefe do Estado. Apesar de chefiar um movimento que recolhe os seus 20 por cento do eleitorado, não elege nem um deputado, enquanto 7 ou 8 por cento de votos estalinianos fazem 2 dúzias deles... Perseguido, insultado, agredido por meios legais e ilegais - por defender uma França francesa e as verdadeiras liberdades individuais.
    Belo texto, como tudo o que vem da pena do Paulo. Sabia o Amigo que o Jean-Marie tornou-se milionário unicamente por herança deixada por um admirador do seu combate?
    Um abraço.

     
  • At 10:48 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Sabia, sim, Caro Euro-Ultramarino, por sinal um milionário monárquico, mas que soube reconhecer o Patriota. Quanto ao resto, J-M.L.P. costumava brincar com a marginalização e os insultos, dizendo: «sou a besta imunda que sobe, sobe...». Obrigado pelo elogio.
    Abraço.

     

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