Arte da Fuga

Oiço em «COM SAL E PIMENTA», na «RÁDIO RENASCENÇA», a nova de que o Governo se prepara para criminalizar os casamentos de conveniência. Como Diabo irão descobrir quais sejam, é coisa que me escapa. Talvez recorrendo a um detector de mentiras. Ora eu, que sou completamente anti-máquina e fico nervoso só de ver uma de lavar roupa, uma carripana, ou um telemóvel, devo disparar qualquer aparelhómetro desses a que me sujeite. O que só viria confirmar a visão prévia das autoridades: se casar com uma mulher rica, eu, pobre como Job, faço-o porque me convém. Se o fizer com uma pobre acharão, insofismavelmente, que me foi conveniente mostrar desapego. Se o matrimónio for com uma estrangeira, dependendo do País, é porque a um de nós conveio a coisa. Se casasse com uma Mulher terna, é evidente que iria parar ao xilindró, pelo preconceito que vê os misantropos incapazes de valorizar a ternura. Fosse com uma Mulher brava, seria sempre fácil desenterrar um subconsciente masoquismo, por psicanálises várias, que o trouxessem das profundezas à luz. Claro que quem casa fá-lo por ter achado que lhe não convinha ficar solteiro. E se o critério for a durabilidade, o que se proscreverá é bem capaz de fundar-se na presunção que estigmatize a mudança de ideias. Não quero ver o Sol nascer aos quadradinhos, logo, não caso. Oooops, é bem capaz de ser essa a intenção, penalizar o matrimónio. Já não digo nada. Há é que reactivar a figura do casamento secreto, apesar de isso poder motivar o lançamento do SIS no meu encalço...