Tagarelices Togadas
Um advogado de Loures foi condenado por ter acusado um Juiz de um julgamento que lhe foi desfavorável de «deslealdade e quase obscenidade da postura». Não faço a menor ideia se os factos dariam razão ao desbocado causídico, porém o que não pode ser deixado passar em claro é a pobreza com que se defendeu. Disse que «no exercício das suas funções o advogado está legitimado - e pode e deve, se a defesa da sua causa o exigir em sua consciência - usar expressões e palavras que usadas por outros cidadãos, seriam crime de injúrias e difamação». Ou seja, o ilustre pleiteador quer ver-se isento dos deveres gerais de urbanidade e respeito, por um lado; e pensa ter no insulto tolerado o melhor argumento para a sua causa. Quem nunca lhe passará procuração sei eu quem é. Estive o tempo suficiente nesse mundo para estar ciente de que alguns pensam assim. Mas, por norma, têm mais pudor em confessá-lo.
Já a segunda parte da defesa, dizendo que a crítica visava a postura, que não «a conduta, o perfil e as qualidades éticas e morais do Juiz» é delirante Seria mesmo tentador tentar reexaminar a posição que terá originado o baptismo de «quase obscenidade». E daí talvez não... o advérbio vem esterilizar a piada que a coisa pudesse ter.
2 Comments:
At 5:04 PM, Anonymous said…
Certas análises do Misantropo são particularmente certas - acertadas, lúcidas; e brilhantes.
A Jurisprudência, quando queira fazer jus ao nome, deve pôr os olhos neste blogue. E não apenas pela estética da prosa e de algumas imagens. Também pela ética.
Caius Obscurus.
At 5:48 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado Caro Caius. É bom saber que as minhas vistas são apreciadas pela austeridade da Roma Antiga, Pátria do Direito como bem se sabe.
"Ave"!
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