Leitura Matinal -324
Como frustrar a acção desilusora do tempo que chegou, ou a dura
insinuação angustiante daquele que ainda virá? O anseio de estender o pecúlio do Instante, eliminando todos os outros que se seguem, como de, mais cedo do que em devida sede, aceder a ele. É pela paragem, como pela abreviação do caminho que falta, que cada pessoa alimenta a fantasia atraente de se extrair da realidade. Não só
concebendo-se como modificada, na sua temporalidade, pelas formas conhecidas que aquela é incapaz de conspurcar, seja o onirismo ou a visão enganadora, como pela purificação sacral que pudesse tornar acessível a Eternidade imutável. Ascendendo, enfim à paz plena de um instante de tranquilidade, num habitáculo que não o da nostalgia,
a qual, segundo Schlegel era a solitária possibilidade terrena de a desfrutar. Aqui, a subjugação pelo encanto teria outra causa - a da adivinhação de todos os mistérios que a incerteza fomenta, pela simples abolição dela, presente necessariamente na eliminação do fluxo temporal, permitindo fixar numa eleita partícula desse corropio todo o gosto e toda a presença. Numa palavra, a erradicação da humanidade perecível, deixando apenas a imagem rarefeita e congelada de uma ínfima porção dela, a que necessitaria de nome outro que o êxtase, já que desprovida do termo de comparação que lhe daria sentido.
De Sílvia Carvalho Gomes:
QUISERA
Quisera
Anteceder-me ao momento
Vislumbrá-lo numa quietude buliçosa
Afagá-lo num sonoro silêncio
Recolhê-lo como dádiva gloriosa
Quisera
Ser Sonho Miragem Terra promissora
Desvendar os enigmas reais
Purificar-se em aguas redentoras
Penetrando na senda do jamais
Quisera
Crer na essência consubstanciadora
Na vaga tumultuosamente apacificadora
No repto milenar
Naquela voz interior
Sibilina e sedutora
Fruto da paixão avassaladora
Que propõe este momento até não mais
Instante cujas asas se pretende que sejam «A Sibila de
Cumeia», de Guercino, «Miragem», de Sergey Polyakov e
«Como se chegou, conforme o previsto, à Cidade do Nunca»,
de Sidney H. Sime.
insinuação angustiante daquele que ainda virá? O anseio de estender o pecúlio do Instante, eliminando todos os outros que se seguem, como de, mais cedo do que em devida sede, aceder a ele. É pela paragem, como pela abreviação do caminho que falta, que cada pessoa alimenta a fantasia atraente de se extrair da realidade. Não só
concebendo-se como modificada, na sua temporalidade, pelas formas conhecidas que aquela é incapaz de conspurcar, seja o onirismo ou a visão enganadora, como pela purificação sacral que pudesse tornar acessível a Eternidade imutável. Ascendendo, enfim à paz plena de um instante de tranquilidade, num habitáculo que não o da nostalgia,
a qual, segundo Schlegel era a solitária possibilidade terrena de a desfrutar. Aqui, a subjugação pelo encanto teria outra causa - a da adivinhação de todos os mistérios que a incerteza fomenta, pela simples abolição dela, presente necessariamente na eliminação do fluxo temporal, permitindo fixar numa eleita partícula desse corropio todo o gosto e toda a presença. Numa palavra, a erradicação da humanidade perecível, deixando apenas a imagem rarefeita e congelada de uma ínfima porção dela, a que necessitaria de nome outro que o êxtase, já que desprovida do termo de comparação que lhe daria sentido.
De Sílvia Carvalho Gomes:
QUISERA
Quisera
Anteceder-me ao momento
Vislumbrá-lo numa quietude buliçosa
Afagá-lo num sonoro silêncio
Recolhê-lo como dádiva gloriosa
Quisera
Ser Sonho Miragem Terra promissora
Desvendar os enigmas reais
Purificar-se em aguas redentoras
Penetrando na senda do jamais
Quisera
Crer na essência consubstanciadora
Na vaga tumultuosamente apacificadora
No repto milenar
Naquela voz interior
Sibilina e sedutora
Fruto da paixão avassaladora
Que propõe este momento até não mais
Instante cujas asas se pretende que sejam «A Sibila de
Cumeia», de Guercino, «Miragem», de Sergey Polyakov e
«Como se chegou, conforme o previsto, à Cidade do Nunca»,
de Sidney H. Sime.
3 Comments:
At 12:30 PM, Anonymous said…
Fugazmente há formas de subtrair momentos fugazes ao fluir do tempo. Formas, fugazes também, de fugir da terra do Nunca rumo à do Sempre. Sem lá chegar, porém, tanto quanto me parece... É a vida! Cumpts.
At 12:46 PM, Anonymous said…
... momentos fugazes também...
At 5:32 PM, Paulo Cunha Porto said…
Sem dúvida, Caríssimo Bic Laranja, mas a ambição maior era, justamente, reduzir a pó a fugacidade. Mas, claro, aí, é uma questão de "fogocidade"...
Lá está!
Abraço.
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