Leitura Matinal -298
É a sombra reveladora dos aprisionamentos que paralisam o seu dono
na consecução do repectivo desejo? Enquanto se não revoltar e for imagem fiel dos movimentos do seu amo, certamente. E em que medida os humanos se aproximam das suas simenências? Por duas vias principais: ou agindo com a vulgaridade que torna indistintos os traços diferenciadores, em puro proveito do realce dos contornos, ou pela impossibilidade
da posse, já que uma sombra pode tocar outra apenas no sentido em que o vêem olhos de um espectador; desprovida de força e matéria é-lhe vedado possuir. Assim, cada vez mais, o homem, impotente para canalizar, com facilidade, porque vivendo em armadura social que protege mas tolhe, os impulsos que o tentam tomar. Muito bom? Muito mau? Não nos
esqueçamos de que cada vez mais se assemelha ao seu duplo negro. Tudo depende da luz que lhe projecta a slhueta. Nuns casos, o sentido do dever que restringe a pura animalidade, noutros, muito piores, a furiosa incapacidade, cada vez maior, de dar-se e de haver naturalmente, extraída das suas angústias, desilusões ou incompreensões. É esta dependência da luz e dos olhos que o seguem que o faz igualzinho à sombra que o revela; e não o livre senhor dela.
De Peio Iavorov
SOMBRAS
É noite profunda. Contemplo perfiladas
duas silhuetas. Detrás da cortina branca
a lâmpada acesa projecta nesta arena
duas sombras da noite... Sós, face a face,
Sós e devorados de sede e de langor,
lá, a sombra de um homem e de uma mulher.
Em tormento uma para a outra as cabeças inclinam
mas não se ouvirão. Desejam mas não podem.
Murmuram talvez... De que têm medo?
Um para o outro os seus braços em vão se estendem.
Mal-grado o seu desejo, eles não se tocam!
De novo um ao outro opostos, face a face.
Murmuram talvez e talvez se chamem
Talvez mesmo gritem. Mas não se ouvirão
duas sombras da noite, ao pé da luz...
Não se ouvirão, não se tocarão,
estão sós, devorados de sede e de langor,
lá estão, a sombra de um homem e de uma mulher.
Postos: «Desejo Intemporal», de Claudine Durand,
«Desejo», Henry Acensio e umas sombras obedientes.
na consecução do repectivo desejo? Enquanto se não revoltar e for imagem fiel dos movimentos do seu amo, certamente. E em que medida os humanos se aproximam das suas simenências? Por duas vias principais: ou agindo com a vulgaridade que torna indistintos os traços diferenciadores, em puro proveito do realce dos contornos, ou pela impossibilidade
da posse, já que uma sombra pode tocar outra apenas no sentido em que o vêem olhos de um espectador; desprovida de força e matéria é-lhe vedado possuir. Assim, cada vez mais, o homem, impotente para canalizar, com facilidade, porque vivendo em armadura social que protege mas tolhe, os impulsos que o tentam tomar. Muito bom? Muito mau? Não nos
esqueçamos de que cada vez mais se assemelha ao seu duplo negro. Tudo depende da luz que lhe projecta a slhueta. Nuns casos, o sentido do dever que restringe a pura animalidade, noutros, muito piores, a furiosa incapacidade, cada vez maior, de dar-se e de haver naturalmente, extraída das suas angústias, desilusões ou incompreensões. É esta dependência da luz e dos olhos que o seguem que o faz igualzinho à sombra que o revela; e não o livre senhor dela.
De Peio Iavorov
SOMBRAS
É noite profunda. Contemplo perfiladas
duas silhuetas. Detrás da cortina branca
a lâmpada acesa projecta nesta arena
duas sombras da noite... Sós, face a face,
Sós e devorados de sede e de langor,
lá, a sombra de um homem e de uma mulher.
Em tormento uma para a outra as cabeças inclinam
mas não se ouvirão. Desejam mas não podem.
Murmuram talvez... De que têm medo?
Um para o outro os seus braços em vão se estendem.
Mal-grado o seu desejo, eles não se tocam!
De novo um ao outro opostos, face a face.
Murmuram talvez e talvez se chamem
Talvez mesmo gritem. Mas não se ouvirão
duas sombras da noite, ao pé da luz...
Não se ouvirão, não se tocarão,
estão sós, devorados de sede e de langor,
lá estão, a sombra de um homem e de uma mulher.
Postos: «Desejo Intemporal», de Claudine Durand,
«Desejo», Henry Acensio e umas sombras obedientes.
4 Comments:
At 5:16 PM, Anonymous said…
Sombras da armadura social. Muito verdade, muito verdade. Nem ganhando consciência disso me livro dessa dimensão que aprisiona. Cumpts.
At 6:22 PM, Paulo Cunha Porto said…
Todos nós, Caro Bic Laranja. É uma força que é, também uma fraqueza.
Abraço.
At 4:55 PM, Viajante said…
Oh, as outras vias?
Dos casos em que o sentido do dever eleva, dos casos em que dar-se pode ser haver-se!
Mas, sim, permanece a periculosidade estabelecida de aproximação ao duplo negro. E se depende da luz, também se impõe a densidade da sombra.
beijos, a afugentar crepúsculos.
At 7:34 PM, Paulo Cunha Porto said…
Por razões mais que óbvias a Vossa simples chegada afasta-os.
Sejamos de fidelidade sem cedência o pacto que nos impeça de nos assemelharmos à ameaça. São os «outros casos» que ainda dão alguma embalagem â continuidade do interesse estimável e à sua consequência.
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