O Dom

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Lembram-se de «GROUNDHOG DAY/O FEITIÇO DO TEMPO», com Bill Murray e Andie McDowell, em que o mesmo dia se repetia todas as manhãs, única maneira de influenciar, com segurança, o Futuro, mas com a contrapartida do relativo desinteresse dele? Pois é o 2 de Fevereiro, dia em que muito habitante dos States dirige as atenções para o vaticínio meteorológico da marmota. Se ela vir a sua sombra, mais seis semanitas de Inverno; caso a náo veja, a Primavera virá mais cedo. A festividade foi trazida por imigrantes alemães e fundamenta-se na antiga tradição europeia do «Dia das Velas», em que havia uma festa para a distribuição respectiva e o prognóstico tinha por base estar ou não o céu nublado, naquela data. Agora deixa-se a responsabilidade à marmota. Se ela vir a sua sombra, não guardem os cobertores. Na hipótese contrária, serão utensílios supérfluos, a breve trecho. O que me faz pensar em toda a multissecular crença de malignidade da sombra, presente na literatura e no folclore europeus, apesar da indispensabilidade da mesma, que encontrou expressão maior em Chamisso. E qual foi o veredicto? Na Pennsylvania, o meteorologista de quatro patas Phil garantiu o arrastamento invernoso. No Wisconsin, o seu rival, Jimmy, embora não tão famoso, garantiu o contrário, por não ver a projecção do seu vulto e não constar que sofra de miopia maior do que a média. O que nos traz ao espírito o velho dito de Voltaire:«Quando uma criança nasce e se pergunta a dois astrólogos se ela atingirá a idade adulta, dizendo o primeiro que sim e o outro que não, há pelo menos um dos dois que se não engana». Ou seja, o Dia da Marmota tem assegurada a sua sobrevivência. E nós ficamos tão inteirados como dantes.