O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Thursday, February 02, 2006

Leitura Matinal -256

O Homem sempre quis ver em si um destino. E sempre procurou um guia. Pois ambas as coisas encontrou nas estrelas, que foram também
a metáfora que usou para as mais belas Mulheres do espectáculo e, por extensão, para quaisquer ídolos, doutros domínios. A receita desta popularidade está ancorada em alicerces sólidos - tratar-se de luzes que "andam" no Céu. Junta-se à imagem por excelência da Revelação, do conhecimento e da felicidade, o habitat, privilegiado da elevação, a imagem do local de imortalidade dos Melhores e possibilidade insuperável de outros mundos, com a gigantesca profusão de mistérios a descobrir.
Como difíceis de penetrar aparentam ser as características em que se catalogam os indivíduos e as suas predisposições para o Futuro, pelo que é, igualmente, nas estrelas que se tenta descodificar mais esse enigma. Como foi uma Estrela que guiou os Santos Peregrinos para junto de Deus feito homem e, outrossim, tem orientado muitos perdidos em busca do Norte. É que a desilusão
com o que apenas é baço, quer dizer a existência que nos conhecemos, implica, para preservar a sanidade mental e a espiritual mínimas, volver os olhos para o Belo e para o Alto, encontrar um brilho que, iluminado, apazigue a angústia real de que só os insensíveis e os optimistas não dão conta. As estrelas são indispensáveis, sim. A qualquer um que se não chame Maiakowski... em 1913. Porque no célebre poema póstumo teve de recorrer à Via Láctea, para lidar, na sua Arte, com o Amor e a Morte. Ou não fosse um Poeta. Os quais costumam gostar de estrelas. E, que, quer queiram, quer não, também o são. Porque sim, elas são-nos indispensáveis.
De Maiakowski, para fazer o Engenheiro vir às do cabo:

DIGAM!

Digam!
Lá porque estão acesas as estrelas,
será porque elas são necessárias a alguém?
Será porque alguém há a desejar que existam?
Será porque alguém chama a esses escarros, pérolas?
E vencendo
a poeirenta borrasca do meio-dia,
alguém corre p´ra Deus,
temendo chegar tarde,
chora,
beija-lhe a mão nodosa,
implora -
que lhe faz falta uma estrela! -
jura
que, sem estrelas, não pode suportar este martírio.
E depois,
lá vai com a sua angústia,
mostrando paz na cara.
Perguntando a qualquer:
«Agora, está melhor, não é assim?
Já não tens medo?
Não?
Digam!
Lá porque estão acesas
as estrelas -
será porque elas são necessárias a alguém?
será porque é - indispensável,
que cada noite
por cima dos telhados
uma só estrela, ao menos se ponha a reluzir?


E refuto o poema com: «Angústia», de Erika Wain,
«Deus Criando as Estrelas», de Sano di Pietro e
«Noite de Verão», de Robert Street-Morris.

2 Comments:

  • At 10:11 PM, Blogger Viajante said…

    Feitos de poeira de estrelas?
    :)
    Metáforas de vida, também, e do além morte - pois senão porque se diz às crianças que quem morreu, é uma estrela no céu? -.
    Da perenidade ilusória, que hoje pode estar extinta a estrela que ainda brilha.

    Estrelas, sempre intrigantes. Como destino, como guia, como inspiração, e também porque duas ou mais se tornam constelação - metáfora ela mesma, como «constelação de sentidos» :)
    Signo cigano, sinal do que escapa ao convencional círculo, a estrela brilha ao longe. E tem aquela variante da «cadente» e do desejo...
    Assim como outro ilusório, da Estrela da Alba que não é.
    O Longe, o Distante, a Estrela.

    Beijos, em miríades.

     
  • At 8:29 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    E, além de Tudo o que o Vosso Belíssimo "Apport" traz, o que deixei nos «Espelhos...», a similitude com a chama, luz e calor tremulando e atraindo as atenções e esperanças humanas. Adorei o Vosso sublinhado do prolongamento da vida pela "décalage" da luz.
    Mais ainda, ardendo por não aceder a eles com forçoso telescópio(r).

     

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