Leitura Pseudo-Matinal -255
A proximidade dos estados anti-vitais que são o sono e a morte pode gerar a assimilação de um à outra, na medida em que
nos imaginemos falhas no estado de alerta que viver exige; e que nos desdobremos, malgré nous, no duplo que testemunha o fim gerado pela letargia em que nos deixámos cair, fruto do cansaço que elimina a vontade de resistir, a tal que subsiste apenas enquanto nos creditamnos reconhecimento, seja o dos outros ao que nos julgamos, seja o nosso, face a toda a anterioridade que nos forma.
É sentindo a Ceifeira espreitar sobre o ombro do nosso duplicado, o nosso eu perecível, já transformados no observador que o segue, que pressentimos a chegada do momento contra o qual nada pode a luta, porque nenhum querer se lhe opõe. A esfera de actuação deste, numa época em que cada vez menos nos sabemos preparar para o derradeiro momento, é assim transferida para o estatuto de servo do pavor, tentando retardar o mais possível a rendição à sonolência que, tornando-nos indefesos, preceda o momento final onde, desprovidos da revigoração superlativa do sentimento, quedemos no instante propício à colheita que nos leve.
De Franco Loi:
Eu era um outro, e via-me morrer
como se olha a sombra ao dormir.
A morte faz pavor ao coração
foge para trás dum espelho, e aquele sou eu.
Olho a vida e morre a vontade:
Façam o que quiserem mas, por favor, usai-me!
Chamai-me, chamai-me, oh gente, não me deixem dormir,
que esquecida sinto a minha história
e torno-me no homem do meu morrer...
Amor que vem até mim do luarejar,
oh alegria d´água que passa entre os vivos!
Giorgione deu-nos o deu «Duplo Retrato» e Agostino
Veneziano concorreu com «A Morte e o Espelho».
nos imaginemos falhas no estado de alerta que viver exige; e que nos desdobremos, malgré nous, no duplo que testemunha o fim gerado pela letargia em que nos deixámos cair, fruto do cansaço que elimina a vontade de resistir, a tal que subsiste apenas enquanto nos creditamnos reconhecimento, seja o dos outros ao que nos julgamos, seja o nosso, face a toda a anterioridade que nos forma.
É sentindo a Ceifeira espreitar sobre o ombro do nosso duplicado, o nosso eu perecível, já transformados no observador que o segue, que pressentimos a chegada do momento contra o qual nada pode a luta, porque nenhum querer se lhe opõe. A esfera de actuação deste, numa época em que cada vez menos nos sabemos preparar para o derradeiro momento, é assim transferida para o estatuto de servo do pavor, tentando retardar o mais possível a rendição à sonolência que, tornando-nos indefesos, preceda o momento final onde, desprovidos da revigoração superlativa do sentimento, quedemos no instante propício à colheita que nos leve.
De Franco Loi:
Eu era um outro, e via-me morrer
como se olha a sombra ao dormir.
A morte faz pavor ao coração
foge para trás dum espelho, e aquele sou eu.
Olho a vida e morre a vontade:
Façam o que quiserem mas, por favor, usai-me!
Chamai-me, chamai-me, oh gente, não me deixem dormir,
que esquecida sinto a minha história
e torno-me no homem do meu morrer...
Amor que vem até mim do luarejar,
oh alegria d´água que passa entre os vivos!
Giorgione deu-nos o deu «Duplo Retrato» e Agostino
Veneziano concorreu com «A Morte e o Espelho».
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