O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Tuesday, February 21, 2006

Leitura Matinal -274

Algures, numa caixa de comentários do Prazeres Minúsculos deixei escarrapachada
a minha concepção do Amor. Sintetizando, dizia que era uma arte de fingir, com que nos entretínhamos a esquecer a solidão, acompanhados por alguém com o idêntico propósito. Tudo nos conformes, explicada a mitificaçao tantas vezes sublime dele. É, portanto, revelador do zeitgeist o modo como o encaramos. Noutras etapas da humanidade, as construções em volta do mais compensador dos afectos, capaz de conferir ao Ser amado a parcela
de aura de mistério e atracção que todos ambicionariam, desfrutaram de generalizada e transversal voga. Hoje, se na vida ainda vai tendo o seu papel, em vestimentas de pronto a vestir, como toda a nossa existência, é certo, na poesia suscita protestos e segregação absoluta, despromovido a concretização do gosto duvidoso. É, transposto para a arte, o tremendo receio de muitos adolescentes com os olhos virados
para "horizontes superiores", dominados pelo pavor de caírem na vulgaridade. Nesses juvenis retraimentos o que está em causa também é a expressão, pela desconfiança de que o acto declarativo não esteja à altura da situação. Em certa poesia de hoje continua a ser a forma expressiva o grandé óbice, reduzindo as adjectivações ao seu isolado ridículo e proclamando a ausência de sentido certo para o substantivo. Reafirmação desnecessária do estatuto dos dias que correm como Época da Infelicidade. Mas obedeçamos, que sobre isto é que é melhor calar(-me).
De Alonso Féria:

Da utilidade do amor, pouco se tem dito.
Da sua inexacta natureza - nada.

*

Como significante.....é mais pobre que Job.
Preso a outras palavras
é a vulgaridade do costume.

*

Crie-se então silêncio sobre a palavra.
Não poesia. Silêncio.


Tinha de colocar a impositiva figura que manda silenciar,
atormentada pela imagem do «Vulgar» saidinha das produções
«VIEW ASKEW» e revelada, sugestivamente, por "Danger Gene",
Tudo isto para criar aparato a «O Indizível», de Tommy
Foster.

10 Comments:

  • At 11:26 AM, Anonymous Anonymous said…

    Não.
    O Amor não é uma arte de fingir.

     
  • At 12:01 PM, Blogger João Villalobos said…

    O que é que o palhaço travestido e bêbado tem a ver com o assunto? Não percebi! Mea culpa

     
  • At 12:15 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Chama-se «Vulgar» e os adereços eróticos servem para ilustrar a ideia que alguns contemporâneos fazem do amor deles, que julgam o único. Não "está na cara"?

     
  • At 4:00 PM, Blogger takitali said…

    Caríssimo amigo, já o tenho como o melhor despertador do sublime, e tentando planar nesta onda direi que conheço um amor que “É”, acontece quando o Eu, e um Tu querem que aconteça!
    A ‘vontade’ é autónoma, do querer ou não querer, e aqui o Silêncio faz todo o sentido, para o Eu acolher o Tu e possamos vislumbrar o AMOR…
    De repente lembrei-me da poesia de Miguel Torga, LIBERDADE... “ - Liberdade, que estais no céu… /// … /// - Liberdade, que estais em mim,
    Santificado seja o vosso nome.” (diário XII-1977) Um grande abraço.

     
  • At 5:19 PM, Blogger João Villalobos said…

    «O melhor despertador do sublime». Ora, ora. E a que horas toca? ;)
    P.S. A inveja é de facto o pior dos sentimentos...

     
  • At 6:59 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Insigne Takitali:
    Muito obrigado por me haver guindado a tão alta - como imerecida - condição. É evidente que ao Silêncio (a maiúscula não é inocente) pode caber o desempenho catalisador que referiu, magnificamente sublinhado pela certeira escolha poética. Mas o silêncio que eu referia era coisa francamente menor, a tradução da condenação artisticamente impotente por alguns poetas do Tempo, em perpétua revolta contra os "pais", os Vates que os antecederam. O medo do ridículo que alguns rapazes, noutro plano, também experimentaram. Mas claro que o que antes quisera dizer fora a expressão do entendimento do Amor como uma tentativa compartilhada de enganarmos a solidão, que, por muito acompanhadas que as nossas vidas corram, é inerente ao estatuto de Homem. E nessa medida, um fingimento, insuperavelmente elevado, decerto.

    Caro João:
    Bata ler-Te para te não reconhecer o direito à Inveja.
    Abraço Ambos.

     
  • At 4:24 AM, Blogger takitali said…

    Chegado já tarde ao aconchego, não resisti em felicitá-lo pela vitória do seu Benfica. Ganhou, Parabéns!
    Caro amigo "Insigne" é muito mais que general... mesmo sendo antigo combatente, a "imerecida-condição" agora passa a ser minha. Assim como assim hoje o Benfica também foi meu.
    Um abraço e muito obrigado.

     
  • At 7:46 PM, Blogger Viajante said…

    O amor como ilusão para a solidão? ou apesar dela? Amor como pura perda de si? ou como anseio de o ser? Amor truncado nas palavras quando remanesce nos indízíveis? de que amor falamos? Eros? Philia? Aretê? Todos? alguns?
    Ah, já falámos antes de amor. E da falta dele, por engano e egoismo. Amor-sentimento, amor-valor, amor-imaginário...
    Caríssimo Misantropo, e se o Amor não se falasse?

    beijos, sorrindo

     
  • At 4:40 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Querida Viajante:
    Se...
    Seríamos ainda nós? E sentir-nos-íamos melhor? Condenar à pura acção, ou o "pathos" intransmitido far-nos-ia seres de outra civilização. Há muitos motivos válidos para calar, o receio de um «vulgar» fantasiado não me parece um deles.
    Ademais,... se deixássemos de falar nele, como poderíamos aprofundar as distinções que acabais de anunciar?
    Mas claro que concordo que muito melhor do que falar dele é... deixá-Lo falar.
    BEIJO.

     
  • At 4:54 PM, Blogger Viajante said…

    Claríssima ficou a intenção da minha (oblíqua) pergunta... Deixá-Lo, seja.

    Beijo, palavra sempre recolocada com novos tons, ao caso, de aprovação.

     

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