O Papel da Quantidade
A nossa imprensa altera as notícias, sem, se calhar, disso se aperceber. Li ontem, num díário de grande circulação - que não será, possivelmente, o primeiro a ocorrer-vos - uma notícia que estranhei. O de o Tribunal superior italiano que analisou um recurso em processo-crime contra o padrasto de uma rapariga, que era acusado de com ela ter tido relações sexuais. Dizia o nosso jornal que o acordão referira que teria sido mais grave se ela fosse virgem, o que estava provado não ser o caso. Para além de não achar muito provável que qualquer instância de apelo, num país ocidental, mesmo numa zona pouco mundanizada como Cagliari optasse por tal fundo e semelhante forma, parecia-me ridículo um alinhamento qualificativo pela máxima de que «à primeira vez é que custa», quando o que estava em causa eram actos de sexo oral.
No fim de contas não foi isso o que os juízes disseram. Antes decidiram que, tendo os contactos sido consensuais, era de levar em conta que o facto de a rapariga ter tido muitas relações com muitos homens diferentes, o que reduzia a possibilidade de um traumatismo grave a repercutir-se no futuro, justificando uma diminuição do grau de culpa do recorrente, praticamente cingida à proibida idade da vítima. Muito longe de ser o que foi escrito cá, salvo para leigo demasiado faccioso, ou jornalista muito ávido de vender.
Mas, claro está, se o homem em questão fosse presidente dos Estados Unidos, haveria que mandá-lo em paz, sem punição, pois, como se determinou com Clinton, «sexo oral náo é sexo... em sentido técnico».
2 Comments:
At 3:41 PM, Anonymous said…
a notícia nem estava muito errada
At 6:38 PM, Paulo Cunha Porto said…
O problema, Caro Espadachim, está no «muito», justamente. Ou estava errada - como parece ser o caso -, ou não.
Ab.
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