Leitura Matinal -260
As ilusões e os afectos, em plena ascensão ou recentemente migrados, são causa das dores latejantes dos tempos do investimento.
Quando eles passam esbatem-se as fronteiras da nossa concentração nas negas da autopromoção do nosso querer, com que tão obcecada mas inconsequentemente nos fomos entretendo. O que ainda ontem aparecia como essencial, objecto de toda a nossa aplicação pessoal, passa a diluir-se no espaço já não circunscrito
em que, daqui para diante passamos a flutuar. É que para permanecer à tona é melhor não nos debatermos. Não precisamos já das cumplicidades exclusivas das crenças ingénuas da juventude, pensamos. Sem vermos que essa crença é tão ou mais ingénua do que as que, agora, desvalorizamos. E sem percebermos que as mais moderadoras das convivialidadses alargadas não são eliminatórias do sentimento, só
funcionam como ordenação dele, que dá à faculdade de sofrer uma expressão mais contida. É por isso que, tendo a fraqueza e a clarividência de se considerar a superioridade do nosso estado actual, tendemos a não identificar os novos perigos. Já não sendo naturalmente capazes do desespero que pode dar tando a vontade da morte, como o sal da vida, esquecemos que nos tornámos desvalidamente permeáveis ao cansaço e à insensibilidade. Que só tentamos disfarçar recorrendo a poses filosóficas sem honesta correspondência real e em que nem nós acreditamos.
De Nuno Falcão Marques,
ODE EXISTÊNCIAL
Todos nós somos nómadas
Nas crenças e nos amores
Todos nós fomos jovens
E ainda ontem na serra das próprias lágrimas
Trouxemos um rebanho delas a passear pastando
Fomos simples pastores...
Até que por se sentir cheia; tranasbordava
A lagoa deu de si
Os pássaros juntos puxaram as margens
E todos coubemos nela
Tudo coube na Lagoa...
O ser nómada deixou de precisar de um guia
Para mudar o rumo e nos manter unidos
Agora as proprias lágrimas
A lagoa...
E tudo isto a que chamo sementes de alegria
Passou a boiar
E simplesmente a existir!...
Arrebanhado a «Nómada», de James Rosenquist,
«Oceano de Lágrimas», de Dawn Patel e «Existência»,
de Joel Berger.
Quando eles passam esbatem-se as fronteiras da nossa concentração nas negas da autopromoção do nosso querer, com que tão obcecada mas inconsequentemente nos fomos entretendo. O que ainda ontem aparecia como essencial, objecto de toda a nossa aplicação pessoal, passa a diluir-se no espaço já não circunscrito
em que, daqui para diante passamos a flutuar. É que para permanecer à tona é melhor não nos debatermos. Não precisamos já das cumplicidades exclusivas das crenças ingénuas da juventude, pensamos. Sem vermos que essa crença é tão ou mais ingénua do que as que, agora, desvalorizamos. E sem percebermos que as mais moderadoras das convivialidadses alargadas não são eliminatórias do sentimento, só
funcionam como ordenação dele, que dá à faculdade de sofrer uma expressão mais contida. É por isso que, tendo a fraqueza e a clarividência de se considerar a superioridade do nosso estado actual, tendemos a não identificar os novos perigos. Já não sendo naturalmente capazes do desespero que pode dar tando a vontade da morte, como o sal da vida, esquecemos que nos tornámos desvalidamente permeáveis ao cansaço e à insensibilidade. Que só tentamos disfarçar recorrendo a poses filosóficas sem honesta correspondência real e em que nem nós acreditamos.
De Nuno Falcão Marques,
ODE EXISTÊNCIAL
Todos nós somos nómadas
Nas crenças e nos amores
Todos nós fomos jovens
E ainda ontem na serra das próprias lágrimas
Trouxemos um rebanho delas a passear pastando
Fomos simples pastores...
Até que por se sentir cheia; tranasbordava
A lagoa deu de si
Os pássaros juntos puxaram as margens
E todos coubemos nela
Tudo coube na Lagoa...
O ser nómada deixou de precisar de um guia
Para mudar o rumo e nos manter unidos
Agora as proprias lágrimas
A lagoa...
E tudo isto a que chamo sementes de alegria
Passou a boiar
E simplesmente a existir!...
Arrebanhado a «Nómada», de James Rosenquist,
«Oceano de Lágrimas», de Dawn Patel e «Existência»,
de Joel Berger.
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