O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, February 06, 2006

Quando Rolão Preto "Era Salazarista"

Leitura de um raro folheto do Homem que chefiou o Nacional-Sindicalismo português, sobre um texto que todos conhecem. Refiro-me a «SALAZAR E A SUA ÉPOCA», onde se comenta a série de entrevistas a António Ferro, que toda a gente conhece e ainda lê. Rolão critica o Estadista de Santa Comba, em Janeiro de 1933, por «este ser um financeiro e não um político». Se tivermos em conta que "política" é a arte de permanecer no poder e de realizar o programa com que a ele se acedeu, podemos perguntar-nos qual a base que poderia legitimar o ataque. É muito simples. Estriba-se em três pontos: Rolão queria uma política económica e social e não apenas o equilíbrio financeiro e de pacificação. A discordância maior não radica em um considerar que há mais vida para além das Finanças e o outro não. Salazar, contra a sua fama, defendia-o, igualmente. Tinha era passo muito mais lento. Os seus seguidores dirão que mais seguro, os contraditores encará-lo-ão como frustrante. A diferença maior é que o autor do opúsculo queria uma revolução. Precisamente o contrário do que planeava o Chefe do Governo. E aquela traduzia-se em coesão ideológica e em o regime deixar de ter um governo de coligação de vários sectores, com as trocas de transigências subsequentes. Defendia o publicista: «É esta a fórmula de tôda a Revolução. O seu triunfo depende do seu aspecto de bloco sem brecha, de unidade clara, total, dogmática. A Revolução não discute nem contemporiza. Ou se aceita ou se regeita». Na força mobilizadora que se aponta à coesão estamos demasiadamente próximos do papel mítico que Sorel atribuía à Greve Geral. E conclui: «Quem se baterá todavia pela forma extática e negativa que queira representar o Bom Senso?». O que explica o fim de Um e o do Outro. Mas o curioso é que, nesta altura, R. Preto ainda dizia aceitar a liderança salazarista. Desde que fosse a do Salazar que ele sonhava...

13 Comments:

  • At 2:59 PM, Blogger Marcos Pinho de Escobar said…

    Caro Paulo:
    Grande ideia esta recordação.
    E dizer que o chefe dos nacional-sindicalistas acabaria de mãos dadas com o anti-fascista descolonizador exemplar? O que não produzem a paixão desenfreada e o ódio cego? De pactos com a "estranja", com a anti-nação ou com o próprio diabo, abunda a nossa História, sobretudo a recente.
    Um forte abraço.

     
  • At 6:39 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Obrigado, Caro Euro-Ultramarino. Naquelas poucas páginas está condensada muita da explicação política da estranheza de um dos políticos em questão, face ao outro. O General Coca Cola atraiu muita gente boa que não podia com Salazar e que queria alguém que lhe desse garantias de não fazer o jogo dos comunistas. Sem atentarem às limitações do personagem, como a ameaças maiores que se perfilavam por trás do homem.
    Um Abraço!

     
  • At 9:24 PM, Blogger SRA said…

    O Integralismo Lusitano esperou muito do Estado Novo. tanto que se desiludiu, é o caso de Rolão Preto. de facto os fundadores da 1ª geração sabiam haver uma esperança de restauração, diziam eles... como diziam que salazar era monárquico, acabando por se fazer ele mesmo rei.

    ps: há tempo que tenho passado por aqui e é com agrado que noto o seu regresso!

     
  • At 10:04 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro SA:
    mas não foram os da primeira geração que aderiram ao Estado Novo. Foram sim os da segunda, como Manuel Múrias, João Ameal &Cª. E os da terceira, da juventude do IL, como Marcello Caetano e Teotóneo Pereira, que nele exerceram cargos de importância. Os fundadores depositaram esperanças sim na Ditadura Militar, que antecedeu a organização do Estado Novo. Com Salazar nunca se entenderam e, pegando no que diz, acabaram a apoiar Delgado.
    É com grande prazer que O tenho por cá.
    Abraço.

     
  • At 10:20 PM, Blogger SRA said…

    interpretou-me mal, ou fiz-me entender mal...
    não queria dizer que a 1ª geração especificante depositou esperanças no Estado Novo, mas sim o Integralismo Lusitano em geral. de facto é como diz, a esperança da 1ª geração estava nos acontecimentos anteriores, e mais concretamente no regresso de D. Manuel, com o qual desenvolveram depois uma grave "questão dinastica". mas o IL, nessa segunda e terceira geração era este de que falei: o que via em salazar a esperança da restauração, ou pelo menos do cumprimento de um "reaportuguesamento de Portugal"!

     
  • At 10:22 PM, Blogger SRA said…

    ps: e já vamos na 5ª geração...

     
  • At 10:37 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Era um ensinamento com grandes virtudes, que perdura, resistindo à passagem do tempo...
    Era bom que as novas gerações encontrassem um nível doutrinal comparável ao da primeira. Entusiasmo não falta, mas seria bom ver produção.
    Abraço.

     
  • At 11:25 PM, Blogger SRA said…

    ha que saber deixar amadurecer... e a 5ª geração ainda precisa de algum tempo para não se precipitar. seria fatal.

     
  • At 9:01 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Tenhamos fé em que o amadurecimento não dê em podridão.
    Mas o Seu encorajamento é digno de ser... fixado e afixado.
    Grande Abraço.

     
  • At 3:38 PM, Blogger o engenheiro said…

    Por vezes meu caro euro-ultramarino, não é o ódio cego mas o despeito ! Todos os regimes ditatoriais ou autoritários, mal assumem o poder comem os tios! Na sua afirmação rolhística, flutuante, procuram limpar quem lhes crie ondas ou faça sombra. O Poder só pode emanar de um centro ! Os exemplos podem ser escolhidos e colhidos com grande facilidade. Quando à afirmação do meu querido Paulo de que quem queria o Coca Cola o fazia para evitar o mal pior... Os factos históricos não o demonstram. Arlindo era da mesma extracção política (da extrema-direita)e não me consta que fosse neo-realista !
    Só tenho pena de que a bofetada que levou a bordo do Santa Maria dada por H. Galvão não tivesse sido repetida por milhares; só se perdiam as que caíssem no chão!

     
  • At 6:53 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Oh Mendo:
    E antes da Acção Realista ser fundada?

     
  • At 6:58 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Engenheiro:
    essa de «evitar o pior» fica a teu crédito, não foi o que escrevi. O que disse é que muitos dos integralistas da 1ª geração integraram as comissões delgadas porque se queriam opor ao António, sem fazerem o jogo do PCP, julgavam eles.
    Ab.

     
  • At 8:13 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Bom, tinha a ideia contrária, nem que fosse ao nível da militância escolar. Mas obrigado por trazeres luz sobre o tema.

     

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