Abrir Mão
Eu, misantropo, me confesso... votei sim no referendo da regionalização, pelo que fui amplamente derrotado e mal visto, também entre os que, mesmo no meu campo, disso tiveram conhecimento. Preferindo, evidentemente, uma descentralização que remetesse aos municípios muitas das atribuições em pelouros técnicos e sociais digeridas pelos monstros dos ministérios lisboetas, penso, todavia, que fazer administração central renunciar a parte da sua omnipresença será sempre de enaltecer, na medida em que a reputo de responsável por muitos dos males da Nação. Além de que a vejo a abdicar mais facilmente do monopólio partidário de participação em eleições regionais do que em legislativas, onde não se concebe que venham a permitir candidaturas independentes.
Tudo isto a propósito da iniciativa da Concelhia do Porto do PSD, que pretende ver o partido a reabrir o dossier, durante a presente legislatura. Penso que tal não deve ter lugar. Até custa que tenha de ser um não-democrata, no sentido hoje dominante do termo, a vir dizer aos partidários servidores do regime que a vontade do Povo, expressa em votos, deve ser respeitada. E para o ser, neste como noutros referendos, não se pode estar a desencadear tantas consultas sobre o tema, quantas nos dêem na gana. Sugiro um lapso mínimo de 25 anos, o de uma geração, em sentido mais estrito, para que se possa voltar a pôr o tema em liças eleitorais. Porque se do uso estamos fartos, que dizer do abuso?
7 Comments:
At 12:14 PM, Flávio Santos said…
Pese as reservas face ao poder dos barões locais, também votei sim... Creio que os nossos mestres teriam feito o mesmo.
At 12:25 PM, Paulo Cunha Porto said…
É precisamente nessa linha, Querido Amigo, foi precisamente por neles ter os olhos que também me decidi; e pesando o mesmo contra.
At 1:31 PM, João Villalobos said…
É preciso não ter conhecimento de campo algum sobre a realidade autárquica para apoiar uma coisa dessas...!
A descentralização, a fazer-se, deverá sê-lo dando autonomia e apoio a determinadas actividades, mas controladas quanto aos seus resultados e aplicação correcta dos financiamentos.
Quanto a este referendo, nem 25 anos nem em outra vida. Retalhar um país minúsculo em mais minúsculos pedacinhos? Há que ter noção das proporções, caramba! Acho que os vossos mestres ainda viviam uma realidade geográfica do género Metrópole e colónias
At 3:32 PM, Zé Maria said…
Também eu amigo Paulo votei nesse sentido. E, apesar de tudo, voltaria a fazê-lo.
Mas já agora, que vem a jeito, continuo a acreditar, como o venho fazendo há algum tempo, que há áreas que só com uma verdadeira regionalização (e aqui entendento região como áreas metropolitanas - diversas, pois, dos municípios) se poderão desenvolver com mais equilíbrio e sustentadamente. Refiro-me, por exemplo, à Habitação Social. É que parece-me que só quando encararmos esta questão como uma questão de "região" e não de Concelho é que poderemos chegar a um porto melhor. (Se bem que saiba que ninguém vai querer os "outros" à sua porta.)
Sei que este é um tema nada pacífico, mas...
Um abraço
At 6:34 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro João:
Não se trata de retalhar, pois ninguém fala em dar estatutos próximos dos das "Autonomias Históricas" espanholas às diferentes regiões. Trata-se tão- só de proporcionar as condições para que os recursos que são peneirados pelas burocracias do Terreiro do Paço e arredores cheguem, de facto, em montante próximo do de partida, aos destinatários. E se invocamos a experiencia vê o que acontece: têm sido detectados alguns casos de corrupção na administração autárquica, mas as pessoas gostam dos decisores locais que as beneficiaram. Também tem sido apanhado um ou outro no governo central e... ninguém pode com os titulares desse poder, a quem, invariavelmente, é dada fama de ladrões, por muito honestos que sejam. E isto, um sistema com partidos; se a regionalização permitisse o acesso de independentes, mais virtualidades encerraria.
Quanto aos Mestres ntegralistas é melhor lê-los. Depois falamos. Tirando Pequito Rebelo, um pouco, numa fase relativamente tardia, não creio que algum deles estivesse a pensar nesse sistema para as Colónias, como então se dizia.
Meu Caro Zé Maria:
As áreas Metropolitanas, como sucedâneo, oferecem grandes possibilidades de melhorar, efectivamente a vida das pessoas. Claro que o problema é que, no nosso País, só há base para duas. Mas se quisessem criar um estatuto político com esse substrato, eu endossaria. Afinal, as populações das periferias dos grandes centros têm carências agudas muito próprias e aí estaria um meio de minorá-las. Agora, para os desfavorecidos do interior teríamos de pensar em outras soluções.
Abraços a Ambos
At 7:32 PM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Deve calcular que votei sim, o que corresponde à verdade. É um dos meus temas centrais. Mas tem uma vertente terapêutica, e por isso não podemos esperar nem um minuto. É remédio que devia ter sido ministrado ao País, ontem.
Não se trata de fazer mapas gerais de regionalismo, como foi feito, o que terá também contribuído para o seu 'chumbo'.
As regiões históricas existem e estão desertas! É em nome da coesão nacional que é preciso criar uma região autónoma no nordeste e outra no Alentejo, já. Elvas não aguenta por muito tempo mais o confronto com Badajoz. Estou a falar das pessoas que do lado de cá serão cada vez mais tentadas a ir ao lado de lá tratar da vida. A política serve para resolver os problemas das pessoas.
Não há que ter medo. O municipalismo é divisionista e os partidos chamam-lhe um 'figo'.
Muito mais haveria que dizer, mas teremos outrs oportunidades concerteza.
Um abraço.
At 7:55 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro JSM:
Claro que o modelo proposto não era o ideal. Mas já se sabe que é muito mais fácil corrigir o que existe do que implantar uma solução a partir do nada.
O municipalismo, com outras atribuições e, relativamente despartidarizado, creio oferecer vantagens em relação ao sistema actual. Mas concordo que a divisão dos fundos deve der decidida a um nível regional, supra-concelhio mas infra-nacional, para evitar as cisões de que fala.
Um grande abraço. Decerto voltaremos ao tema.
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