O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, February 01, 2006

A Essência, Para Lá do Incidente

D. Carlos, ao contrário do que acontece com muitos Amigos, não me seria simpático, fosse pelo que conheço da Sua personalidade, fosse pela origem do seu ceptro, radicada na ilegitimidade do ramo familiar a que pertencia, no que ao acesso ao Trono respeita, fosse pela solução que tentou encontrar para levantar o País. Não foi morto por apoiar a ditadura. Esta era um mero expediente burocrático, consagrado na prática constitucional de governar por decreto, até que a Câmara saída das eleições seguintes ratificasse as medidas. A razão do ódio foi ter quebrado o rotativismo, apoiando João Franco de princípio a fim. Não que os Regeneradores e os Progressistas não vissem que o sistema de alternância entre ambos, naturalmente mau, se encontrava absolutamente esgotado. O problema é que cada um dos seus leaders queria ocupar, ele próprio, o lugar do político beirão.
D. Carlos e o seu Ministro falharam porque tinham de falhar, a partir do momento em que pretenderam mudar o sistema sem modificar o regime. Provou-se com provações o que provado já estava com previsões: que era erro de monta combater o poder dos partidos acrescentando-lhes mais um e esperando que os contactos pessoais na cena internacional fizessem o resto.
Os portugueses eram - como ainda são hoje - dominados por duas inclinações: o feitio chafarístico e a vontade de fazer como no Estrangeiro. Ao inaugurar a legislação social em favor do operariado, João Franco irritou muitos dos que não pertenciam a esse pobre estrato populacional, por desviar atenções e fundos da pura política de obras públicas que fizera a glória do fontismo. E grassava a vontade ignara e pateta de ter colónias como os outros, assim como, 60 anos depois, haveria de triunfar a de as abandonar, como os outros. Era o tipo de opinião pública que julgava ter uma marinha de guerra, arranjando um cruzador por subscrição. Os leitores de jornais de Lisboa e Porto estavam maduros para a propaganda revolucionária. As sociedades secretas trataram do resto. O remanescente do País, que então ainda era a grande maioria, com a imobilidade das pessoas honestas, não se mexeu.
Em 1 de Fevereiro de 1908 uns viram um aviso, outros já o fim. Uns e outros estavam com a razão.

2 Comments:

  • At 6:10 PM, Blogger JSM said…

    Caro Paulo Cunha Porto
    Examinei o DN de fio a pavio, nem uma linha sobre o Regicídio. Sobre a lista de Schindler, holocaustos, é sempre dia para lembranças e mensagens 'comoventes'.
    Sabe que eu acho que o tema é mais importante do que a maioria pensa!
    Não para lápides, ao estilo das visitas ao cemitério de Agramonte,mas porque a ferida não fecha com a irresponsabilização geral e contínua dos 'filhos' da 1ª república, nem com a limpeza das marcas do sangue, especialidade dos filhos do Estado Novo.
    O que os monárquicos devem exigir é a retratação do crime público por parte das autoridades republicanas. Quem tem que descerrar a lápide é o Carmona e o Sampaio.
    Insisto nesta linha que penso não faz o jogo do republicanismo triunfante e distraído.
    Foi quase um postal, mas precisava de desabafar.
    Um abraço.

     
  • At 6:22 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caríssimo JSM:
    Dê-me desabafos desses todos os dias... embora bom fosse que não motivados por este drama. Querido Amigo, não sei como encontrar mais razão para lhe dar. O problema da lápide (física) é antigo e vem sendo martelado pelos Bem-intencionados que merecem a nossa estima. Mas a desvergonha de um poder sem humildade para contrições que bebe alegremente da taça onde foi colhido o sangue dos Reais Mártires é mais do que um homem de bem pode suportar. O Meu Amigo é-o. Eu gostaria de sê-lo. Pelo que não podemos deixar de sentir a dor tremenda desta data.
    Um grande abraço, em jornada de luto.

     

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