Do Atentado
Sempre execrei os atentados contra figuras públicas, mesmo as que mais detesto. Poucos políticos há a quem reprove tanto a acção como a John F. Kennedy; por ter metido até às orelhas os seus compatriotas numa traumatizante e inútil guerra; por conhecidas ligações à Mafia e a outras mafias, como a do Mayor de Chicago; por ter iniciado, em proveito que quereria próprio, a traição ao Ultramar Português; por, sem escrúpulo, usar os bens públicos para aventuras pessoais e o cargo como adorno preparatório delas; pelo nepotismo. E, no entanto, nunca me passaria pela cabeça aconselhar o Crime de Dallas, ou com ele rejubilar.
Vem-me essa aversão dos princípios que, recebidos, tento honrar, bem como da lição de Mestre Junger, o qual, detestando o regime hitleriano, declinou participar no atentado que os seus amigos empreenderam contra o Fuhrer do Reich, pela pura repugnância que lhe inspirava o assassínio.
Não foi assim com os republicanos portugueses. O Regicídio não foi mais um dos muitos actos isolados de anarquistas contra Cabeças Coroadas e Presidentes, em que foram férteis o final do Século XIX e o princípio do XX. Era uma tentativa de membros do Partido Republicano Português de mudar, efectivamente, o sistema, assente apenas nos ombros Daquele Rei, como prólogo à modificação da Forma de Estado. O primeiro mudou, ainda o Real Mártir não fora sepultado. Dois anos depois, a Coroa Portuguesa seguiu um e o Outro.
As reacções das gentes republicanas e pretensamente monárquicas a quem o crime aproveitou dizem tudo. Desde o soez mas generalizado grito «mataram o porco!» , ao aperto de mão aos cadáveres dos regicidas, de que fala Raul Brandão, até às romagens períódicas ao monumento erigido no Alto de S. João aos matadores da Rua do Arsenal, como relata Felix Correia em «Quem Matou o Rei D. Carlos!», tudo valeu, como solidariedade para com uma abjecção que só a sua idolatria iguala em mediocridade.
Hoje é, face à História, dia de lamentar um Rei e um Príncipe que, pela educação recebida, poderia ter sido um novo D. Pedro V. Os micróbios não deixaram prolongar o êxito Deste. Entes de dignidade inferior, mas perigo igual, evitaram a Reedição.
5 Comments:
At 10:53 AM, Anonymous said…
Essa foi a principal acção terrorista mas muitos outros atentados, incluindo atentados bombistas, foram perpetrados pela organização terrorista Carbonária a quem muitos, inclusive historiadores, insiste em apelida-la eufemisticamente de sociedade secreta.
É preciso que se diga com todas as letras (e eu tenho-me fartado de insistir nisso): a Carbonária era uma organização terrorista (como muitas hoje em dia e do género das FP 25)e o Partido Republicano Português era o seu braço político.
Infelizmente, isto é endémico no nosso país, nunca se chegou, até hoje, a perceber quem é que esteve de facto ligado ao atentado do Terreiro do Paço e quem foram os que o organizaram. Os únicos rostos visíveis do atentado foram os dos operacionais que acabaram mortos antes que massacrassem toda a gente ou pelo menos que matassem até se-lhes acabarem as munições mas ninguém teve ou tem dúvidas que eles não organizaram tudo e agiram sozinhos.
Nunca chegou a ser levada a cabo qualquer investigação policial e nem sequer chegou a haver julgamento. Como é que podia! Infelizmente há coisas que nunca mudam!
At 11:10 AM, Paulo Cunha Porto said…
É bem verdade, Caro Paulo. E aqueles a quem aproveitou o crime, como os que deles herdaram, insistem em menorizar, primeiro passo para desculpar, tão grave e repelente acção. Em nome de quê? Do próprio gosto que era mau; e da tomada do poder pelos seus, que foi péssima.
Um abraço
At 12:21 PM, Anonymous said…
Como popularmente se diz em Portugal, apenas mudaram as môscas, só que por môscas mais mesquinhas e movidas muito mais por interesses pessoais do que por interesses do Estado.
Nunca um regime se cananibalizou tanto em tão pouco espaço de tempo como a nossa vergonhosa 1ª República.
At 12:50 PM, Anonymous said…
Sobre atentados politicos "misteriosos": http://www.generacionxxi.com/dark_rub.htm
At 8:32 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro «Velho»:
é bem verdade, o ódio ideológico cegava de tal forma que foi período das piores atitudes, entre republicanos, inclusivé. O que é lamentável é que a III República não se demarque da percursora...
Obrigado pela sugestão, Caro Amigo.
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