Genealogia de Um Ódio
Como toda a gente dá a sua opinião sobre as caricaturas de Maomé e as profundidades do Islão, mais uma não deve fazer grande mal. Ora bem, os desenhos, de subtileza nula e traço banal, não são passíveis da acusação de incitar ao ódio. A sua fortuna radica na faculdade de reconhecimento que lhes advém de acontecimentos bem reais - os múltiplos atentados terroristas com origem em islamismos radicais. Os seus autores poderiam ter tido a cautela de dizer que não era aquela a sua concepção do Maometismo de hoje, mas a que detectavam nos sectores extremistas. De pouco lhes teria valido, para uma cultura em que a própria representação plástica do Profeta é tabu.
Quanto à guerra de civilizações, muito já foi dito. Porém ainda vejo mais um esclarecimento a acrescentar. O Islamismo fundamentalista dirigido como ódio ao modo de vida do Ocidente, ao próprio seio dele, teve a sua voga em países não-árabes: no Afganistão talibânico, ontem. No Irão dos Ayatollahhs, hoje. Como nas escolas islâmicas do Paquistão, ou no proibicionismo de importação de hábitos e produtos ocidentais nas zonas religiosamente revolucionadas da indonésia. O fundamentalismo no Mundo Árabe vivia, nos casos de maior sucesso, das preocupações da reforma de costumes no seu interior, como foi o caso da Argélia e está sendo no Egipto e no Iraque xiita. É, de alguma forma, uma concepção civilizacional no Islão radical extra-arábico, confrontado com uma outra, cultural, por parte dos seus equivalentes nos Países da Raça de Maomé. Daí que os intelectuais Árabes que fundaram a Al-Qaeda tenham procurado paragens diferentes das que os originaram, já que estas não os aclamaram, antes condenaram à morte. Tudo isto é como se presenciássemos uma tentativa de os elementos marginais do Universo Muçulmano se mostrarem mais maometanos do que o Povo de Maomé...
O perigo está em que a referência mude, como se teme que já esteja mudando; e que, passando a concitar os olhares árabes, os novos Guias lhes eliminem a tradicional relativização dos estados de guerra e o substituam pela sua pregação, ideariamente expansionista, de ódio puro. Aí sim, estaremos perante a Guerra das Civilizações. Onde somos bem capazes de já ter entrado.
5 Comments:
At 1:29 PM, SRA said…
eu acho que já entrámos em guerra há muito tempo...
At 3:13 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro SA:
Também eu o creio. Este meu "post" teve o intuito de separar as águas entre a resposta ao apoio americano/ocidental a Israel e o totalitarismo oposto ao nosso modo de viver. Algumas Vozes que muito estimo tendem a reduzir o segundo ao primeiro. E pretendi demonstrar como a realidade é mais complexa. Se é certo que entre os Árabes muita, embora longe de ser toda, da desconfiança provém dessa ideia, no restante Mundo Islâmico formou-se um novo complexo ideológico legitimador da hostilidade. Que está a tomar a dianteira, receio.
Abraço amigo.
At 3:25 PM, o engenheiro said…
Mon cherne
E vocênciaq já pensou que a oposição abstrusa dos que se não revêem na chamada civilização ocidental poderá ter mais a ver com os vecotres axiais de afirmação desta nos últimos séculos ?
Será que o estupidificante laicismo militante, a crescente negação de Deus e o rompante e omnipresente materialismo que caracteriza a tal civilização em que vocência se parece rever (do you remember B. Gates ?)não têm nada a ver com a embirração ?
Como diz o SA, a guerra já começou há muito tempo só que não foi bem entre quem ele pensa que foi...
By the way, já checkaste a propriedade do tal pasquim dinamarquês? Que raio de coincidência ser propriedade de judeus ? Logo agora que Israel prepara um ataque ao Irão (ou será ao Hamas ?).
'braços
At 4:08 PM, SRA said…
eu nem disse entre quem eram, caro engenheiro... e de facto se pensa que eu penso que é entre cristãos e muçulmanos, engana-se. como pode o ocidente cristão combater seja o que for quando as luzes arriunaram a nossa identidade?
e sim, não há fumo sem fogo e nem tudo o que parece é. as coisas acontecem por alguma coisa, e neste caso talvez para legitimar outras. quem sabe o "ataque" ao Hamas por parte de Israel. quem sabe a consequente aceitação generalizada da opinião pública desse mesmo ataque de forma a que este se estenda a todo o mundo judaico-cristão. quem sabe ainda fazer tudo isto com a ideia formada de que o choque de civilizações é entre cristãos e muçulmanos.
aliás, a verdadeira guerra está tão longe do cristanismo que da disputa de Jerusalem já desistimos há muito. e aquela guerra que os EUA efectuam, por não ser meramente económica é lavada a cabo por uma coisa que dá pelo nome de Novos Ordo Mundi, "manias" de maçons protestantes (o caso do Bush) e claro dos Judeus também eles maçons que invadiram os states.
At 6:46 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Engenheiro:
Sobre as razões de vazio religioso da civilização ocidental de hoje, veja-se o "post" que escrevi, aquando das bombas de Londres: «Nova Batalha de Inglaterra». Mas engana-se, julgo, quem não dê prioridade à defesa contra aqueles que, amanhã, nos podem atacar à bomba, em nome aversões ancestrais aos que inimigos deles são e não nos matam os vizinhos.
Meu Caro SA:
Concordo com muito do que diz, mas não com tudo. Israel não precisa de desenhadores medíocres para a atacar o Hamas ou qualquer outro movimento, conforme ainda se viu nesta semana...
Mas Vocelências não ligaram nenhuma ao principal tema do "post". A saber, que o islamismo radical de orígem não-Árabe, aquele que quer "islamizar" todo o mundo vivo, se está a espalhar, com o risco de se converter no manual doutrinário dos maometanos de hoje.
Abraços aos Dois.
PS: Só para o Engenheiro:
Se não retiras, publicamente, a comparação ao Zé Barroso, a vingança será terrível, com todo o destaque e rigor de que o misantropo é capaz...
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