A Concepção Pública da Cultura

É bem sabido que, desde que se substituiu o mecenato do Príncipe pelo subsídio dos Ministérios competentes, a protecção às Artes & Letras tem vindo a revelar-se igualmente dispendiosa, embora muito mais estéril. Mas serve para o Poder se tentar limpar das acusações de insensibiliidade e materialismo, bem como para os respectivos responsáveis construírem uma secção de troféus de caça, constituídos pelos intelectuais que se deixaram seduzir, ou, como dirão os mais impiedosos, comprar. Mas, por isso mesmo, o discurso oficial costuma ser melífluo. Salvo quando a crise aperta. Como na Roménia, na região de Vrancea, em que foram dadas aos funcionários públicos ordens para utilizar jornais e revistas em lugar de papel higiénico. Julgais porventura que se trata de algum tesoureiro obtuso, cioso da redução de custos pelos diversos pelouros, disposto a ignorar a dignidade dos bens culturais? Erro grave! O autor da inovadora medida foi, nada mais, nada menos, o responsável pelo Departamento de Cultura local. E para verdes como subordinados têm os chefes que merecem, a reacção mais acesa veio de uma das atingidas que... se indignou, por temer alguma infecção proveniente da tinta dos materiais impressos. Por aqui pára a cultura!