O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, January 18, 2006

O Eclipse Crítico

Com a qualidade literária a que sempre nos acostumou, contudo com a profundidade do pensamento embotada pelas preferências próprias, Eduardo Lourenço, um dos raros pensadores de jeito que a Esquerda portuguesa produziu, lançou hoje, via «PÚBLICO», um artigo desgraçado. De uma ponta à outra é uma idealização do que não parecia fadado para tais voos. Quis identificar o candidato da direcção do PS com a revolução de Abril, que não consta da extensa lista de más acções dele, pois, no reivindicativo movimento dos capitães, não meteu prego nem estopa. Faz suas as mágoas do candidato, por já não poder colar ao adversário a etiqueta que, vinte anos atrás grudou ao hoje seu quase correligionário Freitas do Amaral. E acaba por misturar uma invenção com uma verdade: diz que a verdadeira Direita não esquece que ele tenha lutado pela democracia; e que esta é muito mais gente do que se supõe. Partindo do princípio que o Ilustre professor me catalogaria e a Muitos Daqueles que estimo entre a «verdadeira direita», tenho de afiançar que, sabendo o político em questão um dos piores rebentos que a partidocracia produziu, nunca lhe reconheci às respectivas lutas coisa diferente do que a oportunidade na colagem aos triunfos que outros garantiram.
O cúmulo, porém, chega quando se refere a África. Diz que a tal famigerada Direita «É a mesma que põe na sua conta a absurda culpa de ter "perdido" uma África que ninguém "perdeu" senão ela.». Aqui se revelam os piores tiques do esquerdismo, que desaguam na hedionda abstractização negadora das autorias aos crimes. A mesmíssima mentalidade que diz que a culpa de um assassínio não é de quem o cometeu, mas da Sociedade. Aqui, a pobre África, que não foi tida, ou achada, é promovida a fautora da sua própria desgraça, qual escrava antiga que, capturada e vendida no mercado conveniente, fosse acusada de se ter escravizado. O acto de ter deixado de lutar por ela, Prof. Lourenço, foi absurdo, sim. A culpa correspondente de absurdo só tem a negação respectiva. Sei que quereria dizer que a África Portuguesa foi perdida por Obra e Graça do Espírito Santo. Vá lá, parou a tempo, talvez porque os resquícios do Catolicismo lhe tenham feito ver que o pecado contra Ele é o que não será perdoado.
O Prof. Lourenço tentou, com capacidade intelectual incomparavelmente maior do que a do seu protegido, trazer à baila o derradeiro truque que o poderia salvar. A invocação do espantalho de uma maldosa direita anti-sistema eternamente de tocaia. Erro crasso, vindo de miolos tão atestados e certificados. Essa Direita não é deste triste mundo. Sei-o porque sou um dos mais ínfimos dos seus adeptos. E, muito maioritariamente, não vota. Nem o seu artigo estará à altura das artes do Demónio que mudem o resultado.

13 Comments:

  • At 9:49 PM, Blogger Jansenista said…

    Estou mais preocupado se me dá a traça nos cortinados do que com as logorreias dessas duas aventesmas...

     
  • At 10:00 PM, Blogger zazie said…

    ora até que enfim que alguém diz o que me pareceu logo este artigo: uma grande treta! não se percebe a ponta de um corno e ainda consegui mificiar mais as ideologias "esquerda" /"direita" do que elas próprias. Aquela história de Alfarrobeira e o Poder sem reverso nem tem digo nada...

     
  • At 10:03 PM, Blogger zazie said…

    mas deixa lá que há quem se comova e até chore ao ler aquilo

    ":O)))

     
  • At 10:13 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Pudera, Caro Jansenista. As traças comem livros!

    Querida Zazie: venho agora mesmo de ver a Tua intervenção no «Espectro», a propósito. Alguns dos Teus interlocutores até são capazes de se comover com a coisa: o tipo de gente que anda na blogosfera e não conhece o «Cocanha». Mas para espíritos tão pouco selectivos as flores que referes até passam por profundas apreciações.
    E, atenção, eu acho que Lourenço é muito melhor do que esta paupérrima amostra dá a entender...

     
  • At 10:33 PM, Blogger Je maintiendrai said…

    O Lourenço foi bom foi... Deu-lhe a traça da idade. Ora ele que se deixasse estar quietinho em Vence a rever coisas interessantes que da pena já lhe pingaram como "O fascismo nunca existiu" ou o "Retrato Póstumo do nosso colinialismo inocente", publicado às postas na defunta revista "Critério" (lembram-se?).

     
  • At 10:34 PM, Blogger Je maintiendrai said…

    ... e, caramba, a moda dos snipes pegou!

     
  • At 10:52 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    E os mais célebres, o «Fernando...» e até «O Labirinto da Saudade», tendo muita coisa com que discordo, têm arte. Este artigo só tem manha.
    Abs.

     
  • At 12:49 AM, Blogger zazie said…

    "deu-lhe a traça da idade" ehehehe pois foi o que pensei: velho está ele a falar assim. Mas pronto, ainda não escreve à EPC
    mas vendo bem também não sei que mais se pode dizer perante um panorama tão déjà vu...

    Por acaso nem tinha reparado quem se comoveu e agora que lá voltei até fiquei com remorsos pelo que disse. Gosto muito da Alice Geirinhas. Até me apeteceu fazer publicidade ao blogue. Um dia destes vou ter de o fazer.

     
  • At 7:15 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    És Terrível!
    Hihihihihi!
    Beijocas

     
  • At 8:03 AM, Blogger Jansenista said…

    Quis a Providência, nos seus desígnios insondáveis, que com o correr do tempo esse plumitivo de St. Paul de Vence se tornasse cada vez mais parecido em termos de fisionomia com o homem de Santa Comba Dão. Acho que, para aquela mentezinha tortuosa, já é castigo suficiente (a a alma do outro há-de ralar-se muito...).

     
  • At 9:03 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Eo príorio conferencista-mor que o Prof. Lourenço é brinca, por vezes, com essa semelhança. Mas é mais do que patente que não sente grande à-vontade com ela.

     
  • At 10:32 AM, Blogger João Villalobos said…

    Excelente remédio, contra os bichinhos, são os tocos cortados dos charutos e colocados atrás dos livros. Não há melhor!

     
  • At 12:26 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Essa é nova! E u costumo usar pastilhas de cânfora, cijo cheiro aclo melhor do que o da naftalina. Mas vou experimentar.

     

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