O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, January 18, 2006

Leitura Matinal -241

Como se comprova pela correspondente imagem, já nem a decadência é o que era.
A rejeição do american way of life que vai sendo, afinal, também o que nos rodeia não deve despertar em nós o instinto do terrorista,
porque, para além das considerações morais, seria contraditório encarar como decadente uma sociedade e agir como um tontinho para lhe precipitar a queda, de cuja fatalidade se tem a noção. A parte final do poema de hoje, com a transferência do espírito do cocktail molotov para o olhar já é um princípio de vida. Mas ainda não é a postura recomendável, já que pôr-se verdadeiramente à margem é muito mais conseguido pela distância do sorriso, com a suplementar vantagem de ter o condão de,
quando notória, atiçar a queda. No resto, a aversão é igual. Seja à ausência de ética e de escrúpulos, seja ao consumo desenfreado em lugar da consumação, como definia Leon, levado ao ponto da entrega ao domicílio de sentimentos empacotados e de kits de pretensas religiosidades e espiritualidades várias que tapem os olhos e amorteçam os impulsos que poderiam levar à descoberta da Verdadeira Religião.
No fim, sendo ou não em nossos dias, o podre acabará por cair. Saibamos pois, sem a raiva dos impotentes, construir o nosso mundo a milhas do que reprovamos, ainda que na companhia dele. E se cá, ou Noutro Sítio, viermos a testemunhar a derrocada daquilo a que sempre nos recusámos a aderir, tenhamos a virtude suficiente para conservar o sorriso de sempre, em lugar de cair na gargalhada alarve, ou no gozo da ralé.
De Manuel de la Fuente Vidal:

AL MARGEN de vuestros electrodomésticos
de vuestros alicatados y microprocesadoser
al margen de vuestros alevines
que aprenden la lengua de Lord Byron
en Cincinatti o Minnesotta
al margen de vuestras hipotecas
vuestras declaraciones de la renta
al margen de vuestros automóviles
el ejemplo más puro bruto y neto
de una civilización que agoniza.

Al margen de vuestras minicadenas
vuestros vídeos
vuestros chalés adosados
vuestros sucedáneos del amor y del cariño
vuestros sucedáneos del sexo y la ternura
al margen de la página
en la que escrbís con borrones las horas y los días.
Al margen siempre de vuestros aquelarres
de vuestros conjuros monetarios y vuestras supercuentas
al margen al margen siempre de vuestras sudaderas
vuestras terapias de grupo vuestro squash vuestro aerobic
al margen de vuestros suplementos dominicales
vuestros atlas de cocina y carreteras vuestros fascículos
al margen de vuestras quinielas loterías bonolotos
vuestras esencias perfumes geles y cremas hipohidratantes.

Al margen
en ese esquinazo de la Historia
donde suda y resuda el género humano por su pan
allí bajo la lluvia
allí os espero
con una camisa a cuadros
y un puñado de estrellas
sonriendo en los bolsillos.

Al margen de vuestras rebajas y vuestras equaciones
vuestros insultos al pie de los semáforos
al margen de todos los masters de éste y otros mundos
al margen de vuestras lavadiras y vuestro despilfarro
biodegradablr biorrecomendable
al margen de vuestras pesadillas
(que ya sabéis son nuestros sueños)
al margen de vuestros seguros vuestras pólizas
al margen de vuestras agendas y dietarios
vuestra educacíon tan poco sentimental.

Al margen de vuestras estadísticas
vuestras hamburguesas vuestras barbacoas
al margen de vuestras camas de diseño
de vuestros manuales para hacer más y mejor la guerra
" " " para hacer más y mejor el amor.
Al margen de vuestros desayunos
uperisados y semidesnatados
de vuestros niños rubicundos y gigantes
atontados y neutros como californianos
al margen de las uñas que os pintáis
de las lociones que os poneis
antes de entrar con la lengua fuera
en los saraos de la madrugada
o vuestros viajes de luna de miel
all llamado por los optimistas Tercer Mundo.

Al margen
en un rincón de la vida o en sus alredores
allí bajo la lluvia
allí os espero
con mi viejo chaleco
con mis botas gastadas
el corazón alerta
y un fuego de molotov en la mirada.


Condimentada com ««Consumação, Não Consumo», de
John Leon, «Movimento da Metrópole», de Afroyn Beys
e «Decadência», de Louis Beraud.

9 Comments:

  • At 2:27 PM, Blogger Je maintiendrai said…

    Bravo! Belíssimo!

     
  • At 6:00 PM, Anonymous Anonymous said…

    Nem o Santayana resumiria tão bem a (falta) de alma americana.
    MCB

     
  • At 6:45 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Je Maintiendrai: não conhecendo o posicionamento ideológico do Autor, achei realmente que exprimia preocupações que nos são comuns contra um perigo ameaçador.

    Caro Miguel Castelo-Branco:
    O Santayana era, verdadeiramente, uma figura ímpar. Um dos pavores que tenho é ver a nossa juventude render-se a hábitos importados do cimema e da televisão. Se o consumismo, no sentido de servir-se sem valorização nem limite de bens perecíveis atinge o poder absoluto, do que já estivemos mais longe, é um fim. E não tenho certezas sobre a qualidade das reacções que fatalmente despertará!
    Abraços a Ambos.

     
  • At 7:54 PM, Anonymous Anonymous said…

    El abulense Santayana.....

     
  • At 8:11 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Era uma Grande Figura.

     
  • At 10:27 PM, Blogger Je maintiendrai said…

    Que saudades! El Abulense era também (com perdão pelo desvio gastronómico) um excelente restaurant junto à Plaza Mayor em Madrid... As natillas castellanas eram uma delícia!

     
  • At 11:13 PM, Anonymous Anonymous said…

    Amigo ignaciano: gastronomia abulense : alubias del Barco, Patatas revolconas,hornazo, caldereta....Salobral, La Colilla....todo ello regado con buen vino de Cebreros.....¡Boccato di Cardinale castellano....!

     
  • At 11:50 PM, Blogger Viajante said…

    Realço - sabe-se lá porquê! :) - aqueles «saibamos». Um desejo que é voto e é plural. E "sem a raiva dos impotentes, construir o nosso mundo a milhas do que reprovamos, ainda que na companhia dele."
    Quase dói de inveja o grau de clareza conseguido (risos)...

    Transformo o «tenhamos» em «saibamos ter», que a ideia é de protecção de si, na acção.
    Como: "saibamos ter a contenção de não dizer, eu bem disse".

    obrigada.

     
  • At 7:24 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Querida Viajante:
    Obrigado sou eu, pelo elogio imenso.
    A «clareza» que haja provém da... claridade intensa de um ambiente que desgosta, se não tivermos as cautelas de transformar as pungências em demarcação serena, embora firme.
    Mas isto é o mais fácil, desde que não se esteja ofuscado por cantos de sereia, tanto mais espúrios quanto a sereia dos nossos tempos só existe no sentido de apito, silvo, buzina.
    Nada tão apaixonante como os mundos interiores em cuja exploração Sois Mestra.
    Beijo.

     

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