Leitura Matinal -243
A arte de não se torturar pela dose de dor que, noutra altura, se poderia retirar da vida é coisa risível na medida em que advenha da cegueira, ainda
que duma cegueira proporcionada pelo saber. Porém, a ultrapassagem do estado de dependência da consecução das esperanças alimentadas a partir da ilusão criada por um único amor sincero - o de si - e dos sequentes reveses é estimável na precisa medida em que abre o espírito à aceitação, não do mal, mas antes do que é exterior
ao sujeito, permitindo até, porque de mais tempo psíquico se dispõe, pela diminuição da pressa, contrariamente ao externo que decresce em volume de sobrevivência perspectivada. E é deste terreno lavrado pelas lições do pensamento e
do conhecimento que rompe a crosta o caule da tranquilidade, culminando na folhagem que permitem respirar, tornando-nos disponíveis. Haverá ainda algo que reste para dar uso a uma receptividade enfim alcançada? É essa a grande problemática da felicidade ou infelicidade humana. Compreensão versus exigência. Compete a cada um avaliar o quão feliz é a voltaireana caricatura de Leibnitz. Mas podemos parar algures, antes de chegarmos a esse extremo...
De J. C. Bloem, traduzido por Fernando
Venâncio:
O RESIGNADO
Abro a janela e deixo o Outono entrar
O indizível, o tradicional.
E se um desejo tenho especial
É isso: amá-lo até tudo acabar.
Na vida havia bem pouco a ganhar.
Não r´sisto mais. Já nada me faz mal,
Se eu nessa velha dor universal
Dos biliões de extintos meditar.
Ser jovem é inquietude, são dementes
Suspiros por um caminho infindável,
E o isolamento, aí, é falha e dor.
Isso passou, como a vida tem repentes.
A solidão ganhou um lado afável.
Aliás: tudo pudera ser bem pior.
Alémde reconhecíveis representações da inquietude e
do Dr. Pangloss por entre o terramoto de Lisboa,
está a «Resignação», de Eric Poiturowski.
que duma cegueira proporcionada pelo saber. Porém, a ultrapassagem do estado de dependência da consecução das esperanças alimentadas a partir da ilusão criada por um único amor sincero - o de si - e dos sequentes reveses é estimável na precisa medida em que abre o espírito à aceitação, não do mal, mas antes do que é exterior
ao sujeito, permitindo até, porque de mais tempo psíquico se dispõe, pela diminuição da pressa, contrariamente ao externo que decresce em volume de sobrevivência perspectivada. E é deste terreno lavrado pelas lições do pensamento e
do conhecimento que rompe a crosta o caule da tranquilidade, culminando na folhagem que permitem respirar, tornando-nos disponíveis. Haverá ainda algo que reste para dar uso a uma receptividade enfim alcançada? É essa a grande problemática da felicidade ou infelicidade humana. Compreensão versus exigência. Compete a cada um avaliar o quão feliz é a voltaireana caricatura de Leibnitz. Mas podemos parar algures, antes de chegarmos a esse extremo...
De J. C. Bloem, traduzido por Fernando
Venâncio:
O RESIGNADO
Abro a janela e deixo o Outono entrar
O indizível, o tradicional.
E se um desejo tenho especial
É isso: amá-lo até tudo acabar.
Na vida havia bem pouco a ganhar.
Não r´sisto mais. Já nada me faz mal,
Se eu nessa velha dor universal
Dos biliões de extintos meditar.
Ser jovem é inquietude, são dementes
Suspiros por um caminho infindável,
E o isolamento, aí, é falha e dor.
Isso passou, como a vida tem repentes.
A solidão ganhou um lado afável.
Aliás: tudo pudera ser bem pior.
Alémde reconhecíveis representações da inquietude e
do Dr. Pangloss por entre o terramoto de Lisboa,
está a «Resignação», de Eric Poiturowski.
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